Depois da morte

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NÃO FOI COMPLICADO abrir os olhos ao acordar com o coração tão acelerado que ameaçava ser arremessado para fora de sua boca, mas estava dividido entre ficar aliviado por perceber que tudo não passou de outro sonho (ou melhor, pesadelo) muito real, ou confuso por acontecer a mesma coisa que no pesadelo anterior. 

Não compreendia a razão pela qual estava constantemente sonhando que seu namorado morria, mas torceu para que aquela fosse a última vez que se repetia, pois aquilo estava fazendo mal para sua saúde mental e arriscava afetar gravemente sua saúde física.

Olhando ao redor, conseguiu perceber que tudo estava exatamente igual. Mesmo quarto, mesmas roupas, mesmo Jake saindo do banheiro com um rosto que transparecia preguiça após dormir durante muito tempo. O mesmo se sentou próximo a Heeseung com um pequeno sorriso gentil antes de dizer algo que serviu para piorar a ansiedade do mais velho.

— Bom dia, dorminhoco. Feliz aniversário de namoro, babe.

Heeseung se recordava muito bem de tê-lo ouvido dizer exatamente isso dentro de seu pesadelo, e achou improvável a hipótese de ter conseguido prever o futuro para saber que seu namorado lhe diria isso quando acordasse de verdade.

— Hoje é dia trinta de novembro? — sentia-se meio perdido e viu a necessidade de perguntar algo estúpido.

— É? — soou mais como uma pergunta do que como uma afirmação — Não vai me dizer que esqueceu nosso aniversário, Hee.

— Não é isso. É que... — torceu o nariz ao arrastar os dedos pelas sobrancelhas, tentando assimilar aquela informação — Deixa 'pra lá.

O estrangeiro sequer tentou mascarar sua feição confusa, não estava acostumado a presenciar um comportamento duvidoso vindo de seu namorado. Diferente de seu sonho, Heeseung não se levantou para ir ao banheiro, apenas permaneceu sentado na cama para tentar digerir tudo que havia acontecido, enquanto Jake o observava tão curioso quanto preocupado.

— Você parece atordoado.

Aquela fala e a posição de sua cabeça foram recriadas. A clássica pose de filhote de cachorro que Jake costumava fazer e Heeseung apreciava agora estava o aterrorizando tanto que ele sequer conseguia falar, mas, no fundo, sua vontade era de se manter calado até que um sinal divino surgisse para lhe entregar uma explicação plausível do porquê aquilo estava acontecendo.

— Amor. — Heeseung o chamou — Eu sei que você queria muito conhecer aquele restaurante, mas se importa se formos a outro lugar essa noite? Prometo te recompensar por isso depois.

— Por que isso do nada?

— Jay foi àquele restaurante e reclamou muito, houve várias críticas negativas, e não apenas dele.

Obrigou seus neurônios a funcionarem para ajudá-lo a entregar a justificativa mais tosca possível, dizendo a primeira coisa que lhe surgiu na mente. Jay era exigente, mas sequer sabia que um novo restaurante foi inaugurado na cidade, então bastavam apenas alguns minutos de conversa com ele para Jake descobrir que Heeseung estava mentindo.

O menor torceu os lábios para expressar sua decepção, mas preferiu não confirmar as supostas reclamações de Jay sobre o estabelecimento e aceitou ser levado a outro lugar, um que nem mesmo Heeseung havia planejado, apenas queria se manter longe da rua que teriam de atravessar e do local que decidiram, durante semanas, conhecer.

Heeseung refez o ritual de conferir todos os cantos da casa e do quintal, além de listar mentalmente todas as possibilidades, tudo que ocasionaria uma noite traumática que levasse Jake à morte uma terceira vez. Já se sentia paranoico o suficiente para afirmar que arriscava enlouquecer, e sua respiração alta, olhos arregalados e dedos inquietos contagiaram Jake, que ficou igualmente nervoso, observando o mais velho andar para lá e para cá o dia todo.

chances • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora