14 Em casa e fora da marinha

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SAÍDA À FRANCESA

FUI EMBORA NO fim de agosto. Como sempre, foi quase surreal - um dia, eu estava na guerra; no outro, estava em casa. Eu me senti mal por partir. Não queria contar para ninguém sobre a pressão arterial ou qualquer outra coisa. Fui o mais discreto possível.

Falando francamente, me senti um pouco como se estivesse abandonando meus companheiros e saindo à francesa, fugindo porque o coração batia esquisito, ou seja lá que diabos ele estivesse fazendo.

Nada do que eu havia realizado podia apagar a sensação de que estava decepcionando meus homens. Sei que isso não faz sentido. Sei que realizei muitas coisas. Eu precisava de um descanso, mas sentia que não deveria descansar. Achei que deveria ser mais forte do que era possível.

Para piorar as coisas, parecia que alguns remédios não me fizeram bem. Ao tentar me ajudar a dormir, um médico de San Diego receitou uma pílula. Ela me apagou - tanto que, quando acordei, eu estava na base sem me recordar de ter malhado em casa e dirigido até lá. Taya me contou que eu me exercitara, e eu sabia que tinha ido até o trabalho de carro porque a caminhonete estava lá.

Nunca mais tomei aquele remédio. Ele era sinistro.

TAYA:

Levei anos para entender algumas coisas. Aparentemente, Chris só quer sair e se divertir. Mas, quando as pessoas precisam mesmo dele - quando há vidas em jogo -, ele é o cara mais confiável. Chris tem um senso de responsabilidade e dedicação diante das circunstâncias.

Eu vi pelas promoções nas forças armadas: ele não ligava. Não queria a responsabilidade da patente mais alta, mesmo que isso significasse um sustento melhor para a família. No entanto, se um trabalho precisasse ser feito, lá estava Chris. El e sempre aceitará um desafio. E estará preparado, porque antes já pensou a respeito.

Era uma verdadeira dicotomia, e acho que poucas pessoas compreendiam. Eu mesma tinha dificuldade em me conformar às vezes.

PROTEGENDO AS PESSOAS

ENQUANTO ESTAVA EM casa, eu me envolvi num programa científico bem interessante, relacionado a estresse e situações de conflito.

A experiência usava realidade virtual para testar que tipo de efeitos o combate tem sobre o corpo. No meu caso específico, eles monitoravam a pressão, ou pelo menos essa era a medição que de fato me interessava. Usei um capacete e luvas especiais enquanto via uma simulação. Era basicamente um videogame, mas ainda assim bem maneiro.

Nas simulações, a pressão e a frequência cardíaca começavam estáveis. Então, assim que entrávamos num tiroteio, elas caíam. Eu só ficava sentado ali e fazia tudo o que precisava fazer, bem à vontade.

Assim que a simulação acabava e a situação estava calma, a frequência cardíaca simplesmente disparava.

Interessante.

Os cientistas e médicos responsáveis pela experiência acreditam que, durante o calor da batalha, o treinamento assumia o controle e me acalmava, de alguma forma. Eles ficaram bastante intrigados, porque aparentemente nunca tinham visto aquilo.

Claro que eu tinha vivido aquilo todo dia no Iraque.

* * *

HOUVE UMA SIMULAÇÃO que me causou uma forte impressão. Um fuzileiro levava um tiro na barriga e morria gritando. Enquanto eu observava a cena, a pressão disparou ainda mais do que antes.

Eu não precisava de um cientista ou médico para me dizer o que era aquilo. Eu era capaz de sentir aquele garoto morrendo outra vez no meu peito, em Falluja.

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