08 • Desejos Pútridos

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Estou me sentindo imersa em um abismo de desamparo, uma vastidão desconhecida de medos constantes

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Estou me sentindo imersa em um abismo de desamparo, uma vastidão desconhecida de medos constantes. Cada tentativa minha parece fadada a ser meramente uma peça no intricado quebra-cabeça do meu destino, uma trilha sem saída esculpida pelas mãos do meu maior algoz, o dono de todo o meu desespero. Hoje, essa sensação se torna mais vívida do que nunca, enquanto vozes desconhecidas me bombardeiam com um mar de detalhes sobre uma festa de casamento da qual desejo desesperadamente em meu íntimo escapar.

Tantos adornos e enfeites alinhados e belos, cores claras com uma pureza indescritível que jamais deveriam fazer parte da minha relação doentia com o homem que pagará por elas. Fico por alguns minutos observando uma foto de um buque de lírios negros que chamam a minha atenção.

— Quero esse! — Afirmo para as cinco loiras que desde que chegaram fizeram questão de sentar o mais longe possível de mim, sentindo que nada como ele para representar o luto eterno que estou fadada a viver. Os cinco pares de olhos se arregalam com meu pedido, e a responsável de nome Micaela abre a boca para me responder. Sua voz arrastada e irritante.

— São lírios negros, representam o luto, não são flores para o casamento, podemos usar rosas, são muito mais alegres e significativas...

— Quero esse! — Afirmei com raiva, uma raiva que estava na borda da minha alma começando a pingar para fora, e eu temia que ela extravasasse e eu perdesse novamente o controle. Olho nos olhos extremamente azuis da mulher que está com a boca semiaberta, claramente sem acreditar na forma como a contesto. — O casamento é meu, e pelo visto tudo já foi previamente escolhido, não me importo com nada disso, podem manter o que desejarem, mas essa parte eu faço questão de escolher e será esse. — Falo firme o suficiente para ela ficar incrédula.

— Ficará horrível — falou dura, trincando os dentes — assim como esses cabelos cheios e crespos que você tem ficarão horrorosos sem uma bela escova que você se recusa a fazer. Nero nos mandou te deixar divina para a cerimônia, mesmo que isso seja uma tarefa quase impossível considerando o tom da sua pele e a textura do seu cabelo, ainda assim estamos dedicadas a fazer o melhor com o que temos e isso só acontecerá se você seguir nossas orientações.

Se fosse um tempo atrás eu choraria pela ofensa, mas eu já estava cansada de ser humilhada. Eu não posso lutar contra Nero, e já aceitei que estou aprisionada a ele, mas isso não quer dizer que outras pessoas possam se dar o direito de achar que podem me menosprezar ou me humilhar. Eu sou a senhora dessa casa, foi o que Nero repetiu por semanas desde o nosso jantar.

"Você é a senhora dessa casa agora, a Sra. De Lucca, assuma seu lugar e suas novas obrigações"

A lembrança inundou meu cérebro como se a ordem houvesse sido feita nesse exato segundo. Se esse é o meu lugar, então irei assumi-lo. Meus olhos foram para o dedo apontado na minha cara e antes mesmo que ela piscasse meus dentes o agarraram com tanta força que o grito dado pela mulher foi estrondoso. A senti puxar com força conseguindo escapar, mas parte da carne ficou dentro da minha boca, enquanto sangue fluía de seu dedo e ela gritava em desespero.

Conto Dark: ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora