12 Tempos difíceis

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EM CASA PEGUEI UM VOO militar fretado, primeiro para o Kuwait e depois para os Estados Unidos.

Por causa dos trajes civis, dos cabelos mais compridos e da barba, me perturbaram um pouco, pois ninguém conseguia entender por que alguém que ainda estava na ativa tinha permissão para viajar em trajes civis.

O que, em retrospecto, é meio engraçado.

Desci em Atlanta, depois precisei passar mais uma vez pela segurança para continuar. Levei alguns dias para chegar tão longe e, quando tirei as botas, juro que meia dúzia de pessoas na fila ali perto desmaiou. Acho que jamais passei pela segurança tão rápido.

TAYA:

Ele nunca me informava sobre o grau de perigo de uma situação, mas depois de um tempo passei a sentir que conseguia perceber os sinais de Chris. E, quando ele me disse que seria levado pelos companheiros num comboio, só a maneira como Chris me contou me deixou com medo, não somente pelos homens, mas por ele. Fiz algumas perguntas, e as respostas cautelosas me indicaram o grau de perigo da extração.

Eu tinha muita certeza de que, quanto mais pessoas rezassem por Chris, maiores seriam suas chances. Então, perguntei se poderia ligar para os pais dele e pedir que orassem.

Chris disse que sim.

Depois indaguei se poderia contar o motivo, sobre a volta para casa e o perigo na cidade, e ele respondeu que não.

Então não contei.

Pedi que as pessoas rezassem, fiz alusão ao perigo e não dei mais detalhes, só supliquei que confiassem em mim. Sei que era difícil de engolir, mas eu tinha muita certeza de que elas precisavam rezar - e, ao mesmo tempo, eu precisava respeitar a vontade do meu marido sobre o que seria compartilhado. Sei que não foi uma atitude legal, mas achei que a necessidade de oração anulava a necessidade de ser legal.

Quando ele chegou em casa, pareceu tão estressado que estava alheio a tudo.

Foi difícil para ele dizer com precisão o que sentia a respeito de qual quer coisa. Chris estava simplesmente esgotado e entorpecido.

Fiquei triste por tudo por que ele havia passado. E me senti péssima por precisar de Chris. Eu precisava, tremendamente. Contudo, tive que me virar sem ele por tanto tempo que desenvolvi uma postura de não depender de Chris ou, pelo menos, tentar.

Talvez não faça sentido para ninguém mais, porém eu passava por uma estranha confusão de sentimentos que percorria toda a gama de emoções. Eu estava muito irritada com Chris por ele ter deixado as crianças e a mim sozinhas. Eu queria que ele estivesse em casa, mas também estava irritada.

Eu estava encerrando um período de meses de ansiedade pela segurança de Chris e de frustração por ele ter escolhido voltar à guerra. Eu queria contar com meu marido, mas não podia. A equipe podia, e completos desconhecidos que por acaso estivessem nas forças armadas também, mas as crianças e eu com certeza não podíamos contar com ele.

Não era culpa de Chris. Ele teria estado em dois lugares ao mesmo tempo se possível, mas não dava. Mas, quando Chris pôde escolher, ele não nos escolheu.

Enquanto isso, eu o amava e tentava dar apoio e demonstrar amor de todas as maneiras possíveis. Eu sentia quinhentas emoções, todas ao mesmo tempo.

Acho que senti uma raiva oculta durante todo aquele desdobramento. Tivemos conversas em que Chris notava que al go estava errado. Ele perguntava o que me incomodava, e eu negava. E, quando me pressionava, eu dizia: "Estou irritada com você por ter voltado para aí, mas não quero odiá-lo. Sei que você pode ser morto amanhã. Não desejo que se distraia com essa situação. É melhor não conversar sobre isso." Agora ele enfim estava de volta, e todas as emoções explodiram dentro de mim, felicidade e raiva, tudo misturado.

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