Um sonho muito real

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PELA MANHÃ, FOI ainda mais difícil de abrir os olhos do que na noite anterior, e a sensação parecia como se alguém estivesse impiedosamente esmagando sua cabeça, mas o que lhe chocou mais foi perceber que não estava mais no quarto do hospital, e sim em seu próprio quarto, sem nenhum arranhão no corpo. Heeseung estava fisicamente curado, mas seu psicológico foi destruído de maneira inimaginável, pois não pensou que presenciaria a morte de seu namorado tão cedo.

Porém, enquanto tentava organizar a mente conturbada, Jake saiu do banheiro com o cabelo levemente bagunçado e o rosto inchado, revelando que ele dormiu durante muitas horas seguidas. Um sorriso foi tracejado em seus lábios ao perceber que o mais velho estava acordado, e não demorou para se aproximar e sentar sobre o colchão macio.

— Bom dia, dorminhoco. — revelou sua voz suave — Feliz aniversário de namoro, babe.

Heeseung falhou em tentar controlar suas expressões faciais e a vontade de tocar a bochecha do australiano com o dedo indicador, verificando se ele era real e não apenas uma alucinação projetada por sua cabeça, ou algo assim. Jake ficou confuso e soltou um riso baixo.

— É você mesmo? — o Lee ousou questionar.

— Até onde sei, sim. — arqueou a sobrancelha — Amor, 'tá tudo bem?

Demorou para concordar em um murmúrio, ainda que estivesse muito confuso com toda aquela situação, pois não fazia sentido ele ter visto com seus próprios olhos o corpo de Jake ser jogado para longe e receber a notícia de seu falecimento, para encontrá-lo vivo novamente no dia seguinte.

— Acho que só tive um sonho muito real.  — deu a explicação mais convincente.

O mais novo deu de ombros e acompanhou suas ações com o olhar, rastejando para fora da cama e indo até o banheiro para jogar água gelada no rosto, certificando-se de que estava bem acordado. Durante isso, ficou desejando que jamais tivesse outro sonho tão vívido quanto aquele, pois a sensação foi a mais horripilante que alguém poderia sentir, e lamentou por todos que já haviam experimentado ela na vida real.

Encarar Jake sentado na cama através do reflexo do espelho estava sendo o equivalente a encarar um estranho que entrou em sua casa enquanto ele dormia, mas o que lhe causou um sentimento ainda mais bizarro foi lembrar que a manhã anterior, antes do acidente acontecer, foi exatamente igual à que estava vivendo naquele momento. As mesmas roupas, a mesma expressão de Jake enquanto ele saía do banheiro e se aproximava, a única diferença é que antes Heeseung sentia que ele estava realmente ali.

— Você parece atordoado. — o australiano inclinou a cabeça para o lado, uma mania que ele tinha e o fazia parecer um filhote de cachorro — Como foi o sonho?

Só deixou o banheiro quando teve certeza de que estava pronto e suspirou antes de se sentar na cama novamente, incapaz de manter contato visual com o próprio namorado que, naquele dia, completava três anos ao seu lado e sentia-se culpado por isso, de certa forma. Não poderia começar a agir estranho com Jake apenas por causa de um sonho.

— Não quero falar sobre isso, desculpa.

Como o garoto doce e compreensivo que era, Jake apenas segurou as mãos frias de Heeseung com firmeza para esquentá-las, além de fazer um leve carinho utilizando o polegar para tranquilizá-lo, ajudando-o a lembrar que agora não estava mais preso em um sonho, aquela era a vida real e ele estava seguro.

Mesmo com um gesto tão simples, Heeseung conseguiu controlar um pouco os próprios pensamentos e relaxar um pouco, convencido de que o dia correria bem e nada poderia machucá-los novamente, até porque ele não permitiria que isso acontecesse e seria mais cuidadoso do que o seu eu dentro do sonho. Mas isso durou menos do que o esperado.

chances • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora