POV - BEATRIX
Eu corria sem me preocupar com os galhos que puxavam a minha capa e vestido. Uma vez ou outra, ao passar por entre árvores mais antigas, o tecido vermelho da capa se prendia à madeira seca e se rasgava, mesmo assim eu continuava a correr. A cada segundo, a floresta ia ficando mais escura, mais fechada e a sensação de não estar só me atacou. Ainda assim, eu corria sem me virar, porque o que estava abandonando era pior do que qualquer coisa que pudesse encontrar à minha frente. Meus olhos azuis já ardiam, implorando para que as lágrimas parassem. As pernas doíam de tanto correr. O antigo templo abandonado nunca pareceu ser tão longe. A fumaça e os gritos ficavam cada vez mais distantes, encobertos pela floresta, dando lugar a um barulho tranquilo de riacho e mata. E como se tivesse sido trazido pelo som, as ruínas do templo de Freya apareceram a minha frente, o lugar exalava uma sensação de paz e tranquilidade, mas eu sabia que essa paz não era real, não podia ser...
O templo era uma construção rústica de madeira e fora abandonado a tanto tempo, que a vegetação praticamente tomou conta de todo lugar. Paredes, chão, teto... E até mesmo a ponte que cruzava o rio levando a entrada da construção, como se o inverno nunca chegasse ali, tudo fora coberto pela grama verde e pequenas flores azuis. Um presente de Freya, para esconder a vergonha dos homens.
Olhando em volta, me deixei passear pelas lembranças que tinha dos dias felizes da infância, de quando vinha com minha mãe aqui, acender velas e fazer sacrifícios para que a deusa perdoasse a transgressão que é abandonar um templo. Eram dias felizes aqueles, eram dias de sol e flores azuis. As lembranças eram tão tocantes e vividas em minha mente que eu nem me lembrei de procurar por minha mãe nos arredores do templo. Tudo o que ue queria era ser transportada para aquelas lembranças e aqueles dias felizes.
Mas um rosnar baixo e distante me trouxe de volta à realidade e a sensação de não estar só atacou novamente, fazendo-me correr para dentro do templo. Parte do teto havia caído com os maus tratos do tempo, mas as pesadas portas de Carvalho ainda se mantinham em pé e se mostraram resistentes quando a empurrei para abrir caminho. Dentro do templo também havia flores azuis, porém o cheiro era diferente. Cheirava a flor, sangue podre e cachorro molhado, chegava a ser engraçado o cheiro. Será que algum lobo perdido havia se escondido no templo? Olhando em volta corri para me esconder atrás da mesa de sacrifício. Uma mesa feita de pedras adornadas por runas que ficava no meio do altar. Tinha sido usada tantas vezes para honrar os deuses que o cheiro de sangue velho e podre ainda se fazia presente na Rocha. Eu me deitei embaixo da mesa, ficando oculta pelo apoio dela de modo de quem quer fosse adentrar ao salão não conseguia me enxergar ali. Segurava com tanta força a adaga de prata, que as pontas dos meus dedos já estavam brancas. Contrastando com o vermelho dos meus olhos que se recusaram a parar de chorar. Eu fiquei embaixo da mesa, chorando e rezando aos deuses por tanto tempo que já não sabia se era dia ou noite lá fora, se tinham passado horas ou dias. Tudo o que eu conseguia pensar era em não fazer barulho e não ser pega, não fazer barulho e não ser pega, não fazer barulho e não ser pega, não fazer barulho e...
Um barulho interrompeu o meu mantra me assustando e fazendo com que eu abafasse um grito de susto.
Latidos, rosnados e o arranhar de garras tomaram conta do local. Parecia que uma briga de lobo sanguinários estava acontecendo do lado de fora próximo ao templo. E eu me perguntava quais os tamanhos dos animais, deveriam ser enormes pelo barulho que faziam. Mas meus pensamentos foram interrompidos pelo ranger da porta se abrindo e passos apressados ecoando pelo santuário. Talvez fosse alguém fugindo dos lobos, mas isso não importava pra mim. Quem quer que fosse poderia ser um inimigo e eu não iria facilitar para o acaso. Prendi a minha respiração e segurei ainda com mais força a adaga junto ao corpo.
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The Islander
VampireSempre há um lugar vago, ao meu lado, em volta da fogueira para todos os andarilhos de coração angustiados e mente curiosa que cruzam o meu caminho nessa longa estrada da vida. Eu já vivi mais vidas do que gostaria, já tive mais perdas que qualquer...