Antes de Você [jikook]

[Prólogo] Seu nome é...

"Depois da tempestade, as cores aparecem." - BONO

Chuva...

Sempre, quando Kang Seong- su via um dia chuvoso e observava o céu nublado, pensava que algo melancólico estava por vir. Também imaginava que era algo intrínseco nas pessoas associar dias cinzas à momentos tristes ou assustadores, mas no caso dele, talvez tivesse ainda mais razões para enxergar tais dias dessa maneira, ainda mais nesse momento em que estava puxando uma espécie de carrinho de mão pesado com várias coisas recicláveis que conseguiu achar nos grandes lixos da cidade de Seul. Nada de novo em sua cansativa rotina.

O pior de tudo nem era o fato de estar encharcado pelas gotas fortes da chuva que caía nessa noite, mas sim por notar que ainda faltava bastante para alcançar sua casa. Mesmo que seu lar não passe de um simples casebre frágil e caindo aos pedaços, ainda o protege em dias como esse pois, como um homem velho, de pouco letramento e catador de lixo, não tinha muitas opções de melhorar sua situação de vida. Por isso, quase todos os dias dava um jeito de sair bem cedinho para procurar coisas que as pessoas normalmente jogavam fora, como sapatos, roupas e até cobertores, era incrível como tanta gente se desfazia de bons objetos assim. Seong ficava tão aliviado quando encontrava algo que lhe servisse, principalmente em dias de frio como hoje.

O ser humano é uma grande máquina de produzir lixo. Sempre pensou que um dia o planeta realmente seria inabitável de tanta sujeira que tem nele. Será que era por isso que se preocupavam tanto em levar o homem à lua novamente? Bom, não sabia dizer.

Quanto mais andava e puxava o carrinho cheio de itens, mais suas velhas pernas doíam. Não estava mais com a força necessária para obter agilidade como tinha há alguns anos atrás, quando o fardo da idade ainda não pesava tanto. Hoje em dia, além de estar dolorido e um pouco fraco, parecia ser invisível aos olhos da sociedade, e não era tolo a ponto de não perceber o quão negligente ela era com indivíduos como ele, que teve pouco ensino, pouco dinheiro e poucas oportunidades na vida. Triste, sim, mas não seria hipérbole falar que já tinha até se acostumado.

Quando era jovem, chegara a sonhar em ter uma vida melhor, mas morava com seus pais em um campo muito afastado da cidade grande. Portanto, sair dali em busca de algo que não passava de uma possibilidade criada por sua jovem mente, não lhe parecia muito agregador. Sem falar que trabalhava com seu pai no plantio de sementes no campo todos os dias, e para ele, os sonhos não levavam o homem a lugar nenhum, mas a enxada e o arado sim porque eram coisas reais e garantiam o sustento da família e a sobrevivência dela.

Impressionante como os devaneios sobre seu falecido pai ainda rondavam sua mente, mesmo depois de tantos anos e tantas mudanças em sua vida. Não morava mais naquele campo há décadas e nem era mais um garotinho sonhador e, pensando bem , olhando isso tudo, talvez seu patriarca estivesse certo e se mudar para a cidade sendo um "xucro sem nenhum conhecimento" não o fez tão bem quanto um dia sonhou. Atualmente, lhe restava apenas continuar o final da vida fazendo o que sempre fez desde que chegou a uma cidade grande na Coreia do Sul, ir nos lugares mais deletérios e retirar de lá a sua sobrevivência.

Neste momento, ruas estavam vazias, o que não era uma surpresa, já que era um pouco tarde e a chuva só aumentava com pequenos trovões se fazendo presentes. O senhor Seong aumentou com certa dificuldade a velocidade de seus passos no asfalto úmido, precisava chegar logo em sua casa ou ficaria ainda mais difícil andar entre as poças de água que se formavam abundantemente por ali.

Sua barba grande e grisalha estava encharcada, sua pele amorenada enrugada e os trapos que usava como vestimenta completamente grudados ao corpo franzino, o fazendo tremer de frio. Odiava invernos, eram os períodos mais difíceis de sair em busca do próprio sustento, sem falar que não tinha muitas roupas para se agasalhar devidamente.