Capítulo 08. Revelação

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Aos poucos, Maria Joana foi recobrando a consciência. Sua cabeça se encontrava abaixada. Tentou erguê-la, todavia, uma dorzinha aguda em seu pescoço se fazia presente. Com certo esforço e dando uma oportunidade ao tempo, aquela sensação dolorida foi se dissipando, o que a fez levantar o crânio lentamente.

Não conseguiu ver nada. Chegou a pensar que havia perdido a visão, mas rapidamente constatou que só estava em um local frio e escuro. Também verificou que estava sozinha, só que essa informação não lhe dava segurança, pois estar ali – seja lá que lugar era aquele – causava arrepios em sua medula espinal.

Tentou se mover, porém seu corpo mal pôde responder aos seus comandos. Notou que se encontrava sentada no que parecia ser uma cadeira, mas não foi isso que chamou a sua atenção, e sim os seus braços arqueados para trás, fortemente pressionados por algo áspero e que prendia parcialmente a sua circulação sanguínea. Estava amarrada!

Quis gritar, contudo, no mesmo momento, recordou-se dos momentos antes de ter perdido os sentidos. Professor Victor Hugo estava morto em sua cama... Certamente, o assassino a havia capturado! Estava à mercê de Alan!

Confabulou no motivo de ele não ter dado cabo em sua vida logo, porém, também se recordou do que ela própria poderia representar para o seu algoz. Sem perceber, começou a hiperventilar em desespero.

Seu momento de agonia solitária não durou muito. Ouviu algo ranger não muito longe de si. Em seguida, passos calmos, os quais aparentavam estar descendo do que julgou ser uma escada, ecoaram pelo local. Aquela pessoa (Alan?) parou a sua breve caminhada e um clique foi o único som que, por um segundo, preencheu aquele ambiente.

Uma luz, que irritou os seus olhos, foi acesa. Quando finalmente se acostumou à claridade repentina, avistou uma figura, a qual conhecia muito bem, encarando-a com um sorriso macabro. Tão rápido veio a surpresa:

— Professor Victor Hugo!?

— Pensou que eu estava morto, não é mesmo? — ele rebateu como se estivesse falando algo casual.

— Eu... te vi naquela... cama...

— Ora, Maria Joana, não está óbvio que aquilo foi uma mera encenação?

— Tinha aquelas seringas e ampolas de morfi...

— Tsc tsc tsc... — Victor balançou a cabeça em negação. — Foi uma grande bola fora de sua parte ter vindo para cá apenas com aquele facão de cozinha, que já confisquei, além de não ter checado os meus sinais vitais... — suspirou em uma fingida postura de desapontamento. — Enfim, não posso julgá-la: não é uma estudante de Saúde, e sim de Letras.

Foi aí que um quebra-cabeça se formou na mente de Joana, que exclamou:

— Era você esse tempo todo! Foi você quem matou todas aquelas pessoas! Foi você quem matou até a minha...

— Agora você se mostrou a ótima aluna que conheço. Parabéns!

Se Joana estivesse com as mãos livres, teria se estapeado. Como fora injusta ao ter acusado Alan... E parecia que aquele louco tão próximo de si lia seus pensamentos:

— Eu confesso que achei que me descobririam. Sabe: as mortes com todas aquelas características, com destaque para as epígrafes de Noite na taverna, poderiam direcionar as suspeitas para mim, professor de Literatura. — Pausou e entoou uma gargalhada diabólica. — Mas foi você, Maria Joana, quem indiretamente acabou dando uma luz no fim do túnel quando começou a desconfiar do seu namoradinho... Ele foi o suspeito perfeito e, se tudo correr como o planejado, o assassino perfeito.

— Assassino perfeito?

O homem a considerou, esboçou mais um sorriso maquiavélico e respondeu:

— É aqui que vem a grande revelação: não atuei sozinho...

Entre Letras e Sangue (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora