𝚂𝙻𝙰𝚂𝙷𝙴𝚁 𝙶𝙸𝚁𝙻

ℂ𝔸ℙ𝕀𝕋𝕌𝕃𝕆 𝕊𝔼𝕋𝔼

Um único punho troveja contra a pintura azul descascada de uma porta da frente. A madeira frágil se deforma e dobra sob a pressão e o barulho ecoa pela entrada do outro lado, mas não há sinal de que alguém estivesse em casa para ouvi-lo.

Foi um belo dia em Woodsboro. Mas o sol nunca brilhou na casa dos Riley. Não mais. Não desde o Halloween de 1996.

Randy bufou, apertando a ponta do nariz com uma mão enquanto a outra descansava contra o batente da porta, pronto para começar a bater novamente a qualquer momento. Havia maços de jornais espalhados pela varanda que datavam de semanas atrás. A certa altura o jornaleiro deve ter desistido porque havia rastros deles espalhados pelo gramado. Randy contou cerca de uma dúzia até a porta onde ele estava agora.

"Eu sei que você está aí. Precisamos conversar!" ele latiu, a voz saindo de frustração e algo mais que ele se recusou a nomear.

Oito semanas. Foi há quanto tempo você estava desaparecida. Mas se você perguntasse a Randy, ele teria adivinhado que meses, talvez até anos, se passaram desde que ele acordou naquela cama rígida de hospital exigindo saber onde você estava e se estava seguro.

Ele se lembrava como se fosse ontem. Sua pobre enfermeira ligou a TV com as mãos trêmulas e a primeira coisa que viu foi o corpo de Mickey Altieri sendo levado para fora do auditório do campus, sob um fino lençol branco.

Não parecia tão real quanto ele esperava. Muitos filmes de terror o haviam insensibilizado a ver coisas através de uma tela. Então, durante as semanas seguintes, parecia que ele estava vivendo uma mentira elaborada, onde todos fingiam que você estava morto só porque não estava lá para negar.

"Dewey Riley, eu juro por Deus!"

O som de garrafas tilintando fez Randy levantar a cabeça e revirar os olhos. Esta não era a primeira vez que ele aparecia na casa de Dewey sem ser convidado e duvidava que fosse a última. Ele adquiriu o hábito de aparecer toda semana, só para ter certeza de que o pobre coitado estava cuidando de si mesmo.

Primeiro Tatum, depois você. O ex-xerife de Woodsboro perdeu todos que jurou proteger e Randy não conseguia nem fingir que a dor deles não era nem um pouco comparável.

Ele estava prestes a começar a gritar de novo, mas então ouviu um clique e a porta se destrancou na sua frente. Ao entrar, Randy tropeçou na soleira da porta e ergueu a cabeça para fazer contato visual com seu velho amigo que estava parado do outro lado da porta escura.

A sombra das cinco horas, cinco vezes mais, lançava um fino véu sobre a pele já doentia e pálida de Dewey. Ele olhou para Randy despretensiosamente, piscando para o sol brilhante que brilhava através da soleira. Ele parecia ter acabado de sair de sua bebedeira mais recente. E considerando seus novos hábitos de beber, Randy não deixaria essa possibilidade passar despercebida.

Sem esperar por um convite, ele entrou, ignorando os protestos murmurados do amigo. "Cristo, cara, você cheira a morte."

"Foda-se, Meeks."

Seus ombros colidiram e Randy desajeitadamente limpou a manga de sua jaqueta verde, fingindo que não viu as manchas incrustadas que estavam espalhadas pela camisa social de seu amigo devido aos dias de uso constante. "Alguém precisa" acrescentou ele com relutância.

Sua pobre tentativa de piada não foi um bom presságio e Randy desajeitadamente passou a mão pela nuca enquanto entrava na sala escura. As persianas estavam fechadas como sempre estavam e garrafas de vidro verdes espalhavam-se pelo carpete e pela mesa de centro, como o triste resultado de uma festa de piedade por alguém.

Randy tinha plena consciência de que a porta havia se fechado atrás dele e que Dewey ainda o encarava por trás quando chutou uma caixa de pizza vazia com a ponta do sapato. "Eu não entendo como você pode viver assim, cara."