Fecham as Cortinas

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― Qual o seu nome? ― perguntou Connor, botando um chifre na pilha.

O advogado parou, olhou ao redor enquanto o Sol caía, ele precisava de um ambiente que lhe mostrasse a razão definitiva, sobre as estrelas, tanto a suprema amarela quanto os outros pingos estelares, ele a tinha: ― Eu não preciso de um.

Caçada Reversa, por Bruno Vitorino


O Advogado estava com pressa, muita pressa, pois colocou rapidamente o material em sua pasta e deixou o isqueiro em cima do livro, não precisava mais deles. A arma já tinha as seis balas colocadas e a primeira trava engatada, precisava de um pouco de calma e um pouco de tempo, mas o Inquisidor se aproximava, com todos os anos de busca revertidos a passos pesados.

Ele alcançou a porta, usava uma roupa da década de 30, camisa negra e calças largas, careca e sem barba. Não gostavam de pelos ou luxos em 2030, preferiam simplicidade e conforto, preferiam ser livres. O Advogado, primeiramente, riu de suas vestimentas.

― Nós vamos insistir nisso?  ― perguntou o Inquisidor.

― Eu já estou indo, Dubiis, não precisa se preocupar.

Ele sacou a arma, uma daquelas que usavam em 2030, o cabo espesso para um corpo nem tão grande, a inovação: tiros cronometrados por segundos para tiroteios e pente na parte superior do revolver.

― Tertius, acha que posso deixar você simplesmente ir?

― Eu sei que não pode, mas eu vou do mesmo jeito. Não tente lutar comigo, nós já tentamos isso antes e sabe como acabou, além do mais, se fizer barulho vai acabar chamando a atenção dos empregados. Portanto, fique quieto.

― Para onde vai?

― Ainda não pensei, acredito que rever o espaço, faz tempo que não vou pra lá. Mas nunca se sabe, dependendo da travessia posso ficar num Universo próximo, o que eu sei é que tenho que sair daqui.

― O que você fez dessa vez?

Tertius não respondeu.

― Vamos lá, não te disse que esqueci meu Pergaminho?

Tertius riu. "Idiota", ele disse. Pegou o livro, acendeu a ponta com o isqueiro e jogou na lata de lixo, voltou-se para Dubiis e explicou para ele, enquanto verificava se a arma estava funcionando.

― Eu matei Connor Striker. Fui eu quem orientou a mente dele a querer acabar com os robôs, ele voltou porque não tinha acabado com Aquiles ainda, na versão original seu embate foi bem mais dramático, ele fica várias vezes bem próximo da morte, depois escapa e descobre os planos de Wellington. Inicia uma vingança contra ele e se apaixona por uma brasileira, tudo muito bonito.

― Há quantos anos está aqui?

― Uma geração, apenas, nasci e vivi, mas acelerei um pouco até chegar aqui, o Eu Original não era tão esperto quanto eu, se formou com notas baixas e só foi empregado por ser filho do advogado de Douglas. Mas também não tinha nome.

― Por que fez a alteração? Pensa que suas brincadeiras salvaram a humanidade de seu fim?

― Sei que ela vai acabar, mas vai durar mais um tempo, ela vai morrer com esperança. Por volta do terceiro milênio descobrirá o Hiperespaço e iniciará as montagens das primeiras naves, quatro anos depois entra em guerra e se desfaz completamente. Sem mim e sem o martírio de Striker iríamos cavar nossa própria cova, em miséria e desgraça. Percebe? Eu fiz um favor ao ser...

― Vai para outra galáxia ou para outro Universo?

― Bem, primeiro pensei em verificar se ele está tendo uma boa vida, onde quer que esteja, mas acho que vou para o espaço, talvez voltar para a Realidade ou ficar vagando por aí, eu realmente queria voltar a entrar numa nave e viajar por entre as estrelas. Talvez eu até abandone meus poderes por um tempo e viva uma vida naquele Universo, escrevendo livros e sendo uma pessoa normal, escrever algo bem banal, alguns contos, alguns romances.

― Sobre isso, o Bardo acha que você está influenciando alguns artistas daquele Universo, isso é verdade?

― Por que acha isso?

― Um rapaz recentemente escrever sobre Supremacia.

― Bem, não tenho nada a dizer, criatividade é algo interessante, ainda mais para eles. Não tem almas errantes, se morrem eles morrem, sem fantasia e poucos acontecimentos marcantes. Sabia que o Buda deles era um cara comum? Mas se o Bardo conseguiu viver uma vida lá eu também consigo.

― Você admite? 

― Pois bem, agora tenho que ir, você está me atrasando ― pegou a arma e a encaixou na boca, tirou para falar algumas palavras ― Não quero que me chame mais de Tertius, não é um nome muito bom.

― Do quer que eu a chame, de Nemo?

― Não, para falar a verdade, me chame de... Me chame de Lector.

― Adeus, Lector, já sabe que esta é a última vez, não sabe?

Lector sorriu, voltou a encaixar o cano na boca e disparou, a bala explodiu seu cérebro e sua consciência reuniu-se às estrelas, partindo rumo ao Turbilhão onde ingressou sua essência a uma nova realidade. Procurou alguma onde alcançamos Estágio 8 e conseguiu uma humanidade no comecinho, nos seus primeiros passos, mas isso é outra história. Na verdade...

...São outras histórias.

Caçada ReversaWhere stories live. Discover now