7 NO MEIO DO CAOS

1.6K 15 11
                                    

NA RUA

O GAROTO ME olhou com uma mistura de empolgação e incredulidade. Ele era um jovem fuzileiro, ansioso, porém endurecido pelo combate que havíamos travado na semana anterior.

— O senhor quer ser um atirador de elite? — perguntei. — Agora mesmo?

— Sim, porra! — respondeu ele, enfim.

— Ótimo — comentei ao passar a Mk-11 para o moleque. — Me dê a sua M-16. Fique com meu rifle. Vou entrar pela porta da frente. E, dito isso, fui até o esquadrão que vinha trabalhando com a gente e disse que iria ajudá-los a atacar as casas.

* * *

NO DECORRER DOS últimos dias, os insurgentes tinham parado de sair para lutar conosco. O índice de mortes das vigílias caíra. Os bandidos estavam ficando dentro de casa porque sabiam que, se saíssem, atiraríamos neles.

Eles não desistiram. Em vez disso, resistiam no interior das construções, onde emboscavam e lutavam contra os fuzileiros nos cômodos pequenos e corredores apertados. Eu via muitos dos nossos homens sendo levados para fora, tratados e evacuados. Já havia algum tempo, eu andava com a ideia de ir à rua, até que enfim decidi levá-la a cabo. Escolhi um dos soldados que ajudavam a equipe de atiradores de elite. Ele parecia ser um bom garoto, com muito potencial.

Parte do motivo para ir à rua foi que eu estava entediado. Mas a principal razão era que eu achava que poderia proteger melhor os fuzileiros se estivesse junto. Eles estavam entrando pela porta da frente daqueles prédios e sendo mortos. Eu via os fuzileiros entrarem, ouvia tiros, e no instante seguinte eles retiravam alguém de maca porque o cara tinha acabado de levar um tiro.

Aquilo me deixava puto.

Adoro os fuzileiros, mas a verdade é que esses caras nunca foram ensinados a tomar um cômodo como eu fui. Não é a especialidade deles. Todos eram guerreiros cascudos, mas tinham muito o que aprender sobre conflito urbano. A maioria era coisa simples: como segurar o fuzil ao entrar num cômodo para dificultar que alguém pegue a arma; para onde se dirigir lá dentro; como combater em 360 graus dentro de uma cidade — coisas que os Seals aprendem tão bem que podemos fazer com o pé nas costas.

O esquadrão não tinha um oficial. O graduado de maior patente era um segundo-sargento dos Fuzileiros Navais. Eu era um terceiro-sargento, logo abaixo da patente dele, mas o sujeito não teve problema em me deixar controlar as abordagens. Vínhamos trabalhando juntos havia algum tempo, e acho que eu já ganhara certo respeito. Além disso, ele também não queria que seus homens levassem tiros.

— Olha, eu sou um Seal, e os senhores são Fuzileiros Navais — falei para os caras. — Não sou melhor do que os senhores. A única diferença entre nós é que eu passei mais tempo me especializando e treinando neste tipo de coisa. Deixem-me ajudá-los.

Treinamos um pouco durante o descanso. Dei alguns dos meus explosivos para um dos integrantes do esquadrão que tinha experiência com o material. Fizemos um pequeno ensaio sobre como arrancar fechaduras. Até aquele momento, os fuzileiros possuíam tão poucos explosivos que, na maior parte do tempo, só derrubavam as portas, o que, obviamente, levava tempo e os deixava mais vulneráveis.

Com o fim do descanso, começamos a invadir.

NO INTERIOR EU FUI NA FRENTE.

Enquanto esperava do lado de fora da primeira casa, pensei nos caras que vira sendo retirados.

Eu não queria ser um deles.

No entanto, eu poderia ser.

Foi difícil tirar isso da cabeça. Eu também sabia que estaria numa enrascada fodida se fosse ferido — descer às ruas não era o que eu deveria fazer, ao menos não do ponto de vista de um oficial. Sem dúvida, era a coisa certa — o que eu sentia que precisava fazer —, porém deixaria o comando muitíssimo puto.

Sniper AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora