2 COMO UMA BRITADEIRA

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BEM-VINDO AO BUD/S

—NO CHÃO! Cem flexões! AGORA!

Mais ou menos 220 corpos caíram no asfalto e começaram a subir e descer. Todos usávamos uniforme camuflado de combate e capacetes recém-pintados de verde. Era o começo do treinamento do BUD/ S. Estávamos destemidos, empolgados e nervosos pra cacete.

Íamos levar uma surra e estávamos adorando.

O instrutor nem sequer se deu ao trabalho de sair do gabinete dentro do prédio, que ficava pertinho dali. A voz grave, ligeiramente sádica, atravessava o corredor com facilidade e chegava ao pátio onde estávamos reunidos.

— Mais flexões! Quero ver quarenta! QUA-REN-TA!

Meus braços ainda não haviam começado a arder quando ouvi um assobio estranho. Ergui os olhos para ver o que era.

Fui recompensado com um jato de água na cara. Alguns dos outros instrutores haviam aparecido e estavam tirando nosso couro com mangueiras de incêndio. Quem fosse burro e olhasse para cima levava um jato de água.

Bem-vindo ao BUD/S.

— Abdominais! VAMOS!

* * *

BUD/ S É O CURSO de introdução pelo qual todos os candidatos devem passar para se tornarem Seals. Atualmente, é ministrado no Naval Special Warfare Center, em Coronado, Califórnia. Começa com a "Indoc", ou Doutrinação, feita para apresentar aos candidatos o que será exigido. Três fases vêm a seguir: treinamento físico, mergulho e guerra terrestre.

Com os anos, surgiram vários documentários e histórias sobre o BUD/S e o rigor do treinamento. Quase tudo o que dizem sobre ele é verdade. (Ou, ao menos, grande parte. A Marinha e os instrutores amenizam um pouco o tom para a transmissão nacional de reality show s e outros programas de TV. Ainda assim, mesmo a versão mais leve é bem verdadeira.)

Essencialmente, os instrutores lhe dão uma surra e depois batem mais um pouco. Quando terminam, acabam com a sua raça e, mais uma vez, dão uma surra no que sobrou.

Acho que você entendeu.

Eu adorava. Odiava, desprezava, xingava... mas adorava.

CADA VEZ PIOR

LEVEI QUASE UM ano para chegar àquele ponto. Eu havia entrado na Marinha e me apresentado para o treinamento básico em fevereiro de 1999. O treinamento foi moleza. Eu me lembro de ligar para meu pai em dado momento e dizer que era fácil comparado com o trabalho no rancho. Isso não era bom. Entrei na Marinha para me tornar um Seal e encarar um desafio. Em vez disso, engordei e fiquei fora de forma.

Veja bem, o treinamento tem como objetivo preparar a pessoa para ficar sentada dentro de um navio. Eles ensinam um monte de coisas sobre a Marinha, o que é bacana, mas eu queria algo mais parecido com o treinamento básico dos Fuzileiros Navais — um desafio físico. Meu irmão entrou para os Fuzileiros Navais e saiu do treinamento bem durão, em plena forma física. Quando eu saí, provavelmente teria sido reprovado no BUD/ S se tivesse entrado direto. Desde então, a Marinha mudou o procedimento. Agora, há um campo de treinamento separado para o BUD/S, com mais ênfase em entrar em forma e mantê-la.

O treinamento dura mais de seis meses e é extremamente exigente em termos físicos e mentais; como já mencionei, a taxa de desistência pode passar de 90%. A parte mais famosa do BUD/S é a Semana Infernal: 132 horas sem parar de atividades físicas. Alguns dos exercícios foram mudados e testados com o passar dos anos, e imagino que continuarão evoluindo. A Semana Infernal permaneceu, em suma, sendo o teste físico mais rigoroso e provavelmente seguirá sendo um dos pontos altos — ou baixos, dependendo da sua perspectiva. Quando eu estava lá, a Semana Infernal aconteceu no fim da Primeira Fase. Mas falarei sobre isso mais tarde.

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