Loop temporal

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ACORDOU ASSUSTADO PELA terceira vez, mas era difícil distinguir se estava nervoso por ter o mesmo pesadelo e por acordar no dia trinta de novembro novamente, com tudo exatamente da mesma forma que estava acostumado, ou irritado pela repetição. Na verdade, sentia-se exausto e não sabia o que fazer para fugir daquele ciclo torturante.

Já sabia o que iria acontecer, então, antes que Jake saísse do banheiro com uma expressão sonolenta e se sentasse ao seu lado na cama, repetindo aquelas mesmas frases que já havia decorado, ele mesmo se levantou e correu até o espelho, encarando seu próprio reflexo como se visse um monstro imprestável, inútil até para salvar seu próprio namorado.

As bolsas escuras sob seus olhos denunciavam suas más noites de sono e sequer se esforçava para esconder que estava enlouquecendo de verdade. Parecia um morto-vivo, com a boca pálida, o cabelo bagunçado e a pele brilhando devido ao suor. Pelo visto, falhar continuamente em sua única tarefa ocasionava essa exaustão, mas não conseguia evitar ser aprisionado pelos seus pesadelos impiedosos.

Esfregou as mãos no rosto visivelmente acabado com força, não teve misericórdia de si e agiu no impulso quando deixou alguns tapas em cada bochecha, obrigando-se a sair daquele pesadelo interminável de uma vez, pois aquilo lhe custaria toda a sua sanidade, se é que ainda havia um resquício dela. Seu desespero era tão grande que ele se rendeu para fazer algo que odiava: implorar. Heeseung implorou baixo para seja lá quem estivesse ouvindo, que o deixasse voltar a viver normalmente, sem precisar ser atormentado pelas paranoias e ser cauteloso para evitar que seu namorado morresse no fim do dia.

Estava começando a se convencer de que viveria o resto dos seus dias suportando a dor de perder aquele que mais amava. A única solução era aproveitar o dia o máximo possível, e temer o entardecer. Heeseung entrava em pânico após o sol se pôr, porque sabia o que aconteceria dentro de algumas horas. Não queria aceitar que aquilo continuaria acontecendo, talvez, para sempre, mas era sua única alternativa, caso ele quisesse aprender a lidar com a dor.

— Essa dor será útil um dia. — sussurrou para si.

— O quê?

Ouvir a voz de Jake o fez pular de susto, e por culpa daqueles malditos pesadelos, estava começando a temer seu próprio namorado. Vê-lo pela manhã após presenciar sua morte na noite anterior era como ser perseguido por uma assombração. Ele daria a si o prêmio de pior namorado do mundo por pensar daquela maneira, mas ver o australiano não o confortava mais, e sim o apavorava como nenhum filme de terror jamais faria.

— Desculpa, não quis te assustar. — o menor coçou a própria nuca — Pensei que ainda estava dormindo.

— Se arruma. 

— Hum?

— Se arruma. — pediu novamente — Nós vamos para a casa do Jay.

— Quê? — uniu as sobrancelhas em desentendimento — Por quê?

Heeseung não lhe deu nenhuma explicação, mesmo sabendo que era inadequado passar o aniversário de namoro na casa de seu melhor amigo sem ao menos avisá-lo, e ignorar a vontade de Jake de levá-lo para conhecer o restaurante recentemente inaugurado (já sabemos o motivo). Estava sendo um pouco rude, mas não tinha tempo para se arrepender disso, até porque já sabia o que aconteceria no fim do dia, e não era algo bom.

Não gastou muito tempo no banheiro, apenas jogou um pouco de água gelada no rosto e agarrou o pulso de Jake, arrastando-o até a casa do americano, ignorando que ambos ainda estavam de pijama e isso atraía os olhares de outras pessoas enquanto andavam pelas ruas. Se bem que, se ainda estivesse preso naquele pesadelo, poderia até sair pelado na rua se quisesse, pois nada disso seria real e as pessoas criadas por sua mente não lembrariam disso.

chances • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora