From revenge to love [Intersexual}

The Identities

POV NARRADOR

Foi na segunda sessão de terapia que aconteceu pela primeira vez depois de tanto tempo. Amber Heart estava sentada na poltrona de frente para Camila, o dia lá fora era frio e nublado de forma atípica para aquela época em Los Angeles, a sessão havia começado há poucos minutos e poucas palavras haviam sido trocadas, mas desde que entrara naquela sala a psicanalista havia notado que Camila parecia diferente, totalmente distante, perdida em pensamentos.

Três dias haviam se passado desde o dia que haviam se conhecido mas doutora Heart havia lido e estudado o bastante do comportamento inicial de Camila para saber que algo estava diferente. Não havia mudança na forma de falar, nos trejeitos ou qualquer coisa do tipo, sabia que ainda era Camila que estava ali, mas a forma perdida que ela olhava para a especialista e como estava sempre perdida em um torpor momentâneo, eram indícios básicos para que Amber soubesse que ela estava prestes a dissociar.

– Então, soube que Lauren está viajando há alguns dias, como se sente com essa mudança de ambiente? - Heart questionou ainda com o olhar fixo em Camila.

Camila olhava para a mesinha de centro que estava entre elas com um interesse imenso, como se ali houvessem todas as respostas que buscava na vida. Era capaz de ouvir a voz de Amber ao fundo mas não conseguia focar, como se fosse apenas uma telespectadora em sua própria vida, Camila sentia-se cada vez mais longe em pensamentos, como se fosse puxada do palco de sua vida, para um dos lugares mais longes na platéia.

Amber notou rapidamente quando aconteceu, viu quando os olhos castanhos pensativos tornaram-se alarmados e vigilantes, observou quando ela olhou ao redor de forma calculista, como se estivesse arquitetando um plano de fuga. Quando as orbes castanhas pararam em si, Amber sabia que só tinha uma coisa a perguntar.

— Com quem estou falando agora? - perguntou de forma calma, já lidara com diversos pacientes com TDI, mas sentia-se animada por lidar com outra identidade que compunha Camila.

Ela olhou para a psicóloga de forma fixa, os olhos astutos deslizavam por todas as características da profissional, tentava achar nela qualquer indício de que aquela mulher apresentava algum perigo para si mas acabou sem achar nada. Não confiaria em Amber, isso era fato, mas tinha que reconhecer que ela não apresentava risco, ao menos no momento.

— Sou Kim Bourgh, doutora Heart. - o forte sotaque alemão fez com que a pele de Amber se arrepiasse. — Suas inquisições inicias deixaram Camila perturbada, não acha que seu método seja invasivo demais? Gostaria que me dissesse em qual metodologia se inspira.

Amber havia estudado tudo o que podia sobre Kim para saber que a garota embora tivesse apenas dezesseis anos, era extremamente inteligente e que sua timidez recolhia-se em um canto externo quando seu brilhantismo ficava evidente. Uma alemã com opiniões fortes e uma mente desenvolta para diversos assuntos, mas ainda assim apenas uma garota tímida e retraída quando deixado para trás a pose aristocrática.

— É um prazer conhecê-la, Kim. - Dra. Heart disse em um tom calmo. — Escolhi a psicanálise como metodologia ainda na faculdade, mas confesso que uso de outras vertentes quando trato pessoas com TDI, tudo depende do paciente em questão. Vocês ainda são uma incógnita para mim, por isso ainda não fechei uma linha de tratamento. Há algo que queira me recomendar?

Kim a olhou de forma longa e profunda, ouvira o bastante dos medos e incertezas de Camila para simplesmente confiar completamente naquela mulher, mas sabia que não podia ser realmente dura com ela. Amber Heart podia ser sua heroína ao mesmo tempo que tinha o poder de ser sua algoz, tudo dependeria da forma que fosse aceita.

— Camila não nos aceita e isso causa revolta entre nós, embora eu não possa realmente culpá-la por odiar sempre estar acompanhada, Karla se ressente dela. - O tom era calmo e controlado, Kim escolhia muito bem as palavras antes de dizê-las. — Mas pressionar Camila para que ela entenda que não somos inimigas ou qualquer outra coisa do tipo, não funcionará. Quanto mais a força, mais faz com que ela nos reprima, mais irrita Karla e mais magoa Maya. Não force Camila.