Quando era criança, Kelvin sonhava com uma casinha, com as crianças correndo de um lado para o outro. Por algum motivo bobo, achava que seria um beta. Quando a altura não veio na puberdade, já sentia seu destino traçado. Se não arrumasse algo logo, ficaria só nessa vida.
Alguém tão romântico quanto ele, que assistia a todas as comédias românticas, e seu favorito era 'Orgulho e Preconceito', ficava imaginando um Sr. Darcy, um homem rico que se apaixonaria por ele e o salvaria. Isso não aconteceu; apaixonou-se por um bruto que precisou usar toda a sua paciência, mas não o trocaria por nada nessa vida. Nem pensou que uma fazenda de soja no sul do Acre seria sua casa. Agora, encarava o seu bruto, que na sua cabeça era um príncipe tentando fazer sua filha soltar o rabo do cachorro.
- Maria Flor, solta o totó, solta - o alfa segurava as mãozinhas tentando separar os dedinhos do rabo de totó, mas a menina parecia determinada. O ômega se encostou na batente da porta, terminando seu café com calma.
- Ela vai cansar e vai soltar, Rams- observava a cena rindo e tentava ignorar o barulho da cena, o choro agudo de Maria Flor com os grunhidos de raiva de totó.
A verdade é que Kelvin estava furioso com a ideia de Ramiro trazer o cachorro. Ele falou inúmeras vezes, mais do que inúmeras, que o bebê de 4 anos não estava pronto para um cachorro. Mas Ramiro o ouviu? Não. Trouxe o vira-lata e deu para a menina, que não tinha cuidado nenhum. Brincava maltratando o pobre do animal, às vezes apenas corria com ele pelo mato, mas na maioria das vezes apertava e amassava. Sua brincadeira favorita era ficar puxando o pobre do bichinho pelo rabo, ouvindo-o grunhir de dor.
Kelvin se preocupou com isso um pouquinho, ficou se perguntando de onde aquela menina tirava tanta maldade. Mas aí lembrava que tinha seu sangue. Quando era criança e brincava de teatro e se não obedeciam suas ordens, ele virava a casaca. Até tinha enforcado um coleguinha uma vez porque ele não quis encenar a cena de 'A Bela e a Fera'. Além disso, Maria Flor era a cópia cuspida e escarrada de Ramiro. Era só isso que ela tinha dele; a sua personalidade era tão parecida com a de Kelvin quanto a aparência era igual à de Ramiro. Toda a doçura e inocência se esqueceu de entrar naquele serzinho.
Mas a aparência, a essa era igual. Os cachinhos soltos marrons, os olhinhos castanhos escuros e o tom de pele dourado. A menina era mais do que linda, um bebê perfeito e saudável. Depois de tudo que Kelvin passou, quase um milagre. Fruto de um ômega masculino, os médicos até elogiaram Kelvin no parto prematuro. Ele sorriu lembrando. Distraiu-se com Ramiro o chamando:
- Kevin, por favor, ajuda eu - agora era o alfa que chorava junto com o cachorro - ela não solta de jeito nenhum.
Maria Flor sorriu vitoriosa, dando mais um puxão tão forte que até tencionou seus bracinhos.
- Ok, Maria Flor Santana Neves, já chega. Solta esse bicho agora ou eu vou chamar a Lúcia, e você vai ficar lá com ela.
Os olhinhos castanhos o encararam como se desafiassem o próprio pai. Kelvin ficou indignado. Não ia deixar sua menina desafiá-lo, não depois de passar pelo inferno para tê-la em seus braços. Deixou a xícara em cima da mesa da varanda e se abaixou na altura da bebê bem perto da cena.
- Maria - chamou calmamente, respondendo ao olhar - você não gosta do totó?
- Gosto, totó meu, meu- seu vocabulário ainda era meio limitado, mas o pouco que sabia usava para expressar possessividade como seu pai alfa.
- Então, meu amor- posicionou suas mãos sobre as dela, mas sem força, apenas para que ela parasse de puxar o rabo. - Quem ama não machuca, não faz dodói.
- Dodói- falou, assimilando isso na sua cabecinha.
Ramiro observava a cena com fúria indignado. Se o ômega podia acalmar a situação tão rápido, por que não o tinha feito antes?
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Acontece ( ABO MPREG)
FanfictionAonde Ramiro é um alfa que não aceita seu amor por kelvin , um ômega que se vende pra sobreviver, mas uma noite confusa cria um vínculo entre eles pra vida toda.