Thrity Eight

80 18 9
                                    

⚠️

Segunda-feira, 29 de outubro de 2012 16h57

É a primeira lembrança que tenho de antes de todas coisas ruins começarem.

Minha única lembrança de antes de minha mãe morrer. 

Mas não consigo me lembrar da aparência dela porque a lembrança era mais um borrão, mas me lembro do que senti.

Eu os amava. 

Os dois.

Meu pai ergue o olhar para mim agora com o rosto tomado pelo sofrimento. 

Não sinto a mínima pena dele agora porque… quando foi que ele sentiu pena de mim? 

Sei que está numa posição vulnerável, e, se eu puder usar isso para conseguir arrancar mais coisa dele, então é o que vou fazer.

Eu me levanto, e JungKook tenta segurar meu braço, então olho para ele e balanço a cabeça.

— Está tudo bem — asseguro-lhe. 

Ele balança a cabeça e me solta relutantemente, deixando que me aproxime do meu pai. 

Quando chego perto dele, me ajoelho e olho em seus olhos cheios de arrependimento. 

Ficar tão próximo dele está fazendo meu corpo se retesar e a raiva se acumular dentro do meu coração, mas sei que preciso fazer isso para ele me dar as respostas de que preciso. 

Ele tem de acreditar que estou me compadecendo.

— Eu estava doente — digo, com calma. — Minha mãe e eu… nós estávamos na cama, e você chegou do trabalho. Ela havia passado a noite toda acordada comigo e estava cansada, então você disse que ela podia ir descansar.

Uma lágrima escorre pela bochecha do meu pai, e ele faz que sim com a cabeça sutilmente.

— Você ficou me abraçando naquela noite como um pai deve abraçar o filho. E cantou para mim. Lembro que costumava cantar uma música para mim sobre seu raio de esperança. — Enxugo as lágrimas dos meus olhos e continuo olhando para ele. — Antes de minha mãe morrer… antes de você ter de enfrentar todo aquele sofrimento… nem sempre fez aquelas coisas comigo, não é?

Ele balança a cabeça e toca meu rosto. 

— Não, Jiny. Eu amava tanto você. Ainda amo. Amava você e sua mãe mais que minha própria vida, mas quando ela morreu… o melhor de mim morreu com ela.

Cerro os punhos, recuando de leve ao sentir as pontas dos seus dedos na minha bochecha. 

Mas consigo aguentar e, de alguma maneira, mantenho a calma.

— Lamento que tenha passado por isso — digo com firmeza. E lamento mesmo por ele. Eu me lembro do quanto amava minha mãe e, independentemente de como ele lidou com o luto, meu desejo é que nunca tivesse precisado lidar com a perda dela. — Sei que a amava. Eu me lembro. Mas saber disso não faz com que seja mais fácil perdoá-lo pelo que fez. Não sei por que o que tem dentro de você é tão diferente do que existe nas outras pessoas… a ponto de se permitir fazer aquelas coisas comigo. Mas, apesar disso, sei que me ama. E por mais que seja difícil admitir… eu também amava você. Amava todo o seu lado bom.

Eu me levanto e dou um passo para trás, ainda fitando seus olhos.

— Sei que não é totalmente mau. Eu sei disso. Mas se me ama como diz que ama… se realmente amava minha mãe… então vai fazer tudo que puder para me ajudar a superar isso. Você me deve isso. Tudo que quero é que seja sincero para que eu possa ir embora daqui com um pouco de paz. É só por isso que estou aqui, OK? Só quero paz.

Missing - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora