1 Aurora

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Desconfortável, era assim que Aurora se sentia ao entrar no salão de baile, com cada centímetro do seu tronco apertado dentro do justo corpete. Ela não entendia por que estava ali, nem por que sua mãe ainda a obrigava a se submeter ao ridículo de frequentar aqueles bailes. Afinal, já faziam anos desde que ela havia debutado, e no auge dos seus 25 anos nenhum dos rapazes da alta sociedade havia mostrado interesse em convidá-la para dançar ou até mesmo tentado lhe cortejar, exceto aqueles nos quais sua mãe praticamente a empurrava, deixando ambos em completo constrangimento e sem qualquer escapatória, fazendo com que a pobre Aurora tivesse que se desculpar mil vezes pelo ato da mãe casamenteira.

Não é que Aurora não quisesse viver um romance, muito pelo contrário, ela adoraria viver um romance como os que costumava ler. Mas definitivamente as garotas das páginas dos livros não tinham nada em comum com ela, e esse era o motivo pelo qual Aurora sabia que não deveria se iludir com ideias vazias de um amor que claramente não existia, pelo menos não para ela. Não que ela se considerasse uma mulher completamente horrorosa, claro que não! a filha do barão vivia em paz com seus cabelos escuros e achava seu rosto até que agradável carregando o par belo de olhos verdes, mas todo problema mesmo se encontrava do seu busto para baixo. Já havia perdido as contas de quantas vezes ouvia pessoas do seu convívio dizer coisas do tipo: "Nossa, como você é bonita de rosto, uma pena que seja assim". E é claro que Aurora apenas sorria fingindo que aquele era o melhor elogio que havia recebido e arrumava uma desculpa qualquer para cortar o assunto e poder sair dali.

Eram esses pequenos e irritantes momentos que faziam não só Leila, sua mãe, pedir à modista que apertasse o máximo que podia seu corpete, mas também que a herdeira da família Crawford fosse uma das trágicas e pobres moças que ficavam de canto nos salões de baile, apenas observando as outras dançarem a noite toda com ótimos pretendentes. Aurora já havia aceitado seu destino de solteirona, e isso já nem era mais uma preocupação para ela, já que isso era melhor do que continuar se iludindo à espera de um simples convite espontâneo para dançar, que nunca chegou, pelo menos não antes  daquela noite.

Sem Medo de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora