Conto 1: 1:35 AM

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Oba! Apita, apita, apita — cantou uma voz alta e aguda.

A música insana alcançou, como um gancho de cabo longo, o agradável
sonho de Delilah e rapidamente a arrancou de seu sono abençoado.

— O quê...? — murmurou Delilah, enquanto se sentava em meio a seus
lençóis amarrotados de flanela amarrotados, piscando frente ao sol que passava por entre as frestas de suas persianas.

Você me enche de alegria — continuou a cantora.

Delilah jogou o travesseiro contra a parede inadequada que separava seu apartamento do apartamento vizinho. O travesseiro fez um pof satisfatório quando atingiu o pôster emoldurado que estampava uma cena serena numa bela praia. Delilah olhou para o pôster com um grande
desejo — representava a vista que ela mais queria ter.

Mas Delilah não tinha vista para o mar. Tinha vista para as caçambas de lixo nos fundos imundos da lanchonete vinte e quatro horas na qual trabalhava. Ela também não tinha serenidade.
Oo
Tinha sua vizinha irritante, Mary, que continuava cantando do fundo dos pulmões:

— Obrigada, obrigada, obrigada por começar o meu dia.

— Quem é que canta sobre
despertadores? — ralhou Delilah, gemendo e esfregando os olhos. Já era ruim o suficiente ter uma vizinha que cantava, mas era mil vezes pior que a tal vizinha
criasse suas próprias músicas idiotas e que sempre começasse o dia com uma sobre um despertador.

Despertadores já não eram ruins o suficiente sozinhos?

Verdade. Delilah olhou para o relógio.

— O quê? — Ela pulou da cama como se atirada por uma catapulta.

Agarrando o pequeno relógio de pilhas digital, Delilah olhou para a tela, que dizia 6:25 AM.

— Pra que é que você serve? — indagou Delilah, jogando o relógio sobre o edredom azul.

Delilah tinha um ódio patológico de despertadores. Era um vestígio dos dez meses que havia passado em seu último lar adotivo, quase cinco anos antes, mas a vida no mundo real exigia o uso deles, algo com que Delilah ainda estava aprendendo a lidar. Embora agora tivesse descoberto algo que odiava ainda mais que despertadores: despertadores que não funcionavam

Foi quando o celular de Delilah tocou.

Quando atendeu, não esperou que a pessoa dissesse alguma coisa. Falando por cima do barulho de pratos tilintantes e um amontoado de vozes, disse:

— Eu sei, Nate. Perdi a hora. Chego aí em trinta minutos.

— Já liguei pra Rianne e pedi pra te cobrir.
Pode pegar o turno dela, o das duas horas.

Delilah suspirou.

Ela odiava esse turno. Era o mais corrido.

Na verdade, ela odiava todos os turnos.

Odiava turnos, ponto final.

Como gerente de turno na lanchonete, precisava trabalhar no turno que melhor se ajustasse ao cronograma geral. Assim, seus “dias” variavam de seis a dois, dois a dez e dez a seis. Seu relógio biológico estava tão bagunçado que ela praticamente dormia enquanto estava acordada e ficava
acordada enquanto dormia. Vivia num estado de exaustão perpétua. Sua mente estava sempre turva, como se tivesse entrado névoa por seus ouvidos. E essa névoa não só diminuía sua capacidade de
pensar com clareza, como também tornava mais difícil para seu cérebro interagir com seus sentidos., Era como se sua visão, audição e paladar estivessem sempre um pouco estranhos.

— Delilah? Posso contar com você para estar aqui às duas? — Nate praticamente gritou no ouvido de Delilah.

— Sim, sim. Estarei aí.

Fazbear Frights (3) 1:35 AM - Traduzido PTOnde histórias criam vida. Descubra agora