Capitulo 10

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Ímola é uma comuna italiana da região da Emília-Romanha, província de Bolonha, com cerca de 64.348 habitantes. Era como se fosse uma pequena ilha, e tinha lugares muito bonitos e encantadores.

Atualmente, a cidade é conhecida como a casa do Autódromo Enzo e Dino Ferrari, onde corridas importantes, como a Fórmula Um San Marino Grand Prix, o Campeonato Mundial da Fórmula 3000 e outros importantes eventos esportivos são realizados desde a década de 50.

Foi nessa mesma pista, que Ayrton Senna faleceu, em todos os pontos daquele circuito existiam homenagens feitas ao homem, o que deixava Aurora extremamente para baixo, em alguns momentos até com pontadas raivosas em relação a tudo que seus olhos viam.

A quinta-feira teoricamente deveria ser um dia tranquilo na fórmula um. Não havia evento oficial de pista, mas era o momento onde os pilotos prestavam as entrevistas oficiais para a imprensa. 

A quantidade de pessoas se multiplicavam, andando para todos os lados, correndo e organizando as diversas demandas que a imprensa precisava.

Por causa de toda a tensão emocional que envolvia estar ali, desde que colocou os pés no circuito pela manhã, Aurora não saiu do motorhome.

Durante toda a semana anterior, e até na própria em que aconteceria o grande prêmio, todos os pensamentos de sua cabeça estavam voltados para aquele momento, o exato dia em que colocaria os pés naquela pista.

Aquela pista, onde há vinte e oito anos, seu pai colidiu na tamburello a curva sete, e perdia a vida. Eram tantos sentimentos girando dentro dela que não conseguia sequer organizar uma sequência para começar a entender o início deles. A única coisa que tinha total certeza era o quanto detestava aquele lugar e que jamais por si só desejaria colocar os pés naquele autódromo.

Era doloroso saber que o último suspiro de seu pai fora dado ali, bem naquele local onde em horas ela também estaria pilotando, era como caminhar sobre um local sagrado a ela.
E essa sensação de dor que cortava seu peito, era destruidora e capaz de sangrar o próprio coração. Um espeto que perfurava lentamente

Cada pedaço de seu corpo, a torturando em cortes profundos e precisos, e ela sangrava, e sangrava enquanto alguém parecia adorar assistir.

Crueldade.

Esse era o termo que poderia começar a definir os sentimentos.

Entretanto, estar ali fora uma escolha dela. Quando bateu no peito e decidiu que queria participar do automobilismo, estava ciente, ou pelo menos acreditou que estava, de tudo que envolvia e isso incluía caminhar sobre a poça de sangue do próprio pai.

Enquanto algumas lágrimas escorriam pelo rosto, um sorriso mínimo também o moldava, a incoerência do caos estava explícita. Doía não tê-lo, mas sentia-se privilegiada por ter a oportunidade de ter sido gerada por um homem incrível. Por ter sido embalada em braços de um amor tão puro que fazia as estruturas da racionalidade serem reduzidas a pó.

Estava na hora de cair fora dali e encarar a realidade do que a esperava.

Colocou-se de pé e foi até o banheiro lavar o rosto, aproveitou e soltou os cabelos deixando seus cachos soltos. Ela vestia a camisa da McLaren de mangas, o short era também branco e nos pés uma alpargata das havaianas, - sua mãe lhe presenteara em sua chegada com alguns pares, já que a mesma era uma amante incondicionavel.

Ajeitou os óculos no rosto e saiu do motorhome e com os inseparáveis fones de ouvido, caminhava lentamente. As duas mãos estavam dentro dos bolsos de alfaiataria do short, e uma leve brisa fazia seus cachos dançarem.

LEGADO - Lewis HamiltonOnde histórias criam vida. Descubra agora