Caminho dos espinhos- 1

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20 Anos depois

Paredes de concreto realmente são mais aquecedoras, pensou Kang Seong-su pela milésima vez desde que tais estruturas de sua casa passaram de simples materiais reutilizados por si próprio na construção, para bons tijolos revestidos em argamassa. Não que não tivesse apego ao que lhe servira muito bem outrora, mas tinha de admitir, era bem mais confortável e seguro como estava agora e, também, o frio era menor.

Ele mudou tudo...

Sorriu com o pensamento abrangente sobre seu filho de criação. E não estava errado, nunca imaginou que o jovem mudaria tanto a sua vida e a sua maneira de enxergá-la, mas essa hipótese foi quebrada com os primeiros meses que passou com o garoto desde que o encontrara na chuva. Sua trajetória passou a girar em torno dele, seu pouco dinheiro era para ele, sua pouca habilidade de leitura também. Seu coração era do filho, e nunca esteve tão feliz com isso, mesmo que, ultimamente, seus dias tenham se limitado a estar deitado em uma cama de solteiro devido seu estado debilitado de saúde.

Não queria se iludir, sabia que seu tempo estava chegando ao fim. De vez em quando, se arrependia de não ter feito mais coisas por si próprio quando ainda tinha vigor de um homem com corpo jovem e forte. Poderia ter lutado mais pelo o que queria, em vez de limitar-se à vida como catador de materiais recicláveis, poderia ignorar o quão invisível era para a sociedade por sua pobreza e falta de conhecimento, mas não fizera nada disso. Conformou-se, de certa forma, portanto, não tinha motivos para esperar que a vida lhe fosse mais generosa.

Porém, por incrível que pareça, ela foi.

Sua mente se perdia cada vez mais em conjecturas quando a porta de sua casa foi aberta e seu presente inesperado da vida passou por ela, fechando-a com certa brutalidade. Mirou a do quarto, esperando que o rapaz chegasse ao cômodo e perguntasse como estava se sentindo, mas dessa vez não foi essa a primeira coisa que ele disse. Seu olhar parecia tristonho e perdido.

— O que houve, Jungkook?— perguntou tentando erguer o tronco da cama com um pouco de dificuldade, até os ossos da coluna doíam— Por que essa cara?

Seu filho se aproximou cautelosamente, ainda vestido com a farda do Café em que trabalhava, sentou-se na ponta do colchão e respirou fundo antes de responder:

— Fui demitido.

— Como é?— indagou de imediato, surpreso— Por qual motivo? Me disse que a senhora Yeri adorava seus serviços.

Jungkook fechou os olhos com força, sentindo uma irritação enorme pelo ocorrido.

— Uma madame de nariz empinado passou no Café, pediu um dos mais caros, e eu preparei. Quando voltei com o copo em mãos, ela não gostou da aparência, disse que não chegava nem perto do que estava exposto no cardápio.— revirou os olhos só de lembrar da ruiva insuportável acompanhada do marido.

— Na propaganda é sempre diferente, quem não sabe disso?

— Ela, pelo visto. Pediu para eu fazer outro com mais capricho, eu acatei e fui de bom grado até a cozinha preparar outro cappuccino.

— E então?— questionou, Jungkook parecia que iria explodir a qualquer momento.

— Ela também não gostou do segundo, afirmou ser pior que o primeiro. Eu respondi que ela estava enganada, mas apenas me olhou de cima a baixo e disse: "só poderia ser alguém de baixa classe para me responder assim, sem falar que você não entende nada de como preparar um cappuccino decente. Me responda, rapaz, como conseguiu emprego aqui? Yeri enlouqueceu?"

Seong arregalou os olhos com o pronunciamento do filho, fora humilhado em pleno local de trabalho — E? Você chamou a gerente?

— Não, eu mesmo a rebati. Disse que se fosse de classe alta de nariz em pé como o dela, não estaria trabalhando em um Café como garçom e também virei o copo de capuccino na cabeça dela.— falou de uma só vez, vendo a expressão do pai se fechar numa mistura de melancolia e indignação.

Antes de Você [jikook]Onde histórias criam vida. Descubra agora