Conto 3: O Garoto Novo

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É um dia claro e ensolarado, daqueles que te fazem sentir que você tem que fazer
alguma coisa. Fazer algo divertido ou “ser produtivo”. — Devon usou os dedos
para fazer aspas no ar, esperando que ninguém notasse suas unhas roídas e
cutículas mordidas. Ele então continuou num tom que esperava soar sinistro: — É
um daqueles dias que a sua mãe te faz cortar a grama. Mas hoje não é dia de tarefas. Hoje é dia de uma festa de aniversário.

Devon ouviu cochichos pela sala. Alguém deu uma risada baixa, mas ele não tirou os olhos do papel. Manteve sua cabeça inclinada, seu cabelo jogado para frente como um escudo protetor entre ele e o resto da turma.

Normalmente, ele odiaria ter que ficar na frente da sala por... qualquer que fosse o motivo, mas, hoje, ele estava numa missão. Se tivesse que ler um trabalho idiota para a aula de português, ele daria um jeito.

Devon continuou sua história, descrevendo uma festa de aniversário com um bando de pirralhos barulhentos. Ele falou dos balões, dos palhaços e do pula-pula inflável montado no meio da grama verde.

— Mas não é um pula-pula qualquer — leu Devon. — Ninguém sabe ainda, mas vão
descobrir... agora. — Devon fez uma pausa para dar um efeito de suspense. Ele não ouviu nada. Até onde sabia, sua professora, a Sra. Patterson, e seus colegas de sala podiam muito bem ter sumido da
face da Terra. Mas ele não ia olhar para saber.

Devon prosseguiu:

— Porque agora a pequena Halley está subindo no pula-pula. Ela é a primeira da fila. Sua irmã gêmea, Hope, está logo atrás dela.

Teria sido um suspiro de surpresa o que Devon ouvira vindo da terceira fileira? Ele achava que sim. Bom. Tinha chamado a atenção dela. Ele sorriu enquanto continuava a leitura:

— Halley está quase terminando de entrar no pula-pula, seu vestido cor-de-rosa esfregando no vinil vermelho do piso. “Anda”, Hope pressionou Halley, empurrando ela por trás. Halley foi
engatinhando devagar, até que, de repente, foi puxada para frente. Hope deu uma risada e a seguiu.

Devon parou de ler novamente. Estava chegando na parte boa.

— Mas logo, logo, Hope vai desejar nunca ter seguido a irmã. Num momento, ela está olhando para baixo enquanto engatinha para entrar no pula-pula, mas agora já está dentro. Ela ergue o olhar e vê o corpo parcialmente comido de sua irmã estirado no vinil vermelho. Não, espera! O vinil não é vermelho. Ele está coberto de
sangue. — Teria sido um gritinho baixo o que Devon acabara de ouvir? Ele continuou a ler: — E o pula-pula não é um pula-pula. É uma boca gigante. E
ela está mastigando e se abrindo ainda mais, e Hope, que agora está gritando, está escorregando para dentro da...

— Já chega! — gritou a Sra. Patterson.

Devon piscou. Ele não levantou a cabeça. Ainda não tinha terminado.

— Devon Blaine Marks. — A Sra. Patterson pronunciou os nomes de Devon como se
estivesse cuspindo cada um deles. Antes que ele pudesse responder, a grande mão quadrada da Sra. Patterson apareceu diante da cara fechada de Devon e arrancou as folhas da história de suas mãos. As folhas sacudiram e Devon sentiu um corte na pele feito pelo papel entre a junção de seu polegar e seu indicador.

A sala estava tão quieta que Devon podia ouvir um pássaro cantando do lado de fora da janela. Ele finalmente olhou para o rosto da Sra. Patterson.

— Sim?

— Sim? — A Sra. Patterson balançou a cabeça, fazendo seu rabo de cavalo sacudir de um lado para o outro.

A Sra. Patterson era professora de português, mas era também a treinadora de basquete do time feminino. Era uma mulher grande, alta e de ombros largos. Ela encarou Devon, que já tinha quase 1,80m — bem alto para sua idade. Só faltava um pouco mais de coordenação para ser um jogador de basquete. E talvez assim pudesse...

Fazbear Frights (3) 1:35 AM - Traduzido PTOnde histórias criam vida. Descubra agora