A verdadeira essência de nós só emergiu após o último ato, após as cortinas terem caído e o cenário da nossa relação ter se desmontado. Naquele ponto, eu já não era mais o calor do seu amor e você já não era mais a lente que focalizava minha busca. Éramos, agora, duas almas que vagueavam como estranhos pelos corredores de uma intimidade que já foi tão intensa.
Foi precisamente nesse cruzamento de destinos que pudemos nos olhar, despidos de ilusões e adornos. Foram as circunstâncias cruéis que nos deram a chance de observar um ao outro, de descobrir o que se ocultava sob a capa de romance. O amor, muitas vezes, embaça nossa visão da realidade, nos faz ignorar defeitos e ampliar virtudes. Mas ali, sem véus de romantismo ou desculpas, nossas verdadeiras cores vieram à tona.
Era o momento de enxergar a verdade, de encarar com olhos nus a mesquinhez e o egoísmo que me habitavam, de confrontar a vingança e a dissimulação que você exercia, habilmente camufladas sob uma fachada passiva-agressiva. As sombras se dissiparam e a luz da verdade nos revelou, não apenas as máscaras que usávamos, mas também as feridas que infligimos.
No entanto, entre as reflexões amargas sobre nossos erros e falhas, também encontramos espaço para reconhecer o que de bom houve em nossa jornada. Eu sou grato pelos momentos em que me amou de um jeito tímido, pelas faíscas de amor que aqueceram nossos dias. Você me mostrou um caminho mais tranquilo, onde a vida poderia ser vivida com leveza e serenidade, ao contrário da ansiedade que constantemente me impelia.
Lembrar de você é uma viagem ambígua pelas memórias, onde sentimentos bons, ruins e complexos dançam juntos em uma coreografia intricada. Há uma melancolia que envolve as recordações, uma nostalgia que, por vezes, parece desnecessária e confusa. Mas a verdade é que aquilo que vivemos, com todas as suas nuances, moldou quem somos hoje.
À medida que contemplo o passado, vejo que nossos passos errantes deixaram rastros profundos nas areias do tempo. Somos, cada um de nós, um mosaico de experiências, de amores e desamores, de encontros e despedidas. E, apesar de todas as cicatrizes que carregamos, também carregamos a riqueza de saber que, mesmo após o fim, podemos olhar para trás e reconhecer que cada capítulo foi essencial para a nossa jornada.
E assim, com todos os sentimentos misturados, com todas as lembranças boas e ruins que persistem em nossas mentes, seguimos adiante. Continuamos a escrever nossas histórias, a viver nossas vidas, a cruzar os caminhos que o destino nos reserva. E talvez, quem sabe, um dia, possamos nos encontrar novamente, não como estranhos que já foram íntimos, mas como dois seres que compartilharam um capítulo único na vastidão do universo.
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Não Vou Ajudar
PoesíaO poeta mergulha nas profundezas da mente humana, explorando as crises existenciais que assolam nossa jornada pela vida. Por meio de palavras meticulosamente tecidas, ele nos convida a contemplar as questões mais essenciais da existência: quem somos...