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ANY G

O banho quente foi incrível, a massagem ainda mais. Noah foi um doce, estava aumentando esse seu lado gradativamente, era notável. Nunca achei que ele pudesse agir assim, uma pessoa que era descrita por todos que o conheciam como sombrio, maldoso e estranho, mas que agora me tratava com tanto carinho nos olhos que nem parecia se encaixar nos padrões de psicopata. Mas claro que seus olhos mudavam quando ele desviava sua atenção para outra coisa que não fosse eu.

Noah estava obcecado – não apaixonado – por mim. Isso era perigoso, eu sabia que seria no mesmo instante em que me aproximei. Mesmo assim, tendo consciência de que não deveria, eu gostava da sensação de ter alguém me querendo tanto que poderia matar qualquer um por mim. Essa sensação nova de perigo me excitava e me fazia sentir viva.

Estávamos na sala, diminuímos as luzes e acendemos a lareira para começar a queimar as roupas de Ernest enquanto tomávamos duas taças de vinho. Vestíamos roupões pois havíamos acabado de sair da hidromassagem e eu estava sentada entre as pernas de Noah, deitada em seu peito. Eu diria que era uma bela cena romântica, com exceção da queima das provas de um crime.

— Sabe... Eu posso te confessar uma coisa? — eu disse ao quebrar o silêncio.

— O que quiser. — beijou a minha cabeça.

Ergui meu corpo para me sentar e girei para ficar de frente para ele, depois coloquei a taça de vinho sobre o a mesa de centro e olhei atentamente para aqueles olhos da cor do oceano que tinham as chamas da lareira os deixando ainda mais bonitos ao refletirem neles.

— Eu nunca me senti tão importante para alguém dessa forma. Você me trata como se eu fosse uma pedra preciosa.

— Você é preciosa. — acariciou meu rosto.

Soltei um suspiro contido.

— Você me faz sentir como se tivesse me reconectado com uma parte minha que estava perdida. E eu te amo por isso. — falei de uma vez.

O rosto dele pareceu congelar e eu achei que teria falado alguma bobagem, mas então ele me puxou e me beijou de um jeito que me fez ver estrelas.

— Eu te amo, Any. — falou após nos separarmos. — Eu te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo. — havia tanta sinceridade ali.

Aquela foi a noite mais tranquila que já passei dentro daquela casa. Se antes eu desejava queimar aquele lugar, agora eu queria transformá-lo em meu paraíso pessoal. Não se tratava do lugar e sim de mim.

Acordei no meio da noite para beber um pouco de água e deixei Noah dormindo no quarto. Depois de me hidratar, olhei para a porta que levava ao porão. Mais cedo eu tive receio, mas agora estava cheia de coragem e desejava dizer algumas coisas ao Ernest antes que ele estivesse surrado demais para entender qualquer coisa.

Abri a porta e desci as escadas. Ele estava acordado, olhava fixamente para a parede e respirava fundo.

— Insônia? — perguntei sarcasticamente, sentando-me na cadeira que Noah havia deixado de frente ao Ernest.

Ele não disse nada e só ficou me encarando.

— Sabe o que molda a personalidade das pessoas? — comecei a falar. — Há um leve fator genético. Podemos herder o temperamento dos nossos pais, trejeitos e até distúrbios psicológicos... Mas a maior parte da personalidade vem da convivência humana. Aprendemos observando os outros, reagimos à forma como somos tratados e criamos um padrão próprio, algo único e individual. Você me fez criar uma série de padrões ruins, Ernest. Eu virei uma ratinha medrosa, mal conseguia ficar sozinha nas primeiras semanas após o nosso divórcio. Depois disso veio a raiva. — respirei fundo. — E eu aprecio essa raiva. — soltei o ar devagar.

Reaper ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora