Capítulo 4

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Sophie bateu a porta com força quando passou por ela. Saiu pisando duro, com raiva de si mesma por deixar os sentimentos saírem assim, e com raiva de Luke por deixá-la tão estressada.

Entendia que ele ficasse chocado com a informação que ela dera, mas não dizer nada? Deixá-la no escuro com o seu silêncio mais uma vez? Ela não suportaria isso, não suportaria mais nada de ninguém.

Seus saltos faziam barulho na porcelana branca do corredor a cada passo seu, mas para onde ela poderia ir? Não podia voltar ao Grande Salão, para perto daquelas pessoas que a olhavam com pena, nem podia ir para o próprio quarto, já que Luke estava lá. Se fosse para os jardins, alguém a perturbaria, e ela queria ficar sozinha.

O palácio de Bevelly nunca parecera tão pequeno.

E então ela pensou na piscina, que era o seu refúgio particular desde a morte de Paggie. Ninguém ia lá, nem mesmo os soldados.

Ela tirou os sapatos de salto e foi para lá descalça. Ficou satisfeita quando a encontrou do jeito que imaginava, completamente vazia. Sentou na borda e mergulhou os pés na água morna. Adorava que a piscina tivesse aquecedor.

Os pensamentos vieram com tanta força que ela ficou fraca. Era sempre assim quando estava sozinha, cheio de barulho. Pensou em Paggie, sempre pensava em Paggie, e pensou na reação de Luke quando ela contou que dormiu com Miguel. Ele ficou paralisado e não disse nada.

Mas agora ela se questionava sobre o que se passava na cabeça dele. Se perguntava o que aconteceria com eles, o que aconteceria com ela. Se eles se separassem, Sophie iria morar em Pádua? Ela tinha ganhado o palácio de presente, então era seu. Mas e todas as lembranças ruins que o lugar a traria?

E não era apenas essa a questão que a deixava agitada, eram todas as outras. Sophie sentia uma angústia constante que a monopolizava, que fazia tudo não ter graça ou valer a pena. A verdade é que ela não se importava para onde ia ou o que faria, ainda sentia-se apática.

De repente, em meio a suas divagações, ela sentiu duas mãos em suas costas e estava caindo. Mergulhou com tudo dentro da piscina, sentindo o vestido se armar ao redor dela, e então emergiu, sem fôlego. Nem teve tempo de prender a respiração por causa do susto.

Na superfície, se preparou para xingar quem a empurrou, mas não havia ninguém. O lugar estava completamente vazio assim como quando ela chegou.

Sophie sentiu um frio na espinha.

- Mas que porra...? - ela gritou para o vazio.

***

Quando saiu da piscina, Sophie foi para o quarto e ficou feliz quando não encontrou Luke lá. Esperava que ele dormisse na própria suíte naquela noite. Não queria ficar imóvel, de costas para ele, com medo de se virar e pegá-lo acordado, olhando para ela. Não queria ver seus olhos acusadores ou indiferentes.

Ela se preparou para o jantar. Pôs mais uma de suas roupas pretas, um vestido de mangas, com a saia rodada e decote coração. Ambre, sua criada, prendeu o cabelo dela num coque simples e deixou algumas mechas de cabelos soltas sobre suas bochechas. Jane, sua outra criada, maquiou seu rosto usando apenas corretivo para disfarçar as olheiras arroxeadas e um pouco de pó. Quando ela terminou, Sophie olhou-se no espelho e ficou chocada com o que viu.

Ela se tornara uma sombra do que fora antes. Na aparência não era visível, quem via de fora podia até achá-la bonita, mas a tristeza em seus olhos era transparente como água.

Quando tempo levaria para se refazer? Ela se perguntava. Por quanto tempo ela se sentiria tão vazia?

- Alteza  - ela ouviu a voz conhecida de Ambre. Sentira falta dela e de Jane. - Como se sente hoje?

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