Orações

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TALVEZ FOSSE VERDADE a teoria de que hospitais possuíam orações mais sinceras do que igrejas. Jake era cristão e costumava orar todas as noites para agradecer por ter o melhor namorado do mundo, um melhor amigo que estava sempre ali quando ele precisava e, acima de tudo, por estar vivo. Mas, sentado em uma das cadeiras da sala de espera do hospital, ele balançava incessantemente a perna para aliviar sua ansiedade.

Com as duas mãos juntas e a cabeça baixa, seus lábios suplicavam para Deus que tudo ficasse bem e que seu namorado acordasse logo. Estava depositando não apenas seu coração naquilo, mas também sua alma, para mostrar que não havia mais nada para desejar além de que Heeseung vivesse, porque ele merecia. Jake não queria perder o garoto que o fazia se sentir sortudo e o costume de vê-lo todas as manhãs.

Jay andava de um lado para o outro, mordiscando seu polegar, enquanto Sunghoon se mantinha sentado ao lado de Jake, batucando os dedos em sua própria coxa. O silêncio naquela sala e a movimentação do americano estavam o enlouquecendo, mas não tanto quanto não possuir notícias de seu namorado, que implorava para Dr. Choi trazer.

— Por favor, Deus. — o australiano sussurrava — Por favor, por favor, por favor...

Cerca de vinte minutos se passaram até Dr. Choi adentrar a sala com uma expressão indecifrável, algo que Jake abominava, pois nunca dava para saber se ele revelaria algo bom ou ruim. Ele imediatamente se levantou, aproximando-se antes que o mais alto o fizesse, e aguardou por qualquer mínimo sinal de melhora de Heeseung.

— Ele acordou? 

— Não. — reprimiu os lábios, vendo Jay se aproximar para escutar a conversa — Mas você pode ir vê-lo, o horário de visita foi aberto.

Sem dizer ou escutar mais nada, o australiano correu até o quarto em que seu namorado estava e se aproximou da cama, já sentindo que iria começar a chorar novamente. Não pensou que algum dia presenciaria aquela cena, de Heeseung desacordado numa cama de hospital, e sentiria a angústia de saber que ele estava entre a vida e a morte.

— Eu sinto tanto a sua falta, meu amor. — sentou-se na poltrona próxima dali e segurou a mão gelada do maior — Por favor, volta logo.

Não deu outra. Jake mordeu o lábio inferior e deixou algumas lágrimas escorrerem em suas bochechas quentes, sentindo-se doente por viver tudo aquilo que começou bem na data mais importante do ano. Fazia algum tempo que o Lee estava desacordado e às vezes sofria recaídas, o que perturbava a mente de Jake, com medo de que ele cansasse de lutar. 

Não desistia das orações, mas temia ouvir o barulho do monitor que ninguém que se encontrava na mesma situação gostaria de ouvir, indicando que os batimentos cardíacos de Heeseung haviam parado. Ignorando o que Jay falava a respeito disso, Jake evitava dormir apenas por precaução, pois queria estar acordado caso Heeseung abrisse os olhos novamente. Não queria perder a cena que tanto implorou para presenciar, além de que tinha pesadelos constantes toda vez que se rendia ao sono.

— Se estiver me ouvindo, — o australiano se inclinou para poder dizer baixo no ouvido dele — eu quero que saiba, Heeseung, que eu não pararia de tentar te salvar nem em um milhão de chances.

Não soube por quanto tempo ficou de cabeça baixa com os dedos trêmulos entrelaçados aos dedos paralisados de Heeseung, pois o tempo pareceu parar depois do acidente acontecer, e ser noticiado com o coma de seu namorado logo após acordar com uma dor de cabeça insuportável. Foram informações demais para Jake assimilar e ele começou a perguntar a Deus por que aquilo estava acontecendo com ele.

Ficar muito tempo naquele lugar estava o fazendo perder a sanidade, pois passou a acreditar nas besteiras que sua mente falava. Começou a se convencer de que ele era o culpado pelo acidente e pelo coma de Heeseung, porque foi ele quem insistiu para irem conhecer aquele restaurante no aniversário de namoro, e se ele não tivesse o feito, tudo estaria bem, e seu namorado não correria risco de vida.

Jake estava esquecendo de si, porque sua saúde também estava fragilizada e seu corpo apresentava sequelas do acidente, e isso não se limitava apenas aos machucados espalhados por sua pele, que necessitaram de curativos intensos e alguns pontos. Jay e Sunghoon sabiam que nem ele e nem Heeseung tinham culpa do que aconteceu, e esperavam que tudo voltasse ao normal o quanto antes para restaurar a paz de todos eles.

Os minutos e as horas não faziam sentido na mente de Jake, mas depois de chorar o máximo que podia, sentiu uma leve movimentação que não vinha de si, e isso o fez levantar imediatamente a cabeça. Os dedos enfraquecidos de Heeseung batalhavam para se mover, isso antes que ele começasse a abrir lentamente os olhos.

O estrangeiro emitiu um som de surpresa e se levantou tão rápido que sua pressão caiu, obrigando-o a apoiar a mão livre nas grades de proteção que rodeavam a cama. Tornou a suplicar, dessa vez mentalmente, que o mais velho acordasse e mostrasse que estava bem, mesmo com tudo que havia passado, porque aquilo provaria o quanto ele era forte e não desistiu em nenhum momento.

Mesmo com as lágrimas interruptas, Jake sorriu ao perceber que o olhar de Heeseung se virou em sua direção. Sua vontade era de abraçá-lo como se nunca mais pudesse, mas precisou contê-la, e envolveu delicadamente o corpo alheio com os braços. O maior não tinha mais aquele cheiro que ele era viciado, agora ele tinha cheiro de hospital, mas a sensação de sentir seu abraço continuava a mesma, e sabia que jamais mudaria. Era como voltar para casa após um dia exaustivo, ou após muito tempo viajando pelo mundo.

— Eu sabia, eu sabia! — a voz do mais novo falhou — Eu sabia que você voltaria 'pra mim.

Não esperava que Heeseung fosse respondê-lo, mas ficaria muito contente se ele conseguisse ouvi-lo e compreendê-lo. Ele ainda estava imóvel, capaz de mexer somente os olhos, e Jake não sabia por quanto tempo ele permaneceria daquele jeito, mas pelo menos ainda estava respirando e, agora, acordado.

Jay e Sunghoon tiveram o prazer de presenciar essa cena que aguardaram tanto quanto Jake, e se aproximaram para abraçar Heeseung também, na esperança de que, mesmo imobilizado, ele ainda pudesse se sentir feliz ao ver que seus amigos e seu namorado não o abandonaram mesmo naquela situação delicada, embora o australiano tivesse sido o único que não saiu do hospital por um único segundo sequer.

— Obrigado, Deus. Obrigado, obrigado.

Dessa vez, ao invés de chorar de desespero e implorar, Jake chorava de felicidade e agradecia.

chances • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora