"perdas"

18 4 1
                                    

eu me mantinha atordoado no salão de nosso castelo. As lágrimas desesperadas de minhas irmãs ecoavam pelas paredes de pedra, enquanto Subarashi, nosso irmão protetor, estava amordaçado e acorrentado em uma cadeira, seu olhar incendiado por um desejo ardente de vingança.

Nossa mãe, a rainha, observava-nos com olhos marejados, sua tristeza profunda era palpável. O veneno que lhe corría nas veias a impedia de se mover, deixando-a prisioneira de sua própria dor.

Os sons de risos e celebração dos invasores enchiam o ar, uma zombaria cruel ao nosso sofrimento. Eu sabia, no meu íntimo, que aquilo tudo tinha sido uma armadilha, meticulosamente preparada desde o dia da celebração na cidade. Servos do rei Yarmin, o usurpador, infiltraram-se em nosso castelo e em nossa cidade, escondendo-se entre os nobres.

Agora, todos nós estávamos ali, reunidos em desespero. Abraçava minhas irmãs em um gesto de consolo, enquanto Subarashi, ainda amordaçado, mantinha-se em silêncio, um silêncio que me inquietava. Nossos guardas leais jaziam rendidos.

"Existe um modo de sair dessa situação? Será possível?" Perguntava-me internamente, enquanto meu coração pulsava com ansiedade.

De repente, uma voz trovejante rompeu o silêncio. Era o rei Yarmin, sua fúria era como um vendaval.

-- Mas que droga está acontecendo aqui, Snow? -- Bradou ele, apontando para a criança da família Snow, que exibia olhos vazios e perturbadores.
-- O que? Como assim? O que houve, Rei Yarmin? -- Perguntou Snow, tremendo diante da ira do rei.
-- Essa criatura tem a alma de um demônio. Como pode aceitar um demônio na sua família? Olhos nojentos dessa criatura asquerosa. Quer morrer, Snow? Está pensando em se aliar aos demônios?

Snow, o patriarca da família, olhou horrorizado para a criança. Seu olhar de espanto transformou-se em repulsa, como se visse um verme.
-- Sua criatura nojenta! Como não notei isso antes? Só te aceitei na minha família para exibi-la como um troféu. Como pode ter sangue de demônio e viver entre nós?

Com essas palavras, Snow se afastou, levando consigo sua família, deixando a criança confusa e à beira do desespero.

Foi então que Geraldine, nossa fiel serva, aproveitou a confusão para libertar Subarashi. Ela se aproximou de mim, sussurrando urgentemente:
-- Senhor Yuuki, por favor, quando eu der o sinal, fuja. Leve seus irmãos com você, cuide de todos e prometa. Um dia... um dia...

Ela me abraçou, lágrimas escorrendo por seus olhos.
-- Vocês foram os filhos que nunca tive. Prometam-me que ficarão bem,e que  futuramente retomarão o reino e salvarão nosso povo.

Com essas palavras, Geraldine saltou entre todos, assumindo a forma de um lobo branco majestoso, lançando-se sobre o rei Yarmin. Os guardas avançaram em defesa de seu rei, enquanto a criança demônio aproveitava para fugir.

-- Subarashi, vamos! Agora, precisamos fugir... -- Gritei, mas ele estava cego de raiva.
-- Não, Yuuki. Eu vou destroçar todos. -- Ele respondeu, mas minhas irmãs o puxaram, implorando para que ele voltasse a si.
-- Estamos todos sofrendo. Não deixaremos a morte de nosso pai ser em vão. Por favor, vamos. -- Implorou Tsubasa, minha irmã.

Subarashi suspirou profundamente e concordou com um aceno de cabeça. Corremos em direção à saída, aproveitando a distração causada pelo caos no salão.

Geraldine... lutava bravamente, estava já ensaguentada com feridas por todo o corpo, mas o rei Yarmin percebeu nossa fuga e correu em nossa direção.
-- Droga... Não vamos conseguir... É o nosso fim...

Mas, de repente, o rei Yarmin colidiu com o que parecia ser uma barreira invisível. Eu reconheci aquela magia: minha mãe, apesar do veneno, ainda estava consciente e havia erguido uma barreira para nos proteger.

O rei Yarmin voltou-se para ela, irônico:
-- Incrível! Com apenas um mover de dedos, ergueu uma barreira poderosa. Não esperava menos de uma ex-sacerdotisa.

Minha mãe o ignorou e, pela última vez, sorriu para nós. Seu olhar nos implorava para fugirmos.

Corremos, nossos corações apertados pela tristeza, enquanto lágrimas escorriam de nossos olhos. Já distantes, ouvimos o som de uma espada cortando o ar e a barreira se dissipando. Sabíamos, em nossos corações, o que realmente havia acontecido, mas nenhum de nós ousou falar.

Saímos pela fenda nos muros do castelo, a mesma fenda que eu costumava usar para escapar e me divertir. Agora, eu a atravessava carregando um peso de dor como nunca antes havia sentido.

Saga WolfireOnde histórias criam vida. Descubra agora