Sabe qual a pior parte de saber que você está a beira da morte? Não somente ter passado perto dela ou gradativamente estar chegando até lá dia após dia, mas sim estar frente a frente com aquilo que pode e vai te matar? É não saber se tudo o que você fez até aquele momento valeu a pena. Bom, era nesse tipo de enrascada que eu estava. Sabe quando as pessoas dizem que perto da morte passa um filme pela sua cabeça? Pois é, por mais que rapidamente, essa porcaria acontece de verdade, tudo fica meio confuso e de repente você não tem estímulo nenhum. De tudo o que eu tinha passado, aquele foi de longe o momento mais tenso da minha jornada e olha que eu não estava nem na metade.
Já devia ser tarde da noite e o tenpo começou a ficar chuvoso, tanto quanto qualquer dia ruim poderia ser. Tinha tanta gente falando ao mesmo tempo, berrando e mandando me matar naquele navio, que o meu ouvido zumbia e a minha voz não conseguia achar brechas pra sair, e ainda assim se saísse, o que eu poderia dizer?? "Boa noite capitão! Como pode ver metade da sua tripulação tá morta, mas a culpa foi inteiramente deles por terem me atacado primeiro e sua por ter cagado todo o meu plano!"??... É, não ia rolar. Naquele momento meus pulmões doíam tanto segurando o pouco de ar que ainda me restava, que era difícil raciocinar, com medo de respirar um pouco mais fundo e acabar levando uma facada na garganta.
Eu não queria morrer, não mesmo! Não ali, não naquele dia e muito menos pelas mãos daquelas pessoas. Se eu tivesse que morrer seria tentando cumprir o meu propósito, o que me trouxe até ali e não no meio de um monte de carniceiros que sequer podiam ser chamados de gente. Meu coração se enchia de raiva de ao menos pensar que eu ia acabar morrendo ali mesmo naquele navio e por mais que meus olhos não entregassem redenção em momento algum, o meu corpo, tão fiel aos sentimentos humanos revelava o medo escondido por baixo da minha pele, tremendo embaixo daquela chuva que embaçava cada vez mais minha visão, que escorria pelo meu punho cerrado no punhal da faca em minha mão, que fracamente resistia pra mantê-la apertada no pescoço daquele homem na minha frente, enquanto sua própria adaga estava encaixada em minha jugular. Eu estava desesperada, meus batimentos estavam tão acelerados quanto descompensados e eu podia sentir o pulsar no meu pescoço contra a ponta afiada da lâmina que, por pouco, não estava rasgando a minha pele.
A cada segundo parecia que uma parte diferente do meu cérebro dizia "corre!", mas a pergunta que também circundava era: Pra onde? Eu estava sendo fortemente prensada contra a parede do convés pelo homem na minha frente, o qual mantinha perfeitamente a adaga empunhada em minha garganta sem ao menos piscar ou tremer, tão confiante quanto qualquer assassino que eu já tivesse visto, mantendo os olhos fixos nos meus, sem interrupções. Eu mal podia piscar. Minha coluna ardia, processando a força do impacto que eu havia levado contra a parede de madeira atrás de mim, meu estômago revirava ao ouvir os gritos de incentivo da tripulação atrás daquele homem, implorando pra que ele me despedaçasse li mesmo.
Haviam 7 homens mortos espalhados por todo navio e infelizmente eu não me sentia orgulhosa por ter dado conta de todos. Não era pra ter sido assim. Mesmo enfrentando 7 marmanjos, sendo alguns o dobro do meu tamanho, eu não consegui ver o último se aproximando. Foi tudo tão rápido. Ele desarmou cada coisa que eu carregava, uma espada, o ultimo revolver que tinha me restado e duas adagas maiores no cinturão, somente deixando a menor delas, a qual eu estava pressionando contra ele.
Durante o nosso breve combate, ao me empurrar contra a parede (sendo esse o único momento em que consegui me aproximar), uma das minhas mãos - a que não estava lutando com todas as forças para manter a faca em posição - permaneceu posicionada contra o estomago daquele homem, que aparentemente queria me atravessar contra a estrutura atrás de mim e a mesma força que eu aplicava pra afastá-lo, voltava em meu sentido com o dobro de resistência, pois a mão direita dele empurrava meu braço de volta para a parede. A chuva aumentava e meus pés começaram a escorregar no limbo que formava nas encostas da madeira, diminuindo o pouco de estabilidade que meu corpo havia firmado. Parecia que eu ia morrer ali.
Haviam 3 opções. Primeira e mais improvável: escapar milagrosamente bem, sem que a faca rasgasse minha pele e correr em direção ao que sobrou da tripulação, que provavelmente iria acabar com a minha raça, pois o pouco de força que havia me restado poderiam render no mínimo 5 passos longos, mas nenhuma luta sequer. Segunda e menos complexa, mas tão burra quanto: fugir ainda assim da lâmina em meu pescoço e pular o deck, me jogando contra o mar, o que seria tão idiota quanto a primeira opção, já que eles poderiam atirar qualquer coisa em mim para me acertar e eu provavelmente não conseguiria nem ao menos nadar, morrendo afogada na morte mais idiota da história. Terceira e última opção: me render e implorar por misericórdia, o que me fazia preferir as outras duas anteriores.
Que besteira... dois anos viajando por vingança, buscando algo que parecia impossível pra qualquer um com um pouquinho mais de juízo, desejando que cada noite de tristeza que eu passei pudessem ser resolvidas e apagadas com um banho do sangue de meu inimigo, o qual tirou tudo o que eu tinha. Dois anos tendo que comer o pão que o diabo amassou, pra encontrar o infeliz que arruinou minha família e quando eu estava tão perto daquilo, um erro idiota, o mais imbecil, me fez voltar à estaca zero e parar num navio diferente do qual eu tinha planejado – e para minha condenação – com a tripulação mais sanguinária que as histórias podiam recriar, no navio mais temido ao ser visto do porto de qualquer distância e, nada mais nada menos, frente a frente com Barba Negra, o capitão daquele matadouro.
E sim, era ele quem sem nem saber, iria por um fim no meu plano idiota de matar alguém que nem estava naquele navio. Se eu tivesse ao menos pensado melhor antes de improvisar na beira do porto eu não estaria nessa enrascada.
É, não tinha mais volta... acho que o que me resta é contar direito essa história desde o começo, certo?
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Ocean Eyes
FanfictionEsta história é uma fanfic baseada em Our Flag Means Death. A história se passa antes dos acontecimentos da 1ª temporada, tendo Barba Negra e sua tripulação como personagens centrais + personagens autorais ...