𝚂𝙻𝙰𝚂𝙷𝙴𝚁 𝙶𝙸𝚁𝙻

ℂ𝔸ℙ𝕀𝕋𝕌𝕃𝕆 𝕊𝔼𝕀𝕊

Demorou algumas semanas para que os pesadelos parassem. Nas primeiras noites, depois que você acordou naquele porão frio e úmido, os pesadelos eram tudo o que você conhecia quando fechava os olhos. Mesmo quando você pensava que eles finalmente haviam parado, eles sempre voltavam para morder sua bunda quando você menos esperava.

Como esta noite, por exemplo.

Você se endireitou, respirando ar fresco e colocando a mão em concha em sua bochecha. Um suspiro de alívio saiu de seus lábios e você dedicou os próximos momentos a desacelerar sua respiração de pânico.

Dentro e fora. Dentro e fora. Dentro e fora. Assim como você ensaiou várias vezes antes, várias noites seguidas.

Os pesadelos eram especialmente terríveis porque nem sempre se aproximavam de você no início. Aqueles filhos da puta sorrateiros sempre se entrelaçaram em sua mente, disfarçando-se de boas lembranças de seus amigos mortos, deixando você acreditar por um segundo que você derrotou qualquer monstro que vivia dentro de sua mente.

E então bam, de repente seu sonho se torna um carnaval de carnificina com você como convidado de honra.

Você soltou um bufo irritado e recostou a cabeça nos travesseiros macios. Você ficou lisonjeada com o esforço que os meninos fizeram para recriar seu quarto de cima a baixo. Eles até pegaram as pequenas estrelas que brilham no escuro do seu antigo quarto e as colaram no teto quase exatamente nos mesmos padrões.

Olhando para eles agora, você quase poderia se convencer de que estava de volta em sua casa, em Woodsboro. Que você acordaria amanhã de manhã e iria para a escola e veria todos os seus amigos. Todos os seus amigos que agora estavam a dois metros de profundidade.

Uma sensação desconfortável de formigamento subiu pelas pontas dos dedos e fez arrepios aparecerem em seus braços e pernas. Foi a pior parte de acordar; as consequências de um terror noturno. Como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre seu corpo enquanto você dormia. As melhores noites eram quando você conseguia se livrar disso sozinho. Mas você sabia que esta noite não estava lhe fazendo nenhum favor: favores.

O mais silenciosamente possível, você se levantou da cama e caminhou pelo chão até a porta aberta. Tinha uma fechadura. Na verdade, eram três. Mas seus meninos nunca tiveram motivos para usá-las ainda. Eles sempre te lembraram disso. De como eles estavam orgulhosos de você e de como você estava se adaptando à sua nova vida.

“Que boa menina” dizia Stu, vindo por trás para prender você contra o peito em um abraço inesperado. Mesmo que você fingisse odiar isso, você o deixaria bagunçar seu cabelo de brincadeira enquanto brincava com você. "Você nem tentou se precipitar ainda. Deve gostar muito de nós, hein?"

E você ria e se encolhia em seu abraço, fingindo que nunca pensou em abrir a janela do seu quarto e fugir para a noite fria. Ou que você olhou para as facas na cozinha e se perguntou se elas eram afiadas o suficiente para passar por uma das fechaduras que prendiam a porta da frente.

Mas isso era tudo que eles eram. Pensamentos. Nada que você jamais sonharia em agir.

Não sobrou nada para você em Woodsboro. Nada além de sepulturas.

O corredor estava escuro como breu, exceto pela luz bruxuleante que irrompia por baixo da porta do quarto de Stu. De acordo com os gritos abafados e a trilha sonora estridente, você imaginou que ele estava assistindo O Exorcista novamente pela quarta vez naquela semana. E por mais que você adorasse ver garotinhas se transformando em demônios e flutuando para fora de suas camas, você realmente não tinha isso em você.

Então, em vez disso, você olhou para a esquerda.

A porta do quarto de Billy ficava trancada quase cem por cento do tempo, mesmo quando ele estava dentro dela. Então você não pôde deixar de sentir um pequeno choque percorrer você enquanto inclinava a maçaneta e ela destravava, oferecendo-lhe entrada no fresco, escuro e vazio de uma sala.