O amor cura

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Cateter de oxigênio, corte profundo do lado esquerdo da testa, braço direito e pé esquerdo quebrados, hematomas por todo o corpo... Foi assim que eu a encontrei, sedada para não sentir dor, e eu só conseguia sentir as lágrimas escorrendo em meu rosto, não pensava em mais nada, só na melhora dela

Simone: Posso encostar nela?
Doutor: Pode sim, mas com cuidado. Ela está bem fragilizada

Me aproximei e segurei com cuidado a mão dela, que estava com alguns acessos para medicação

Simone: Você não é nem louca de me deixar... ~ Falei como se ela estivesse me ouvindo, em meio a muitos soluços
~ A Fernanda está lá embaixo... Eu liguei pra ela para que ela pudesse vir te ver. Às vezes me sinto culpada, fico com dó dela, ela realmente te ama... Mas o que eu posso fazer se... Eu também... Te amo?! Por favor, não me deixa!

Fiquei um bom tempo ali, admirando ela, e torcendo para que a aquele pesadelo passasse, até que lembrei que a noiva dela estava lá embaixo, preocupada, e com certeza muito mal...

Simone: A noiva dela vai poder subir? ~ Perguntei quebrando o silêncio
Doutor: Vai sim, só daqui uma hora, quando começar o horário de visita
Simone: Isso não é justo...
Doutor: O que não é justo?
Simone: Eu que deveria estar lá embaixo, ou nem estar aqui no hospital... É a noiva dela
Doutor: Olha Sra Tebet, eu sou médico há anos, tenho muita experiência e lido com pessoas 24h do meu dia, além de tudo, não sou nem um pouco besta e muito menos surdo. Ouvi o que você disse para ela... A Helena não é só sua amiga! E a Sra pode ficar tranquila, e se quiser se abrir comigo, fique à vontade. Sei que a Sra é uma figura pública, mas o sigilo médico não deixa de valer!

Conversei um tempo com o médico, que me passou muita confiança, afinal, eu não tinha mais ninguém para falar sobre o que estava acontecendo. A minha única amiga era a Soraya, que estava completamente estranha e eu ainda não estava entendendo o motivo. Pude me acalmar um pouco, até que percebi que o tempo havia passado e o horário de visita já havia começado. Resolvi descer para chamar a Fernanda

Simone: Oi... ~ Falei com receio
Fernanda: Aconteceu alguma coisa? Ela está bem? ~ Perguntou assustada e se levantando
Simone: Começou o horário de visita... Vim te chamar para ficar um pouco com ela
Fernanda: Não acho que seja a minha presença que ela quer...
Simone: Ela é sua noiva, precisa de você! Quis a sua presença por anos e aceitou tê-la "até que a morte as separe" ~ Confesso que falei aquilo com muita dor no coração
Fernanda: Bom, não foi comigo que ela passou certa noite e as que passou, não era em mim que ela estava pensando. Mas isso não vem ao caso agora, eu vou subir

A acompanhei até o corredor e fiquei do lado de fora enquanto ela entrava, queria deixá-las a sós, e me partiu o coração ver o tanto que a Fernanda chorava. Não sei se só pelo estado de Helena, mas sim por tudo o que aconteceu. Obviamente não pude ouvir nada que ela falava, era um corredor todinho de vidro, mas eu pude perceber um espanto dela e uma movimentação estranha. Fiquei tentando entender até ouvir uma enfermeira gritando "ELA ESTÁ TENDO UMA PARADA!" Dali em diante, eu não ouvi mais nada. Entrei em estado de choque e comecei ver tudo em câmera lenta, e nem percebi quando pediram pra Fernanda sair, e ela parou do meu lado

Fernanda: Eu disse que não era a minha presença que ela queria... ~ Falou me tirando do transe
Simone: Isso não tem nada a ver, ia acontecer com você ou comigo
Fernanda: Eu acho melhor ir embora... Preciso descansar um pouco e não tenho condições psicológicas para ficar aqui! ~ Saiu antes que eu pudesse responder

Mais alguns minutos se passaram até que o médico chegasse até mim, meu coração parou!

Doutor: Sra Tebet... Pode entrar, ela está estável! ~ Respirei aliviada, confesso
Simone: O que aconteceu?
Doutor: A pressão arterial dela começou a subir muito rápido e ela teve uma parada cardíaca, conseguimos estabilizar mas ainda não está como deveria. Talvez leve um tempo para baixar e talvez precise de alguma medicação para ajudar. Se continuar subindo, corre o risco de ter outra parada e não conseguirmos reverter

Entrei logo em seguida, sentei na poltrona ao lado do leito, segurei sua mão, e ali fiquei por um tempo, pensando somente nela e em tudo o que poderia ter sido evitado, até ouvir o diálogo de duas enfermeiras que haviam entrado para administrar a medicação e trocar os curativos

Enf 1: Ei, olha aqui
Enf 2: O que? Tá normal
Enf 1: Eu sei! É isso que eu estou te mostrando... Chama o Doutor, rápido...

Doutor: O que aconteceu?
Enf 1: Olha pro monitor
Doutor: Como? Isso é praticamente impossível

Confesso que eu já estava ficando incomodada com aquele assunto, não estava entendendo nada e ficando levemente preocupada

Enf 1: Sim... Quase nunca acontece, mas tá aí. Pressão normalizada, batimentos desacelerando aos poucos...
Doutor: Eu já sei o que aconteceu! Podem me deixar a sós com a Sra Tebet, por favor?
Enf 1 e 2: Claro! ~ As duas saíram em seguida

Doutor: Acredito que tenha ouvido a conversa
Simone: Ouvi sim, mas não entendi nada
Doutor: Esse é o seu poder sobre ela! ~ Falou apontando para o leitor
Simone: Ok, eu continuo sem entender...
Doutor: Lembra do que eu te falei lá fora? Que a pressão e os batimentos não haviam chegado no esperado e que talvez demorasse para chegar... 15 minutos foram o suficiente! Ela se acalmou com a sua presença. Acho que... Ela também te ama!
O efeito do sedativo deve passar em alguns minutos e ela vai acor...
Helena: Sim, eu também te amo! ~ Falou abrindo os olhos

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