A desgraça

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TRINTA DE NOVEMBRO de 2020 foi o exato dia em que Heeseung e Jake começaram a namorar, após se conhecerem em uma loja de brinquedos, porque o Lee gostava de colecionar bonecos de suas animações favoritas, e o Sim gostava de gastar todo o seu dinheiro em Lego. Consideravam isso mais uma terapia do que um simples interesse ou passatempo.

Descaradamente, após reparar no australiano mais do que deveria, passou a frequentar aquela loja mais vezes para tentar encontrar alguma forma de puxar assunto, porque estava curioso em conhecer a voz que aquele rosto bonito possuía, com um cabelo castanho que cobria suas sobrancelhas, mas não seus olhos, permitindo que ele notasse o quanto piscavam incessantemente sempre que ele encontrava uma nova caixa de Lego para sua coleção.

Era até ridículo como o tempo passava absurdamente rápido, principalmente quando não queríamos, porque Heeseung se recordava muito bem de que, anteontem, ele estava tentando conversar com Jake pela primeira vez sem gaguejar, ontem estava lhe entregando uma fina aliança de prata ao pedi-lo em namoro, e hoje estava completando três anos ao lado do garoto que ele tinha certeza de que era o amor de sua vida.

Nunca teve medo de crescer e conseguia lidar bem com esse fato, além de achar que sabia aproveitar muito bem cada momento ao lado de seu namorado, mas perceber o quão ligeiro o sol desaparecia não falhava em assustá-lo. O que o confortava era saber que não enjoariam um do outro tão cedo ou com facilidade, pois sempre encontravam uma atividade nova para realizar e eram fiéis um ao outro, o que os garantiria muitos outros anos juntos.

Além disso, Heeseung nunca procurou desesperadamente por um relacionamento como se sua vida dependesse disso, ou considerou que poderia enlouquecer se não casasse antes dos trinta, achava que tinha coisas mais importantes para se preocupar, mas ao conhecer Jake e ter a oportunidade de chamá-lo de namorado, o que mais se passava em sua mente era "céus, eu preciso que ele seja meu noivo".

O australiano também era assim, em partes, já que sempre imaginou como seria casar e, às vezes, até mesmo se sentia ansioso por isso, mas é engraçado como ele sempre pensava que se casaria com uma garota, e agora, não queria fazê-lo com mais ninguém que não fosse Heeseung, não conseguia imaginar um futuro onde não estivesse com ele.

Esse pensamento retornou quando viu o mais velho terminar de se arrumar em frente ao espelho, e foi incapaz de resistir à vontade de abraçá-lo por trás, afundando o rosto em suas costas para sentir seu cheiro. Heeseung era naturalmente cheiroso. O maior colocou suas mãos por cima das dele e ambos permaneceram em silêncio naquela posição, e, embora falassem um para o outro que se amavam quase o tempo todo, essas pequenas ações poderiam dizer por eles muito mais.

— Está pronto? — o Lee indagou baixo.

Demorou para se afastar do abraço após ouvir o menor assentir entre um murmúrio, mas não queria gastar muito tempo na fila de espera do restaurante que havia inaugurado recentemente, já que muitas pessoas curiosas iriam até lá experimentar as comidas do cardápio e avaliar tanto o ambiente quanto o atendimento, e Jake queria ser uma dessas pessoas, então Heeseung prometeu que iriam comemorar o aniversário de namoro lá.

Os dois rapazes saíram de casa e Heeseung foi o primeiro a subir na moto após entregar o outro capacete ao seu namorado, e deu partida apenas quando garantiu que seus braços estavam firmes ao redor de sua cintura. A viagem, até um certo ponto, foi tranquila, mas a vida pode ser imprevisível e age quando menos esperamos.

Como sempre há um sem noção para tudo nesse mundo, um motorista possivelmente alterado, ou apenas desatento, estava andando de carro numa velocidade muito maior do que era permitida para aquela rua, e acabou se chocando contra a moto que cruzava a esquina. O baque foi tão forte que os garotos foram arremessados, porém, Jake desmaiou no mesmo instante, e a última coisa que Heeseung viu antes de apagar também, foi o corpo alheio deslizando pelo asfalto, junto de alguns gritos de espanto que pediam: "chamem uma ambulância!".

chances • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora