Estando o delegado Euclides naquele sobrado, não foi demorada a chegada do reforço policial e médico.
Alan, sendo a pessoa mais ferida fisicamente dali, foi prontamente socorrido e posto em uma ambulância. Isso foi visto por Maria Joana que, já fora da residência, cogitou acompanhar o rapaz. Contudo, foi impedida quando Euclides surgiu ao seu lado e cobriu o seu corpo com uma manta. Um meio sorriso brotou em seu rosto e ela se pôs a falar:
— Puxa! Nem sei como agradecer...
— Não tem que me agradecer nada, filha — ele respondeu, gentil —, como te disse assim que nos conhecemos: fui com a sua cara. É realmente uma garota corajosa e, graças a você, chegamos ao fim disso tudo.
O sorriso de Joana se alargou e ela retribuiu os elogios:
— Você me deu proteção nos últimos dias e, no caso de hoje, chegou na melhor hora possível. Eu estaria bem encrencada se tivessem me achado com dois corpos e uma pessoa ferida...
Novamente, ela teve um vislumbre de Alan, ainda posicionado na maca e aguardando a saída da ambulância. No mesmo instante, recordou-se de Taís e de Victor Hugo...
Seria mentira se afirmasse que já havia superado os dois e estivesse já tomada completamente pela revolta. Na verdade, encontrava-se confusa: as lembranças em torno deles, sobretudo em cima de quem considerou como amiga, ainda eram fortes, mas também já havia botado na cabeça que ao menos tentaria esquecê-los. Já era um começo... E olhar para aquela marca feita em sua mão só a fazia ter certeza de que não demoraria para isso acontecer.
— Que nada! — Euclides a tirou de seus devaneios. — Meu faro de policial saberia que você não era uma assassina...
Mais um sorriso foi esboçado pela moça. Em seguida, o delegado se aproximou e, quase em um sussurro, declarou:
— ... E meu faro como um homem experiente sabe que aquele é o cara.
Ele terminou fazendo um gesto indicativo na direção daquela ambulância, mais precisamente de onde Alan estava...
Joana corou com a insinuação e tentou argumentar:
— Ele... não é nada meu...
— Ainda, minha cara! Não é todo dia que um rapaz telefona para a polícia, nos provoca, dizendo que vai cometer um crime em um sobrado como esse... — Apontou para a referida casa. — ... e faz o delegado presenciar um ato de bravura de uma jovem destemida e com um relativo bom senso de dedução...
— Ele... fez isso? — indagou ela sem ocultar a surpresa e ignorando os novos elogios que lhe foram dados.
Euclides apenas curvou levemente os lábios de maneira sugestiva e rebateu:
— Se isso não é um gesto de alguém apaixonado, eu não sei o que é...
E ele foi se afastando, indo em direção a uma das viaturas estacionadas em frente à casa. Já um pouco ao longe, teve tempo de proferir:
— Ah! Se minha filha, que, como te contei, está em idade pré-vestibular, quiser cursar Letras, o pai dela aqui irá apoiá-la. Uma pessoa inspiradora ela certamente terá...
Mais uma vez, Joana empacou diante daquelas palavras. Um princípio de lágrimas ousou se formar em seus olhos, porém, não se concretizou, logo, não se derramou sobre a sua face, ainda mais com o que ouviu:
— Agora corre para o seu rapaz! Ele está te esperando!
Ela entoou uma breve gargalhada nasal e se pôs a andar apressadamente até Alan, não sem antes de acenar em despedida para Euclides. Em tão poucos dias, aquele homem a marcou, reconhecendo-a como a pessoa que era de verdade.
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Entre Letras e Sangue (Livro I)
Misterio / SuspensoUma série de homicídios misteriosos começa a assolar a pacata cidade interiorana de Pedras Azuis. O assassino, cuja identidade é desconhecida, se mostra sagaz, audacioso e, principalmente, amedrontador com o seu modus operandi, que inclui vítimas se...