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Essa é a primeira noite do verão que eu sinto frio

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Essa é a primeira noite do verão que eu sinto frio.

Eu tenho uma toalha, uma toalha rosa claro e felpuda sobre meus ombros, uma das muitas do cesto que Susannah deixava em um cesto, no canto do quarto, que eu sempre uso e me serve muito para as vezes que eu nado no meio da noite. Quando eu preciso pensar, quando preciso não pensar em comida ou quando eu só preciso enfiar a cabeça em baixo d'água, simplesmente esquecer de tudo e deixar que a água me tire o fôlego.

Eu troquei de quarto, agora Belly tem o nosso quarto de infância só pra ela.

Em qualquer outra situação eu me incomodaria, eu me estressaria e imploraria para que meu quarto ficasse comigo, mas dessa vez foi diferente. Leyne está aqui, e Susannah disse que seria melhor se dormíssemos juntas no quarto de hóspedes, para que nós duas ficássemos a vontade juntas. Ela não mentiu, mas mesmo assim sei que vou sentir falta das paredes azuis com florais brancos, as marcas na madeira que eu e Belly fizemos na infância, e de mr.Blue, o pequeno pavão de pelúcia que tenho desde os quinze anos.

Eu acho que ninguém nunca me amou.
Eu consigo me lembrar de amar,
mas nunca de ser amada.

Eu nunca me relacionei com ninguém romanticamente. Eu nunca senti o poder de um sorriso acolhedor, de um beijo que realmente me gerasse sentimentos, ou borboletas no estômago, eu nunca me senti protegida, amada. Eu, Betty, tão bonita. É o que me diziam, me dizem, "Mas Betty, você é tão bonita, o amor atrai pessoas bonitas"

Eu poderia dizer que o amor do meu pai é o suficiente, ou que seu esforço para me amar e cumprir horas de trabalho por mim, são. Ou os resquícios do amor que minha mãe sentia por mim também, mas seria uma mentira, porque eu não me lembro, eu não consigo me lembrar de ser amada por ela, eu lembro dos momentos, da gentileza, dos seus caridosos olhos, mas eu era tão nova... Mesmo que eu me force, que eu me obrigue a me recordar, eu não me lembro do seu amor.

E eu fico me perguntando. Eu continuo, me perguntando, o que há de errado comigo, sabe? O que me impede de ser amada? Eu mesma? Meu físico, minha consciência, minha frieza, o que? Na igreja, diziam que o amor só é mesmo considerado amor depois que você ama Deus com todas as suas forças, e depois vem o amor próprio, e é só depois dele, que alguém vai te amar de verdade, sem que nada de errado. Cara, eu acho isso uma besteira de merda.

Mas também, eu me questiono se talvez eu seja aquele tipo de mulher, sabe? Aquele tipo que não vai se casar, o tipo de mulher que passa a vida inteira correndo atrás do amor, se debruçando em qualquer oportunidade, qualquer migalha de sentimentos, qualquer resquício da hipótese do que pode ser o amor pra poder se sentir preenchida temporariamente por uma falsa sensação de êxtase para que no final, se sinta sozinha.

Talvez morando em um quartinho alugado com dois cachorros da raça salsicha, tendo como melhor amiga, a amiga de infância de sua mãe morta, passando os finais de semana em casa e sendo uma boa tia desempregada pros futuros filhos de Con e Jere. Porque nenhum deles te escolheu pra passar o restante da vida.

ᴏᴜʀ ʟᴀsᴛ sᴜᴍᴍᴇʀ | tsitpOnde histórias criam vida. Descubra agora