A fogueira

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Eu já vivi muitas vidas, já caminhei por lugares nessa terra, que hoje não passam de lendas. Já andei por estradas desertas e também já marchei ao lado de exércitos... Já trilhei caminhos como uma benção e como uma maldição. Já atravessei fronteiras como uma presságio de paz e outras levando todo o ódio da guerra.

Mas eu também já tive uma casa, já tive um lar de onde não quis sair. Já tive uma lareira e um prato de sopa quente me esperando no final do dia. Já tive risadas infantis preenchendo os cômodos da casa e um corpo quente para me aquecer a noite. Uma rede de pescar velha para jogar nas águas do fiorde e um garanhão robusto para alimentar e cavalgar pelas montanhas geladas. Mas isso já faz muito tempo... tanto tempo que nem as lembranças restaram direito. Elas se perderam na nevoa, foram levadas para longe pela brisa do mar e sufocadas pelo esquecimento que é a angústia de viver inúmeras vidas, sem nunca estar completo.

A rede de pesca jogada à beira do fiorde já não existe mais. Da antiga casa pequena, mas confortável, não existem nem mais as ruínas. As risadas sumiram no vento e a cama ficou fria, muitos anos antes da estrutura ruir.
O homem que eu era, não existe mais. Há apenas A Besta, existe apenas Dor, tédio e violência...

Porém não é assim que essa história começa. Pelo menos não é assim que eu quero começar a te contar a minha história. Eu quero te falar do homem que eu fui, do pai, marido e líder que eu me orgulhava em ser. Quero que se sente ao meu lado nessa fogueira, forasteiro, e escute o relato desse andarilho que a muito tempo perdeu o seu propósito. Não se preocupe, não vou matá-lo. Ao menos não se você for um bom ouvinte...

The IslanderOnde histórias criam vida. Descubra agora