Máscaras Da Noite

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  Afundada em dívidas, à beira da expulsão da faculdade, desempregada e com o aluguel atrasado, me pergunto quando minha vida começou a desandar. Talvez tenha sido naquele momento em que os estudos deixaram de ser minha prioridade, abandonando a paixão que tinha pela faculdade. Deslizo os dedos pelo celular e dou de cara com o mundo reluzente do Instagram - vidas aparentemente perfeitas de celebridades e blogueiras famosas. Viagens luxuosas a Dubai, hospedagens cinco estrelas... enquanto luto para pagar o aluguel de uma kitnet sem chuveiro quente. Como o mundo pode ser tão desigual?

Minha amiga Eleonor me envia uma mensagem em meio aos devaneios de inveja e frustração, oferecendo uma oportunidade para a noite: ajudar no buffet de um baile beneficente. Com as finanças no limite, não posso recusar. Chegamos ao evento, um suntuoso baile de máscaras, e enquanto percorro o salão com a bandeja em mãos, observo as pessoas ao redor. Roupas de alta costura, sapatos exuberantes, bolsas e joias valendo mais do que eu poderia juntar em anos. Sob essas máscaras, escondem-se seres de poder e privilégio. Mas minha atenção é subitamente desviada para uma discussão acalorada no corredor próximo ao banheiro feminino.

Minha atenção é subitamente desviada para uma discussão acalorada no corredor próximo ao banheiro feminino. Uma mulher ruiva, vestida elegantemente de verde esmeralda, acusa outra, de cabelos negros e pele latina, usando um vestido vermelho decotado, de ser amante de seu marido. O confronto é como um fogo que se alastra, e eu, tentando intervir, acabo sendo agredida verbalmente e recebendo um tapa no rosto. Sinto a máscara ser arrancada, e vejo a surpresa nos olhos das mulheres ao me reconhecerem. "Ângela?", sussurram, confusas e temerosas. A dor do tapa ainda reverbera, mas por agora, sou apenas uma empregada, tentando manter a compostura.

Abalada, saio para tomar um pouco de ar. A noite é fresca, o vento acaricia meu rosto, e as estrelas brilham no céu noturno. Respiro fundo, tentando acalmar os ânimos e processar o que acabara de acontecer. Como pude me envolver em uma confusão como essa? Enquanto pondero sobre os próximos passos, sinto uma presença atrás de mim. Volto-me e vejo o homem de cabelos loiros e olhos verdes caminhando em minha direção.

- Ângela, que surpresa te encontrar aqui.- Disse o homem.

- Ah, me desculpe, acho que você está me confundindo com outra pessoa. Meu nome é Ruby.- Digo tentando esconder meu nervosismo.

- Desculpe, pensei que fosse outra pessoa. De qualquer forma, você é a pessoa certa para o que eu preciso. Posso te fazer uma proposta?

- Proposta? Bem, depende do que for...

- Trabalho em um ramo que exige discrição e particularidade. Preciso de alguém com suas habilidades. Se estiver interessada, ligue para mim. Mas lembre-se, é um caminho peculiar e cheio de mistérios.- Disse o homem enquanto me entrega um cartão.

- Parece ser uma boa proposta, mas você ainda não me qual é. Não estou disposta a aceitar algo que eu não faço ideia do que é. - Olho para o cartão sem o examinar muito. Me sinto intrigada.

- Compreendo. O mistério pode ser assustador. O convite está aí. Até logo, Ruby.- Disse o homem se dirigindo novamente ao salão de festas.

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Cinco minutos se passaram enquanto eu tentava recompor-me daquele momento constrangedor. Respirei fundo, sentindo o vento fresco acalmar a ardência no rosto, e decidi que era hora de voltar ao trabalho. Precisava encontrar outra máscara para encobrir a exposição de minha identidade e mergulhar novamente no papel de servidora anônima. Enquanto seguia na direção do salão, fui interrompida por Eleonor, minha amiga de longa data.

- Ruby! Onde você estava? Estava preocupada!- Disse Eleonor em um tom nervoso e preocupado.

-Desculpe, Eleonor. Fui tomar um ar lá fora, a noite estava me sufocando um pouco.

- Ah, entendo. Está tudo bem agora?- Ela realmente está com um tom de preocupação. Fico feliz de ter Eleonor por perto. Ela é minha única amiga e sempre tenta me ajudar quando necessário.

- Sim, estou bem. Vamos continuar a trabalhar. Preciso encontrar outra máscara e voltar à rotina.- Não sei se estou pronta para voltar ao trabalho, mas servir champagne é melhor que ficar perdida em meus pensamentos.

- Claro, vamos lá. Se precisar de algo, estarei por perto.

Enquanto escolhia uma nova máscara, a sensação de tristeza ainda persistia. A noite que prometia ser tranquila e rotineira se tornara um emaranhado de confusões e propostas enigmáticas. Eu queria entender mais sobre aquela misteriosa oferta, mas também temia o desconhecido que ela representava. No entanto, no momento, meu foco era voltar ao trabalho, cumprir meu papel e, talvez, desvendar o mistério que se escondia atrás daquelas máscaras brilhantes.

Apesar das reviravoltas daquela noite, consegui concluir meu trabalho sem mais complicações. Eleonor, sempre prestativa e compreensiva, ofereceu-se para me levar em casa, e eu aceitei a gentileza.

- Ruby, você está realmente bem? Aquele incidente pareceu bem desconfortável.- Perguntou Eleonor novamente em um tom preocupado.

- Foi, mas estou me recuperando. Agradeço pela preocupação, Eleonor.- Respondi para tranquilizá-la enquanto dou um sorriso.

- Qualquer coisa, você sabe que pode contar comigo. Se precisar desabafar, estarei aqui.- Senti vontade de dizer à Eleonor sobre o homem misterioso e a proposta enigmática, mas na altura não é uma ideia muito boa. Apenas agradeci por todo o apoio, preocupação e pelo trabalho.

Chegando em casa, a sensação enigmática daquela noite ainda pairava em minha mente. Antes de deitar, refleti sobre os eventos e a proposta peculiar que recebi. O que me aguardava nessa jornada misteriosa? Eu não tinha certeza, mas a curiosidade e a inquietação não me deixavam esquecer o cartão queimando em minha bolsa.

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