CAPÍTULO V

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Enquanto você não encontrar o inferno, não vai achar um paraíso bom o bastante.

(O Clone)

Victoria havia começado a ouvir a melodia que precisaria criar a coreografia, sua mente fervilhava em inúmeras ideias, como seus passos seriam, como se entregariam a vertente emocional que aquela faixa prometia entregar. Naquela noite, Harry não havia aparecido ainda, mas a bailarina continuava a criar seus passos.

— Harry está demorando muito.

Uma Victoria preocupada tomou conta da sala do apartamento de Andy, muitas vezes Harry fazia aquilo, gostava de desaparecer por algum tempo e simplesmente retornar como se nada houvesse acontecido. E, deste modo, deixava a Chalmers perturbada. Tão perturbada que ela ligou para o número do namorado, até cair na caixa postal. Uma. Duas. Três vezes. Recebia apenas o silêncio em resposta.

— Ainda acordada? - Desta vez fora Andy que falou assim que fechou a porta. — Achei que já a encontraria dormindo.

— Estava esperando Haz chegar.

— Rutherford? - Andy revirou os olhos. — Onde aquele babaca se meteu? Aliás, seria estranho você saber já que está neste estado.

— Ele apenas disse que iria andar um pouco, mas até agora, não há sinal dele.

— E você vai perder uma noite de sono antes de começar a trabalhar com o Bangtan por causa de um homem?

— Andy.

— Sim Vic?

— Se não fosse por Haz, eu não teria conseguido essa oportunidade.

A Santini que estava com o copo na mão, deixou-o no ar, entre o balcão e a boca. Como assim Harry havia a auxiliado a conseguir aquele trabalho? Quem havia feito tudo era ela, não Harry, mas provavelmente ele conseguiu acessar o e-mail primeiro e dizer que foi mérito dele.

— Bebeu alucinógeno, Victoria? Porque você só pode estar louca para dizer tamanha asneira. Quem te disse que foi Harry que conseguiu essa oportunidade?

— Não, eu não bebi alucinógeno, Andy. E, bem, estou em perfeitas condições de saúde mental. - Victoria ainda não havia compreendido, talvez tivesse ainda incrédula. — Harry. Enquanto eu estava distante devido à exaustão mental, ele me disse que tinha me inscrito em um programa de trainer, e que eu havia sido chamada para ser uma coreógrafa.

— E você acreditou?

— Bem, sim. Por que não acreditaria?

— Porque quem mostrou seu portfólio para eles, fui eu. Não Harry. E eu não tenho porque mentir para você isso, sabe muito bem, não é? - Silêncio. Andy não culpava Victoria, muito pelo contrário, tentava de todas as formas abrir os olhos da amiga. — Esqueça. Isso tem a ver com vocês dois. Vou dormir.

Andy simplesmente se retirou, deixando Victoria em seus devaneios e pensamentos, sabia também que se ela conversasse com Harry, ele espalharia seu veneno pela garota até que ela se sentisse culpada. Andy nunca acusou Victoria de nada, nem mesmo quando ela parecia sucumbir, mas ela se apiedava ao ver o nível de dependência emocional que Victoria tinha por Harry. As memórias eram traiçoeiras quando a Santini se lembrava do tormento que sua melhor amiga passou e quantas vezes ele se apoderava das fragilidades dela para disseminar seu amor. Mas como Victoria poderia enxergar diferente?

Harry Rutherford era o típico homem perfeito, esteticamente agradável, de falas intensas e que fazia qualquer mulher se encantar por ele. Em todos os momentos, ele elevava a estima de Victoria, dizia o quão linda ela era e que ela conquistaria o mundo com sua inteligência. Ele a fazia se sentir única e a confortava quando as inseguranças lhe atingiam em cheio, mas havia algo que apenas ela poderia fazer, se amar. E quando deixamos de amar a nós mesmos para amar outra pessoa, estamos fadados a sermos carregados até o inferno.

Andy já dormia quando o inglês adentrou o apartamento, sua feição era serena e ele encarou a morena que o aguardava. Um breve sorriso tomou conta da face de Harry, mas se desfez quando notou a expressão mais séria que ela possuía na face. Não havia palavras a serem ditas, havia unicamente uma lacuna entre eles. Harry acompanhou Victoria, sem dizer uma só palavra se quer.

— Por que você mentiu para mim? - Victoria indagou, mesmo que seu coração, naquele momento, estivesse se partindo em milhões de pedacinhos.

— Como assim, bonequinha?

— Por que você mentiu para mim dizendo que havia sido você que tinha conseguido esse trabalho para mim, quando na verdade foi Andy?

— Não estou entendendo, porque fui eu...

— Não, não foi Harry. Diga a verdade!

Lágrimas inundavam os olhos verdes de Victoria e ela cerrou o punho, enquanto sentia a ira aos poucos a sucumbindo. Harry suspirou. Sentiu a raiva aos poucos tomar conta.

— Bonequinha, aquela garota andou colocando coisas na sua cabeça.

— Assim como você não a contou que tive uma crise de exaustão e até internada fiquei para me recuperar?

— Vic, eu me esqueci. Minha preocupação era apenas você, bonequinha. Não sei o que seria de mim se você tivesse se machucado.

— Eu sei, eu só...

— Vá dormir, não coloque tantas coisas na sua cabeça.

A voz mansa mas em um tom suavemente magoado, dava tudo a entender, Victoria finalmente se deitou quando Harry a fez dormir. Havia um espaço na mente dele, e ele precisava deixá-la pensar. Saiu durante a noite após beijá-la na testa. Lhe sorriu algumas vezes e lhe chamou de bonequinha e logo em seguida, partiu. 

Black SwanOnde histórias criam vida. Descubra agora