Seven

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Terça-feira, 28 de agosto de 2012 06h15

O alarme soa, e imediatamente penso em deixar para lá a corrida de hoje, até que lembro quem está me esperando lá fora. 

Eu me visto com a maior rapidez desde que aprendi a me vestir sozinho e vou até a janela. 

Há um cartão grudado na parte de dentro do vidro com a palavra “vagabundo” escrita com a letra do V. 

Sorrio, tiro o cartão da janela e o jogo na minha cama antes de sair de casa.

Ele está sentado no meio-fio, alongando as pernas. 

Está de costas para mim, o que é bom. 

Caso contrário, teria me visto franzir a testa ao perceber que estava de camisa. 

Ao escutar meus passos, ele se vira na minha direção.

— Oi, você. — Ele sorri e se levanta. 

Ao fazer isso, percebo que sua camisa já está encharcada. 

Ele veio correndo até aqui. 

Correu mais de 3 quilômetros até aqui, está prestes a correr mais 5 comigo e depois mais 3 para voltar para casa. 

Não consigo entender por que está fazendo tudo isso. 

Ou por que estou permitindo. 

— Precisa se alongar primeiro? — pergunta ele.

— Já me alonguei.

Ele estende o braço e toca minha bochecha com o polegar.

— Não está tão ruim — diz ele. — Está sentindo dor?

Nego com a cabeça. 

Ele realmente espera que eu verbalize uma resposta enquanto seus dedos encostam em meu rosto? 

É muito difícil falar e prender a respiração ao mesmo tempo.

Ele afasta a mão e sorri.

— Ótimo. Está pronto?

Solto o ar.

— Estou.

E então nós corremos. 

Corremos lado a lado por um tempo até o caminho se estreitar e ele passar a correr atrás de mim, o que me deixa incrivelmente constrangido.

Costumo me sentir bem solto quando corro, mas dessa vez estou atento a todos os detalhes, como o cabelo, o comprimento do short, cada gota de suor que escorre pelas costas. 

Fico aliviado quando o caminho fica mais largo e ele volta para meu lado.

— Você devia mesmo tentar entrar para a equipe de atletismo. — A voz dele está normal e não parece de jeito algum que ele já correu 6,5 quilômetros naquela manhã. — Tem mais resistência que a maioria do pessoal da equipe do ano passado.

— Não sei se quero — digo, ofegante e nem um pouco atraente. — Não conheço ninguém no colégio. Pensei em tentar, mas até agora a maioria das pessoas foi meio… malvada. Não quero ficar sujeito a eles ainda mais tempo por causa de uma equipe.

— Você só teve um dia de aula na escola. Espere mais um pouco. Depois de passar a vida inteira estudando dentro de casa, não dá para esperar que chegue no colégio e faça vários amigos no primeiro dia.

Paro imediatamente. 

Ele dá mais alguns passos antes de perceber que não estou mais ao seu lado. 

Missing - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora