Capítulo V

35 2 0
                                    

A previsão de Atanase estava correta, começou a chover na manhã seguinte, o céu escuro era clareado brevemente por alguns relâmpagos, o som de trovões se tornava cada vez mais próximo e o vento fazia as janelas tremerem, Evangeline estava em sua cama, encolhida, ela tinha medo de tempestade, tentava esconder a cabeça com o travesseiro macio, mas ainda podia escutar os barulhos.

Hans apareceu depois que notou que a jovem estava demorando demais, ele bateu a porta, mas não obteve resposta, assim adentrou o quarto e, vendo a moça de camisola branca encolhida, saiu, o idoso desceu para a sala de jantar, onde Atanase estava, e contou o que havia presenciado.

– O senhor deve ir até lá, mestre, é uma boa oportunidade – Comentou Hans, sério.

– Certo, vou tentar – O alto vampiro se levantou da cadeira e se retirou.

Atanase não era muito bom em ajudar as pessoas, nunca tinha sido, mesmo quando tinha Elise, ele simplesmente não sabia como agir quando alguém estava passando por um momento difícil. O homem subiu as escadarias, arrumando a blusa folgada, de babados no colarinho e de cor azul-claro por dentro da justa calça preta de couro, ele estava começando se vestir como homem novamente desde que fez a aposta com a humana, mas ainda usava suas joias: brincos, anéis e colares.

O vampiro estava planejando o que falaria para Evangeline, quando chegou diante da porta do quarto dela, bateu, mas não obteve resposta também, a moça se mantinha com a cabeça coberta e concentrada no som dos trovões.

– Evangeline? – Ele adentrou o aposento, encontrando a moça encolhida sobre a cama.

Ele se aproximou, com as mãos próximas ao peito, Atanase olhou e olhou para a humana amedrontada, depois tomou coragem e parou diante dela, ajoelhando-se.

– Evangeline, querida – O homem a tocou no braço.

A jovem se levantou, assustada, seu rosto estava encharcado pelas lágrimas e ela tremia como vara verde.

– Se-senhor... o que... está fazendo aqui? – Ela perguntou, secando a face molhada com as mangas da camisola.

– Você não desceu para tomar o desjejum, fiquei preocupado – O morto-vivo se levantou e sentou ao lado da moça.

Um forte trovão soou, fazendo com que Evangeline se assustasse mais ainda e se agarrasse no braço do vampiro, que ficou paralisado, a moça soluçou, só desejava que aquilo parasse logo, só queria uma chuva calma.

– Por... por que tem tanto medo? Não vai te machucar, está aqui dentro e o castelo é resistente, já resistiu a tempestades piores – Falou Atanase.

A humana apertou mais ainda o braço do homem, agora teria que responder aquela pergunta.

– O... Sr. Iohannes me... deixou do lado de fora porque eu não quis dormir com ele – Ela respondeu. – Era noite... estava chovendo como hoje... parecia que os raios caíriam em mim.

O vampiro encarou o topo da cabeça da jovem, veias negras e saltadas surgiram ao redor de seus olhos, que pareciam brilhar como fogo, ele cerrou os punhos, fazendo as juntas estalarem, não sabia o motivo, mas sentia a raiva tomar conta de seu corpo, há anos não se sentia daquela forma: fraco, incapaz de agir.

– Você... – Atanase hesitou, mas conseguiu colocar a mão sobre o cabelo de Evangeline. – Não precisa ter medo, está segura aqui dentro... eu não te deixaria na chuva.

A moça levantou o rosto, seus olhos brilhavam pelas lágrimas que se formavam, e agradeceu, o morto-vivo se perdeu por alguns segundos no olhar choroso da humana, depois retornou ao normal e afagou o cabelo dela.

– Vamos comer? – Perguntou o vampiro, aquilo já tinha sido sentimentalista demais para ele.

Evangeline assentiu e o soltou, secando o rosto, Atanase se levantou e ofereceu a mão para a humana, que aceitou e se levantou também, a jovem foi se arrumar e o vampiro a ficou esperando.

"Nada de sentimentos, não se apegue". Ele repetiu mentalmente.

A moça retornou, usava um vestido verde-escuro de mangas largas, tinha os ombros à mostra e o cabelo preso num baixo rabo-de-cavalo com uma fita escura, Atanase ofereceu a mão novamente e a oferta foi bem recebida por Evangeline, assim os dois desceram para a sala de jantar, a jovem estremecendo a cada trovão que ressoava nos céus, mas com um pouco mais de coragem para deixar seu refúgio.

A dupla tomou o café da manhã sob o olhar de Hans, que escondia a felicidade que sentia, ele acreditava que agora o mestre tomaria jeito de homem e encontraria uma companheira para ficar o resto da eternidade com ele.

Depois Atanase convidou Evangeline para ir até uma das salas, a moça concordou e o seguiu pelos corredores, o morto-vivo se pôs a caminhar do lado de Evangeline e passou o braço por trás da humana, colocando a mão sobre seu ombro e brincando com uma mecha do cabelo dela, a jovem corou, aquelas aproximações não eram boas, mas quando um trovão soou, a moça parou de pensar nisso e se aproximou do vampiro, segurando a blusa dele.

– Não precisa ter medo, eu estou aqui – Atanase colocou a mão sobre a orelha dela, puxando-a contra seu corpo. – Nada de ruim vai acontecer contigo, minha ovelhinha.

O coração de Evangeline estava acelerado, o vampiro era envolvente demais para ela conseguir se manter afastada, mesmo que ele fosse insuportável algumas vezes, ele ainda conseguia fazer com que a jovem precisasse lutar contra seus sentimentos, Atanase sorriu, ouvia perfeitamente os batimentos da humana, se continuasse assim, conseguiria conquistá-la.

Aos poucos, Evangeline conseguiu se acalmar, assim como os trovões, a moça ainda se mantinha perto de Atanase, que brincava com sua orelha.

– Está gostando daqui? – Perguntou o vampiro.

– Estou – A jovem demorou para responder.

– Você hesitou.

– É que...

– O quê? Está tudo bem se não gostar daqui, eu posso dar um jeito para que fique mais confortável, só não posso te tirar do serviço de fornecedora de sangue.

– Eu... entendo, o senhor precisa se alimentar.

– Não precisa me chamar de senhor, me chame pelo nome.

– Ce-certo.

– Vamos, chame meu nome – O morto-vivo parou, ficando de frente para a humana corada.

– A... Atanase – Ela falou com certa dificuldade.

O homem arregalou os olhos, não esperava que gostasse tanto de ouvi-la o chamando pelo nome, depois sorriu.

– Só mais uma vez – Ele pediu, chegando mais perto.

– Atanase – Evangeline estava vermelha de vergonha.

– Perfeito – A mente pervertida de Atanase já estava imaginando como seria ouvir a jovem gemendo seu nome. – Viu? Não precisa ter vergonha.

A moça assentiu, mas tinha certeza de que continuaria com vergonha por um bom tempo, o vampiro sorriu e se aproximou, ficando ao lado dela.

– Vamos continuar a caminhada? – Ele perguntou.

Shadow of the Moon (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora