Prólogo

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Talvez, se eu tivesse começado a contar essa parte da minha história no exato momento em que ela acontecia, ou quando eu imaginei que ela tinha chegado ao fim, eu daria início escrevendo sobre as causas e consequências do Capitalismo, sobre a necessidade humana de acumular dinheiro e como isso te leva a fazer coisas as quais jamais imaginou que faria. 

Contudo, pensar que, se não fosse por essa necessidade eu não estaria onde estou hoje, me dá fôlego para compartilhar esse fragmento da minha vida com vocês.

Eu não seria Miya Atsumu se não tivesse passado por isso, principalmente sendo tão jovem e inconsequente como era. Por isso, começo estes escritos pela lembrança que acredito ser o início de tudo.

Era meados de verão de 1978. O clima temperado assolava Tóquio com ares quentes, chovia constantemente e o cheiro de chuva pairava no ar mesmo quando a luz do sol era tão escaldante que queimava nossas peles. Estávamos em período de férias e eu desejava ter o poder de fazer com que elas durassem para sempre. 

Nunca fui uma pessoa que gostasse de estudar, era uma tarefa que demandava muito de mim. Quando sentava à mesa da escola para assistir às aulas, meus olhos se prendiam a qualquer outra coisa que me chamasse a atenção, e, bem, professores nunca foram muito atrativos. À vista disso, sempre tive dificuldades com disciplinas como História e Língua Japonesa. As exatas costumavam ser mais do meu agrado. Ainda hoje, o são. 

Meus professores me trocavam de lugar constantemente, mesmo quando o mapa de sala não era modificado. Também vivia de castigo, já que, embora não conversasse, não prestava atenção e era incapaz de responder às perguntas que me faziam. Sei que eles buscavam me ajudar, mas teria sido melhor se tivessem tentado descobrir o cerne do verdadeiro problema da minha falta de concentração.

Mesmo assim, como eu dizia, férias. Eram minhas últimas férias de verão antes de me formar do colégio e eu lembro delas perfeitamente. Contudo, não há motivos para descrições prolongadas. Ou melhor, simplesmente não há motivos para descrições. O que realmente interessa para esta história, é o fato de que, além de ter que voltar à escola, eu precisava de outro emprego, pois logo teria que sair do meu atual. Porém, apesar de todos esses pesadelos encarnados, algumas coisas me deixavam ansioso pelo início do segundo quadrimestre daquele ano letivo.

A despeito de ser alguém que não gosta de ter que ficar parado por muito tempo, a escola me dava a oportunidade de ver meus amigos, passar menos tempo em casa e de praticar no time de vôlei, que funcionava menos nas férias.

E, bem, mesmo que perdesse um emprego, eu poderia facilmente procurar outro, pensava. Não gosto de usar minha aparência para me beneficiar, mas a verdade é que, se não fosse meu rosto bem marcado e meu corpo jovem e cheio de vigor, eu provavelmente não teria conseguido muitos dos empregos que vinha tendo desde os meus quatorze anos. Esse era um dos menores dos meus problemas.

Já durante no início das férias eu vinha procurando um novo trabalho. Queria me adiantar e começar setembro com um emprego fixo, que durasse, no mínimo, seis meses. Este era o tempo que eu precisava até que me formasse no colégio e iniciasse meus estudos acadêmicos. 

Naquela época, deixar de ter graduação não era opção para aqueles que podiam arcar com as despesas de lutar por um diploma de ensino superior. Ainda mais quando o Japão estava no auge do crescimento.

Lembro-me perfeitamente de como meu pai chegou em casa do serviço, ansioso e suando, em uma das noites mais quentes daquele verão, dizendo que tinha encontrado uma oportunidade de trabalho para mim que pagava muito mais do que meus últimos serviços. Eu estava na sala descascando batatas com mamãe e Osamu. 

O início é aqui.

Peço desculpas por tamanha introdução, mas ela é necessária para que minha memória possa ser devidamente contada. 

Esta não é a história de como consegui meu último emprego antes da faculdade, sobre como ele durou seis meses ou um monólogo de um homem de 64 anos. É, muito menos, uma crítica ao sistema capitalista, apesar de acreditar que pudesse fazê-la com destreza. 

Esta é a história de como Kita Shinsuke fez com que seis meses virassem uma eternidade.


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NOTAS FINAIS: Olá! Como estão? 

Eu estou bem animado em começar a postar essa fic. A escrevi ano retrasado, com outro shipp, e não queria deixá-la guardada nos meus docs, pegando poeira. Ela é importante demais pra mim, mais do que qualquer outra que já escrevi e eu espero que vocês possam amá-la tanto quanto eu amo.

Como não quero perder tempo entre as postagens, o capítulo 1 já foi postado junto, legal, né?

Obrigado se leu até aqui e, principalmente, se decidiu ficar após esse prólogo. Nos vemos no próximo capítulo. 

Com carinho, Rony.

o tempo que (não) tivemos | atsukitaOnde histórias criam vida. Descubra agora