Segundo Intervalo

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Eram fios e mais fios se enrolando dentro de placas e placas intermináveis, mas Striker já tinha aprendido a dominar o labirinto de informações que dominava aquela pequena cabeça de robô. Era o quinto e último teste que ele realizaria antes de pegar o avião para a América do Sul, digitou alguns detalhes nos painéis e foi tentando novamente.

― Qual o seu nome?

― Meu nome é Adrale I.

― Qual o significado do seu nome?

― Eu não sei.

― Você deveria saber, não deveria?

― Eu deveria. Mas eu não sei, o que torna inacessível uma resposta concreta.

Estava indo bem, até o momento. O robô não podia ficar muito tempo naqueles diálogos curtos, logo se adaptaria ao padrão de resposta. Tinha que haver uma espécie de variação antes do momento do paradoxo.

― Veja bem, você sabe o seu nome, mas não sabe o significado dele, mas isso lhe torna um ser ou um não ser? Pois se todos recebem um nome, qual seria o sentido de não saber seu significado?

― Isso me torna um ser, pois mesmo que tenha nome, eu preciso descobrir o significado de meu nome, não apenas sabê-lo ― Pronto! Agora era apenas uma questão de orquestrar o paradoxo.

― Mas você é um robô, quem lhe deu o nome?

― Eu não sei.

― Se não sabe quem é o seu criador, como poderá servi-lo?

― Eu não seiiii.

― Isso não lhe dá propósito, como poderia viver senão para servir?

― Eu... É. Ú. Nananão sssei.

― Então como pode ser um ser?

Foram quatro segundos de silêncio antes do cérebro explodir e as duas horas de dedicação de Striker valerem a pena, ao mesmo tempo, perdiam todo o sentido. O sorriso, de toda forma, não saía de seu rosto.

― Eu me formei nisso, como acharam que eu não conseguiria? ― perguntou ao advogado.

― Eu não duvidei que conseguia, duvidei que conseguia tão rápido, foi apenas um minuto e mesmo assim você conseguiu, não pensei que fosse tao fácil assim, digo, era um bom processador.

― Ser ou não ser é um paradoxo básico, era usado por soldados, sabia?

― Durante os conflitos robóticos?

― Sim, eu fui o primeiro a corrigir um, é muito simples, no final das contas.

― Como você o faz?

― Já leu Shakespeare? Pois bem, primeiro eu criei um diretório contendo todas as definições de existencialistas, mais as frases da peça Hamlet. Na história, um príncipe ergue um crânio e entra numa onda filosófica, o questionamento mais interessante consagrou o teatro. Na época em que ainda existia.

― E qual é a o questionamento?

Ele declamou, num tom rebuscado, segurando a cabeça do robô e a encarando fixamente: ― Ser ou não ser?. Isso faz o computador questionar sua existência antes mesmo de ser inicializado, se conseguir, está pronto.

― E no que isso leva?

― À resolução de que, se ele pensa, sua existência está comprovada como ser. Ele possui nome, ele possui cor e funciona, portanto não há dificuldades para que ele seja um ser. Descobri que meu empregador estava destruindo robôs usando esse teste, claro que não consegui publicar a pesquisa por fontes oficiais, e o mérito não pertence a mim, mas resolvi os problemas. Isso tudo, claro, considerando que sua função é simplesmente servir.

Caçada ReversaWhere stories live. Discover now