Saga Wolfire

"Dias de tranquilidade"

"Saudações, nobres criaturas e aventureiros. Permitam-me, antes de tudo, apresentar-me: sou Lorde Yuuki Wolfire, da nobre linhagem dos Lobos Brancos, e é uma honra conhecer-vos.

Desejais conhecer mais sobre a minha história? Será uma honra compartilhá-la convosco.

Mas, para isso, convido-vos a uma jornada ao meu passado. Tomai minhas mãos e embarquemos juntos, voltando centenas de anos atrás.

Tudo começou há quinhentos anos, quando os Lobos estavam divididos em três clãs de famílias nobres: os Lobos Brancos, os Lobos Negros e os Lobos Vermelhos. Nós, os Lobos Brancos, éramos híbridos com aparência humanóide, ou lobisomens, como preferirdes nos chamar.

Entretanto, voltemos à história... Cada clã de Lobos guardava seu próprio território. Os Lobos Vermelhos protegiam a fronteira com os territórios dos homens, os Lobos Negros defendiam a fronteira contra os demônios e seres das sombras, e nós, os Lobos Brancos, ficávamos nas terras gélidas do sul, resguardando a entrada para a morada dos deuses e seres mitológicos. Tempos de paz e serenidade reinavam.

Nós, os Lobos Brancos, apesar de nossa grande inteligência e habilidades mágicas, sempre optávamos pela paz, evitando o conflito e recorrendo à diplomacia e à bênção dos deuses. Meus pais, o Rei Joseph e a Rainha Marin, lideravam nossa nação com bondade e sabedoria. Eu era o primogênito, um jovem lobo em idade humana com cerca de dezenove anos, e tinha vários irmãos mais novos. Agora que as apresentações foram feitas, prosseguirei com minha história.

Era um dia de celebração, o início do outono. O povo se alegrava na cidade central, e os comerciantes chegavam com suas provisões e valiosas mercadorias. Meu pai, o rei, dialogava com o líder da comitiva, enquanto eu, sorrateiramente, escapava. Meu pai não apreciava minhas escapadas durante a visita dos comerciantes, e eu entendia o porquê. Não era preconceito, apenas o temor de que minha inata curiosidade me aproximasse perigosamente do mundo exterior.

Mesmo assim, continuei minha jornada, passando por uma brecha nos muros do palácio. Corri até encontrar minha grande amiga, Sarah. Ela era uma jovem comerciante humana, habilidosa em negociações, apesar de sua idade só 18 anos, de cabelos vermelhos e risada estrondosa, e tinha histórias fascinantes sobre suas viagens.

- Saudações, meu nobre lorde! Vejo que escapou do palácio novamente, haha. Estavas com saudades de mim, confesse!

- Não fale asneiras, Sarah. Bem sabes que meu interesse em você é apenas em tuas notícias do mundo exterior

- Ah, que rude, Lorde Yuuki. Não te culpo; meu interesse principal em ti são as refeições deliciosas do palácio, provadas apenas pelo chefe da comitiva, haha. O que me trazes hoje?

Retirei um generoso pedaço de bolo de carne e seus olhos brilharam, parecia uma criança feliz.Como alguém poderia apreciar a comida com tamanha intensidade?

- Senhor Yuuki, já disse que és incrível? - Sarah diz enquanto se deleita com o bolo.

- Mas, Senhor Yuuki, tenho informações um tanto diferentes hoje. Talvez um pouco perturbadoras.

- Haha, é isso que espero - respondo, animado.

- Senhor Yuuki, já ouvistes falar da lenda da Alma do Demônio Rei?

- Sim, Sarah. Muitos dos Lobos adultos a contam para amedrontar as crianças e mantê-las dentro de nossas terras, haha.

- Não sou uma criança, Sarah. Isso é apenas uma lenda utilizada para mantê-las obedientes.

Sarah parece pensativa por um momento, algo raro de se ver nela.

- Hum... Senhor Yuuki, existem rumores de que a Alma do Demônio Rei busca um novo local para residir, talvez um corpo. Não sei se é mera coincidência, mas o mundo lá fora está agitado. Sinto o cheiro da mudança... - Ela diz, com olhar sério.

- O único cheiro que sentes é o da comida, Sarah! - Respondo, rindo. Ela ri junto e continua comendo.

- Bem, Sarah, meu pai deve ter percebido novamente minha fuga. Acredito que devo retornar, embora esperasse notícias mais emocionantes. Trarei menos comida da próxima vez, haha.

Sarah se levanta e pede que eu espere um momento, procurando algo entre suas bugigangas.

- Ah, achei... Aqui está, Senhor Yuuki. Sei que teu aniversário já passou, mas considera isto um presente atrasado, haha.

Ela prende um lindo broche vermelho em minha camisa, uma cor que parecia viva. Agradeci pelo presente e retornei ao palácio, passando pela brecha no muro. Fui surpreendido nas sombras, tomando posição de guarda, mas logo percebi que era apenas Subarashi e Tsubasa, meus irmãos, que se divertiam me assustando.

Subarashi, de dezoito anos, com seu humor ácido e paixão por provocar os habitantes do palácio, mas com um coração bondoso e determinação incrível. Tsubasa, minha irmã de dezessete anos, leal escudeira de Subarashi, geralmente se metiam em confusões juntos, embora ela fosse mais responsável quando necessário.

- Não façam isso, um dia irão me matar - disse, com o coração ainda acelerado.

- Ah, mano, tuas reações são as melhores... - Tsubasa disse, gargalhando com meu susto.

- Yuuki, o pai ainda está em reunião com os visitantes... Isso não é estranho? Nunca demoraram tanto assim. - Subarashi disse, demonstrando preocupação.

- Não se preocupe, provavelmente estão demorando devido às conversas e, quem sabe, até estão bêbados. Os adultos são assim. - Tentei tranquilizar Subarashi.

De repente, minha mãe, a rainha, acenou para nós de uma janela. Em minha mente, rezei para que ela não tivesse me visto chegando pelo muro. Nós corremos enquanto brincávamos.

- Yuuki e Subarashi, preciso que descansem. Amanhã é um dia importante; vosso pai receberá o Rei Yarmin, e Tsubasa, virás comigo - Minha mãe disse com seriedade.

- Rei Yarmin? Espera, não é o rei dos Lobos Negros? - Questionei minha mãe.

Ela apenas acenou afirmativamente, enquanto Subarashi parecia empolgado por conhecer alguém tão importante. Eu senti uma sensação estranha, como se meu peito estivesse ardendo. Contudo, obedeci e me despedi, indo em direção aos meus aposentos. Enquanto observava à distância a festa na cidade com suas luzes e o céu estrelado, era realmente uma visão magnífica. Será que as criaturas que vivem lá fora também são felizes?