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— 𝑨𝒏𝒚 𝑮𝒂𝒃𝒓𝒊𝒆𝒍𝒍𝒚 —
⁀➷ quarta-feira - 10.02.2021

— Já vai sair? - Silvio perguntou e eu assenti com a cabeça enquanto pegava nas chaves do carro. - vai almoçar na escola?

— mas que porra. - me virei para ele e larguei a minha mochila no chão. - porquê isso agora? Porquê tantas perguntas? Porquê um almoço com o Josh? Me explica! Você não pode virar pai em dois dias, depois de 19 anos! Nada disso faz sentido! Se você quer me matar, me mate logo. Acha que eu vou te impedir? Eu não vou!

— Onde está a sua mãe? - ele perguntou segurando nos meus braços sem usar força, apenas me mantendo aqui. -

Desviei o olhar e engoli em seco, a cada vez que penso na minha mãe, além da saudade aumentar, o ódio pelo meu pai também cresce mais dentro do meu peito.

— no hospital porque você tentou matá-la, e talvez tenha conseguido. - falei fria, tentando não demonstrar o quanto isso me quebra. -

— as vezes as pessoas aprendem com os próprios erros, eu precisei cometer vários até entender. A maioria deles eu cometi porque estava chapado, nem sequer me lembrava no dia seguinte. A sua mãe está no hospital por minha culpa, é verdade. E eu não gostei do resultado da minha atitude, tínhamos os nossos problemas e as nossas brigas, mas ela faz falta aqui em casa, eu só não queria aceitar isso.

— eu vou me atrasar. - falei sem estômago e sem cabeça para o ouvir agora, acabei de acordar, literalmente. -

— eu justifico. - ele me puxou para sentar no sofá e se sentou também. - isso aí também não me deixa orgulhoso.

Ele direcionou o olhar para a cicatriz na minha barriga e eu a cobri, baixando mais a blusa que é cropped porém com mangas por conta do frio.

— você está crescendo, um dia vai casar, vai ter filhos, vai ter uma vida fora desta casa. Não fui um pai para você mas queria ser um avô para os meus netos.

— Porquê isso? Porquê do nada?

— Um amigo meu, como você chama, Victor meu parceiro de bebida... tinha uma filha e ele fazia exatamente o mesmo que eu, até que um dia ele não precisou tocar na filha sequer, o medo dela foi suficiente para a matar, ela teve um ataque cardíaco e faleceu, na frente dele. - Silvio respirou fundo. - repensei as minhas atitudes por semanas. Eu faço as merdas e sei as consequências delas, e não quero voltar a fazê-las mas sozinho eu não vou conseguir controlar isso, Any.

arqueei a sobrancelha, não entendendo onde ele quer chegar.

— vou para uma clínica de reabilitação, mas só vou quando a sua mãe acordar, esse é o acordo.

— porque não vai agora? - perguntei ainda em choque pela informação. -

— embora você tenha o Josh, é nítido que ele está sobrecarregado, Any. E não te culpo, até porque a culpa é minha. Ele parece ser um ótimo namorado para você, e por isso está cansado, provavelmente fica preocupado com você o tempo todo e te protege mais do que aproveita o seu tempo livre com amigos e até com você. Não te vou deixar sobre o cargo dele, não é correto, ele é seu namorado, não é nem seu pai nem seu babá.

— tá bom. Não me peça para demonstrar algo, você me magoou para caralho, me obrigou a crescer e amadurecer como se com dez anos eu fosse a adulta, me fez chorar dia e noite, se eu citar as cicatrizes e ossos que já quebrei por sua culpa não sairemos daqui hoje.

Heartless feelings - beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora