Forty-One

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Terça-feira, 30 de outubro de 2012 00h10

Estendo a mão até o rosto e enxugo uma lágrima. 

Nem sei por que elas estão escorrendo; a memória na verdade não foi triste. 

Acho que é porque foi um dos primeiros momentos em que comecei a amar SooAh. 

Pensar no quanto a amo me faz sofrer por causa do que ela fez. 

Sofro porque parece que nem a conheço. 

Parece que tem um lado dela que eu nem sequer sabia que existia.

No entanto, não é isso o que mais me assusta. 

O que mais me assusta é o meu medo de que o único lado dela que eu realmente conheço… talvez nem exista.

— Posso perguntar uma coisa? — diz JungKook, quebrando o silêncio.

Faço que sim com a cabeça apoiada no peito dele, enxugando a última lágrima da bochecha. 

Ele põe ambos os braços ao meu redor, tentando me manter aquecido ao sentir que estou tremendo no seu peito. 

Ele massageia meu ombro e beija minha cabeça.

— Você acha que vai ficar bem, Jimin? 

Não é uma pergunta incomum. 

É uma pergunta bem simples e direta, mas mesmo assim acho que é a pergunta mais difícil que já precisei responder.

Dou de ombros.

— Não sei — respondo com sinceridade. 

Quero pensar que vou ficar bem, especialmente sabendo que JungKook estará do meu lado. 

Mas, para falar a verdade, não sei se vou.

— O que o deixa com medo? 

— Tudo — respondo depressa. — Morro de medo do passado. Morro de medo das memórias que surgem na minha mente toda vez que fecho os olhos. Estou assustado com o que vi hoje e com a forma que isso vai me afetar nas noites em que você não estiver comigo para distrair meus pensamentos. Tenho medo de não ter capacidade emocional de lidar com o que pode acontecer com SooAh. Receio pensar que não faço mais ideia de quem ela é. — Levanto a cabeça do seu peito e olho nos seus olhos. — Mas quer saber o que mais me deixa com medo?

Ele passa a mão no meu cabelo e mantém o olhar fixo no meu, querendo demonstrar que está prestando atenção.

— O quê? — pergunta ele, com a voz sinceramente preocupada.

— Tenho medo do quanto me sinto desconectado de Jiny. Sei que somos a mesma pessoa, mas sinto como se o que aconteceu com ele não tivesse acontecido comigo de verdade. Sinto como se o tivesse abandonado. Como se o tivesse deixado lá, chorando naquela casa, apavorado por toda a eternidade, enquanto eu simplesmente entrava no carro e ia embora. Agora sou duas pessoas muito distintas. Sou esse garotinho que está sempre apavorado… mas também sou o garoto que o abandonou. Eu me sinto tão culpado por erguer essa parede entre as duas vidas e tenho medo de que nenhuma dessas vidas ou desses garotos possa voltar a se sentir completo.

Enterro a cabeça no peito dele, sabendo que é bem provável que eu não esteja fazendo o menor sentido. 

Ele beija o topo da minha cabeça, e eu ergo olhar para o céu, perguntando-me se algum dia serei capaz de me sentir normal outra vez. 

Era tão mais fácil não saber a verdade.

— Depois que meus pais se divorciaram — diz ele —, minha mãe ficou preocupada conosco, então colocou Jun e eu na terapia. Só durou uns seis meses… mas lembro que sempre fui muito rigoroso comigo mesmo, achando que tinham se divorciado por minha causa. Sentia como se o que eu não fiz no dia em que o levaram tivesse deixado eles dois muito estressados. Agora sei que a maior parte das coisas pela qual me culpava naquela época estava fora do meu controle. Mas meu terapeuta fez uma coisa uma vez que me ajudou um pouco. Na hora foi meio constrangedor, mas de vez em quando percebo que estou fazendo aquilo novamente em certas situações. Ele me fez visualizar a mim mesmo no passado, conversar com a versão mais nova de mim e dizer tudo que eu precisava. — Ele levanta meu rosto me fazendo olhar para ele. — Acho que você devia tentar isso. Sei que parece bobagem, mas é sério. Acho que pode ajudá-lo. Acho que precisa voltar no tempo e dizer para Jiny tudo que queria ter sido capaz de dizer no dia em que o abandonou.

Missing - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora