900 ANOS ANTES
Território conhecido atualmente como Finlândia.
O Deus Uller estava benevolente no inverno daquele ano. Estávamos na metade de fevereiro e a temperatura e a neve, que deveria estar mais densa e pesada naquela época do ano, estavam muito mais amenas e tranquilas. O clima tranquilo e agradável beirava o verão e a neve caía como confetes divinos saudando seus devotos. Principalmente naquela manhã.
Ah, aquela manhã. Não importa quantos séculos eu veja, quantos homens eu mate e muito menos quantas vidas eu tenha... nada me fará esquecer aquela manhã do décimo terceiro dia de fevereiro do ano de 1034 D.C. O dia estava claro demais para um dia de inverno e ouso dizer que o sol nasceu mais cedo e morreu mais tarde, abençoando a pequena vida que se iniciava junto com aquele sol de inverno no ponto remoto e mais ao norte habitado por humanos no nosso planeta.
Foi naquela sexta feira de sol e calor atípico que Beatrix, a minha primogênita, chorou pela primeira vez em honra aos deuses. Foi no dia de Freya que a minha amada e corajosa filha veio ao mundo e foi a partir daquele dia que selei meu pacto com os deuses e o sobrenatural. Foi por causa dela que eu me vi negociando a minha alma, a minha humanidade e me tornando o que sou hoje. Meu amor por Beatrix me levou a me tornar um monstro, porque qualquer atrocidade que eu vim a fazer durantes os séculos, não era nada comparado a dor que é deixá-la sozinha no mundo...
Antes de você me julgar como um pai babão, preciso contextualizar um pouco mais. A minha Beatrix foi a primeira criança a nascer em nossa vila depois de 15 anos. Por 15 longos anos observamos a nossa vila envelhecer e temíamos que com o tempo, os deuses nos apagassem do mapa. Era triste ver o tempo passando e a nossa população envelhecendo, sem perspectiva de renovação. Acho que também devo contextualizar que os tempos eram outros, aos 15 anos um homem já era provedor de sua casa e as mulheres estavam parindo a sua primeira cria. Há muito não víamos uma criança correndo em volta das fogueiras, não ouvíamos um choro ao longe.
E o nascimento de Beatrix foi um desafio para todos. O medo dela não sobreviver tornava a atmosfera da aldeia agoniante, as amas já não se lembravam mais como curar um simples resfriado de uma criança, os guerreiros temiam que até uma folha caindo pudesse machucá-la e o nosso tempo e vitalidade já não eram mais os mesmos. Mas nada disso parecia ser um desafio para a minha Trix. Ao contrário, ela parecia ter nascido para nos ensinar novamente a como cuidar de uma criança. E apesar da segunda criança de sua geração só ter nascido mais de cinco anos depois da Beatrix, ela abriu caminho para uma geração mais forte, esperta e curiosa.
E isso meu amigo... fez toda a diferença para nossa história!
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The Islander
VampireSempre há um lugar vago, ao meu lado, em volta da fogueira para todos os andarilhos de coração angustiados e mente curiosa que cruzam o meu caminho nessa longa estrada da vida. Eu já vivi mais vidas do que gostaria, já tive mais perdas que qualquer...