POV MARKO
O ar estava denso, a fumaça tomava conta de tudo. O chiado do fogo encontrando a neve era abafado pelo grito de desespero de mulheres e crianças. A pacata aldeia de Tervo, que hoje não passa de uma pequena vila no território do país que conhecemos como Finlândia, estava em chamas. Homens com roupas estranhas e cruzes feitas do mais puro ouro andavam pela aldeia empunhando uma cruz dourada em uma das mãos e uma tocha acesa na outra, queimando todas as casas e destruindo todos os símbolos que representassem um deus que não era o deles. E por mais que os nossos guerreiros atacassem, desferindo golpes de puro ódio e clamassem aos deuses por força e proteção, nada parecia penetrar a pele de ferro que os guerreiros estrangeiros vestiam. E um a um eu via os homens que eu mesmo havia treinado cair aos meus pés em uma batalha que parecia já ter sido definida antes mesmo de seu início.
Eu via o meu povo ser massacrado, enquanto o que parecia ser o líder dos forasteiros, um homem gordo sentado em um trono dourado adornado de pedras preciosas, entoava um cântico em uma língua estranha e tentava, sem sucesso, esconder o sorriso de satisfação em seu rosto. O ódio crescia dentro de mim sempre que fitava o sorriso sarcástico e nojento no rosto daquele homem covarde que não se levantava de seu trono para lutar junto dos seus. Nenhuma glória merecia um líder que sentava e esperava que seus homens lhe entregassem a vitória em suas mãos, mas parecia que os deuses estavam ao seu lado e isso me deixava confuso.
...
Tudo a minha volta podia se resumir a fumaça, fogo, sangue e caos. Eu sentia o sangue escorrendo pelo meu rosto, os grilhões apertados em volta dos meus pulsos ardiam e meu ombro doía, reclamando da dor da posição desconfortável a qual o meu captor me submetia. Os gritos a minha volta iam diminuindo gradativamente e eu temia que eles se extinguissem, pois isso significava que o meu povo tinha sido dominado, que os estrangeiros conseguiram nos massacrar.
Olhava em volta e tudo era morte e desespero e apesar de preocupado ao ver o meu povo sofrendo a minha volta, eu senti alívio ao não encontrar os cabelos flamejantes dela em nenhum lugar do campo de guerra que virou a nossa vila. Eu não me importava em sucumbir, em ver tudo o que lutei para construir ruir aos meus pes... desde que Beatrix estivesse viva e segura. E eu clamei aos deuses por isso. Clamei para que aqueles homens não a encontrasse que o sangue e a neve ficassem longe dela e ela sobrevivesse aquele tormento. Clamei para que tudo o que ela visse fossem flores azuis.
- Tragam-me o seu líder. - O homem no trono brandou a ordem, seu sotaque denunciando que ele vinha de algum lugar depois do mar salgado. - Vamos ver se ele está pronto para aceitar o único e verdadeiro Deus.
Naquele momento fui arrastado pela neve e jogado em frente ao trono dourado. O odio e o desejo por sangue que pulsavam em minha veia me fizeram rugir e tentar avançar para cima do sacerdote.
- Então é nesse projeto de fera em quem vocês depositam a sua fé. Esse é o temido guerreiro de Odin, tão famoso quanto o proprio deus de quem dizem que ele é filho, mas que largou o campo de batalha por uma mulher. - Ele segurou o meu queixo, forçando-me a olhá-lo. Tentei morder sua mão, nada me traria mais prazer do que sentir o gosto de seu sangue e provar a sua carne. - Você é Marko, filho da bruxa Arja, aqueles a quem dizem descender do proprio deus caolho. Seus feitos são lendarios, guerreiro, mas eu confesso que esperava mais. Você me parece velho e cansado. Talvez a buceta e a cama quente de sua mulher o tenha amolecido.
- Solte-me e eu lhe mostro a velhice que corre em minhas veias, porco. - Grunhi, me lançando novamente contra ele, mas as correntes e braços que me prendiam eram fortes e ageis. - Solte-me e me enfrente como um homem, seu verme.
- Vocês bárbaros são tão previsíveis, confundindo inteligência com covardia. - A gargalhada que saiu de sua boca fez meu sangue ferver. - Agora me diga, meu amigo, onde estão suas mulheres de cabelo de fogo? Onde estão as bruxas que você esconde em sua casa? Conte-me onde as escondeu e talvez eu poupe a maioria do seu povo da ira de Deus.
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The Islander
VampireSempre há um lugar vago, ao meu lado, em volta da fogueira para todos os andarilhos de coração angustiados e mente curiosa que cruzam o meu caminho nessa longa estrada da vida. Eu já vivi mais vidas do que gostaria, já tive mais perdas que qualquer...