-Millie-Acordei cedo como de costume, meu pai batia na porta do quarto, gritando para que eu me levantasse logo. Hoje é o dia do meu casamento, se é que pode ser chamado assim.
Não estou nem um pouco ansiosa, apenas quero dormir e chorar, não sinto vontade de levantar da cama, e nem de ir comprar nada.
Mas tenho que ir, antes que meu pai arrume um problema para mim, e também ele costuma ficar muito estressado quando eu não o obedeço.
-já estou indo! -gritei de dentro do quarto, enquanto me levantava da cama.
Rezei para que estivesse menstruada, assim eu não teria que passar por tudo aquilo de lua de mel. Acho que seria remarcado o casamento. Apesar de que quando senti aquilo em mim ontem senti minha intimidade molhar. Não sei, acho que talvez eu até queira, mas me lembro da prisão que seria.
Mas não tenho muita escolha agora, estou presa nisso, graças a aquele maldito contrato que meu pai assinou sem o meu consentimento.
Tomei um banho rápido já que meu pai gritava e vesti um short jeans e uma camiseta, calcei uma rasteirinha e fui para a cozinha tomar um café rápido.
-vamos Millie! -Robert me apressou mais uma vez.
-ainda são oito horas da manhã! -gritei jogando o copo que estava na minha mão com força no chão.
-o que é isso?! -se mostrou revoltado.
-cala a boca! O casamento é meu, não seu, eu quem devo me apressar! -gritei exasperada.
-cale a boca você! -tentou gritar no mesmo tom.
-Ava ainda nem acordou, tenho que cuidar dela, mamãe não vai fazer isso, não vou deixar minha irmã pequena sozinha em casa!
-se atrase e será ruim para ela. -se sentou com raiva.
-não será não, acabei de achar minha condição, me casarei com Sadie somente se Ava puder ir também. -sussurrei para mim mesma enquanto pegava meu celular e discava o número daquela ruiva prepotente.
-oi, amor... -falou com arrogância.
-não sou seu amor. -neguei enquanto passava geleia em uma fatia de pão.
-eu acho que sim... -deu um riso contido do outro lado da linha. -e acho melhor você aprender a encenar com mais dedicação, a festa vai ser grande.
-não haverá festa se a minha irmãzinha não puder ir comigo. -lhe interrompi.
-está me chantageando? -perguntou rindo.
-não posso deixá-la aqui, meu pai não é responsável e minha mãe não tem condições de cuidar dela.
-certo, traga a pirralha. -deu de ombros. -precisa de dinheiro, vou mandar meu motorista levar cartões em sua casa.
-não quero o seu dinheiro. -falei grossa.
-não seja tola, Millie. -me cortou. -compre o vestido e vá ao salão. Grave tudo e poste nas suas redes sociais, como se estivesse feliz. -desligou na minha cara.
-filha da puta! -bati forte na bancada.
Ela pensa que manda em mim, como se eu fosse filha dela. Que ódio dessa mulher sem noção, chata, parece que tem um rei na barriga.
-Mimi! -Ava apareceu andando ainda desajeitada, penso que ela vai cair, meu coração fica na mão.
-Amor da Mimi! -peguei ela no colo, dando um cheirinho e a abraçando.
Agora me concentrei em cuidar dela. Ela tem uma rotina comigo, faço o papel de mãe com ela, o que é um absurdo já que não sou sua mãe de fato. Mas acredito que mãe é quem cria.
Dei a mamadeira a ela, enquanto comia meu pão. Depois fui para o quarto dela, Preparei o banho enquanto ela brincava dentro do berço e depois fui dar banho nela.
Depois a vesti com uma roupinha bem bonitinha e saí as pressas porque o interfone tocava desesperado. Quando cheguei na portaria, a ruiva estava parada encostada em um carro.
-o que está fazendo aqui? -perguntei indo até ela.
-estou apenas te esperando para conversar. -respondeu passando as mãos no cabelo.
-não há nada para conversar com você. -lhe ignorei começando a caminhar em direção à única loja de vestidos que tem aqui por perto.
-entre no carro, Millie. -mandou. -estou mandando entrar no carro! -repetiu e dessa vez me fez parar.
-vai me bater, sua descontrolada? -lhe olhei feio.
-você não vai comprar qualquer vestido. -revirou os olhos.
-vou comprar o que eu quiser. -revirei os olhos.
-entre na porra do carro! -se revoltou indo até a porta do motorista e entrando.
Me senti como uma cadela, indo até o carro e me sentando no banco de trás. O que me surpreendeu foi que tinha uma cadeirinha de criança instalada no bando de trás.
-é para a bebê. -falou séria.
Coloquei ela na cadeirinha, ao meu lado e fiquei calada pelo resto da viagem. Eu não estava nem um pouco feliz agora, com essa mulher citando meus passos mal consigo respirar.
Ela estacionou frente a um prédio enorme, todo branco, com uma faixa pequena, que indicava que ali era uma loja de vestido de noiva.
Quando entramos Sadie se apresentou, e uma mulher pegou a Ava do meu colo e a outra me segurou pelo braço, me acompanhando até uma sala no alto do prédio.
-sente-se aqui, logo a Loren chegará. -assenti.
Não sei porque mas este local me dá calafrios. E também me deixa preocupada com a minha irmãzinha que estava com aquela moça que nem ao menos me deu bom dia.
Afinal ainda era dez e meia da manhã.

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O Arranjo • Sillie
FanfictionOnde Sadie, herdeira de uma geração inteira, se vê obrigada a fazer um arranjo para ter um herdeiro de toda sua herança. Onde Millie é apresentada a sua nova esposa, por seu pai, em prol de oferecer uma qualidade de vida melhor para todos. ~Intersex...