Mais duas semanas se passaram. Após Maria Joana procurar o delegado Euclides, as investigações acerca das mortes ocorridas em Pedras Azuis reacenderam com força. Três eventos nortearam isso.
O primeiro deles, menos trabalhoso, foi a análise dos celulares de Joana e de Taís. Quem sabe, poderia ser achada alguma pista que levasse ao assassino. Para isso, um especialista em crimes cibernéticos ligado à polícia fora acionado e ele passou uma tarde inteira averiguando os aparelhos em questão.
No entanto, seu parecer não foi satisfatório. A mensagem enviada para Joana naquela madrugada contava com uma forma de criptografia avançada, de modo que era impossível realizar qualquer rastreio. Quanto ao que havia sido mandado para a mesma moça no dia da morte de sua amiga, constatou-se que o remetente era justamente o celular de Taís. Isso significava que ou o criminoso a obrigou a digitar tudo aquilo, ou ele próprio tomou o aparelho de quem acabou se tornando a sua vítima naqueles momentos tortuosos.
Diante dessas informações, Joana suspirou, desanimada. Já Euclides xingou:
— Porcaria de alta segurança que só dificulta o nosso trabalho!
Assim, o policial pediu encarecidamente para a jovem comunicar qualquer coisa relativa ao que viesse em seu aplicativo de mensagens.
Desde que se conheceram, a universitária e o delegado se falavam com frequência. Em questão de dias, ela soube um pouco a respeito do policial, especialmente que era um homem casado, sendo extremamente devoto à esposa, e que tinha uma filha em idade pré-vestibular.
Ele cumprira com o prometido e uma ronda começou a passar na região onde morava a estudante. E mais do que isso: nos momentos de decepção por causa dos (não) resultados daquelas buscas, Euclides se mostrou um ótimo ombro amigo.
Maria Joana, por sua vez, ajudava-o no que competia à leitura de Noite na taverna. De vez em quando, os dois ficavam conversando por horas a fio e confabulando sobre os próximos passos do assassino. Com isso, sem que percebessem, estava nascendo uma inusitada amizade.
E tal amizade se mostrou necessária, especialmente quando a notícia sobre o que aconteceu com Taís se espalhou. Como consequência, Joana meio que colheu os "louros da fama" por ser a colega de moradia da última vítima envolvida naquelas estranhas mortes. Havia quem a encarasse com pena. Havia quem dissesse ter dedo de uma amiga na morte da outra...
Além disso, ocorreu o segundo evento relacionado às investigações: a revista na casa de Alan. Euclides tinha garantido para Joana o sigilo, portanto, o rapaz jamais saberia que ela citara o nome dele para a polícia.
Entretanto, nova decepção: nada que pudesse incriminar Alan foi localizado.
Um lado de Joana – que ela não iria admitir – havia ficado feliz com a evidente possibilidade de ele ser inocente, mas outro mostrara-se desgostoso com o aparente desfecho daquela busca. Ela ainda bradava por justiça. Se tivesse que endurecer a sua alma para honrar a memória de Taís, não hesitaria com relação a isso.
E por falar na finada moça, as buscas pelo seu corpo desaparecido se configuraram como a terceira e última parte do trabalho policial. Para desespero de Joana, nem um átomo de Taís havia sido encontrado nos arredores do Pico Safira e do Rio Obitinga.
Com tanta coisa na cabeça, o humor da universitária estava horrível. Teria como piorar?
A resposta curta para essa pergunta é um singelo sim.
Já a longa consiste no que houve, do ponto de vista acadêmico, na vida dela.
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Entre Letras e Sangue (Livro I)
Misterio / SuspensoUma série de homicídios misteriosos começa a assolar a pacata cidade interiorana de Pedras Azuis. O assassino, cuja identidade é desconhecida, se mostra sagaz, audacioso e, principalmente, amedrontador com o seu modus operandi, que inclui vítimas se...