Capítulo 6

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  Uma casa pequena com rachaduras nas paredes, alguns vidros quebrados nas janelas laterais que dão vista para rua, uma luz queimada na cozinha, uma goteira no teto da sala e um buraco mal coberto no forro do banheiro, o tom de amarelo escurecido está por todo lugar, acompanhado de um bege velho que divide a parede ao meio, o chão de madeira tem mofo em alguns cantos e parece que pode ceder a qualquer segundo, cada som produzido no cubículo ao lado do seu pode ser ouvido com perfeição, assim como o barulho dos demais hóspedes passando pelo corredor, em direção ao banheiro compartilhado.

As pessoas o olharam com curiosidade quando chegou até ali, com duas grandes bolsas pesadas em suas mãos e uma expressão perdida, preenchida por uma gota amarga de arrependimento - parte de sua atuação - e certa raiva brilhando no fundo de seus olhos. O velho que o recebeu estava comendo uma vasilha de kimchi, sentando em frente a um balcão de tamanho médio, babando para todos os lados feito um porco, sorrindo mesmo que estivesse com a boca cheia, olhando para seu corpo como se fosse um pedaço de carne em exposição, Yibo quis vomitar, mas apenas revelou e seguiu adiante, ouvindo o velho lhe dizer para subir ao último andar usando as escadas porque o elevador não funcionava a alguns anos, o lugar inteiro parecia estar caindo aos pedaços, as pessoas que moram ali estão longe de serem confiáveis, o observando através das frestas da porta como se fosse uma anomalia, esgueirando-se pelos cantos enquanto o olhavam andar em direção ao seu quarto, ele pode afirmar facilmente que se dormisse sem uma faca debaixo de seu travesseiro, acordaria morto no outro dia com uma bala em sua cabeça.

Yibo não quer estar ali, os poços de merda em que esteve durante algumas de suas missões eram mais digno do que essa pensão falida, escondida em um beco sem nome, mas esse é seu novo endereço, precisa se adaptar, como alguém que perdeu tudo e não tem mais escolhas, qualquer chance que ofereceram de ter um teto deveria ser recebida de braços abertos, esse foi o personagem que o escalão havia lhe dado, um garoto estúpido que teve uma vida ruim, caindo pelas suas próprias decisões tolas, ele claramente pode fazer algo como isso, bancar o ingênuo e viver nesse buraco até que esteja lá, ao lado de Xiao Zhan, entretanto está longe de gostar dessa situação.

— Mais um pouco e me dariam um papelão com alguns cobertores, para dormir na primeira lata de lixo que eu encontrasse — jogou suas bolsas sobre o colchão velho — Que merda de lugar é esse? — olhou ao redor — Pelos menos a porta tem tranca.

Seus dedos batem na mesa no centro da sala, suja, coberta de poeira como se aquele lugar não fosse limpo a anos, suspirando caminhou em direção a pia da cozinha, a torneira pingava sem parar, um barulho irritante se ele ficasse em total silêncio, momentaneamente deixaria daquele jeito, depois remendaria com um pedaço de fita até comprar uma nova. Deixou aquilo de lado e continuou rondando pelo seu novo quarto, nada de interessante para se ver além de mofo, poeira e lixos acumulados nos cantos mais escuros, cansado de suspirar em descontentamento voltou para sala, colocando suas mãos na altura de sua cintura.

— Merda, eu deveria sair e verificar a área — queixou-se — Não seja exigente, Blood Moon — falou para si mesmo — Já esteve em lugares piores, só faça essa merda ser rápida e voltará para casa logo.

Com mais uma olhada ao redor, deixou o quarto, seguindo pelo corredor ignorando os olhares em sua figura, desceu as escadas e sem sequer perder tempo com o velho síndico que o chamou, alcançou as ruas. Bares, pequenas lojas de conveniências, mercadinhos, bancas com comidas e pessoas zanzando para todos os lugares como formigas no ninho, ele pode ver algumas faces mais presentes em meio a multidão, alguns sorrisos confiantes e pequenas discussões em sutis trocas de olhares, a maioria homens que estão indo direto ao ponto certo, dialogando com todos aqueles que parecem ter uma importância mínima ali dentro, certamente alguns deles capangas de Zhan.

Aura - ZhanYi. Onde histórias criam vida. Descubra agora