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Cassian mal conseguia ouvir acima do rugido em sua cabeça conforme avançava em um voo vertiginoso para as montanhas.
O vento era como tambores ao redor de Cassian; a temperatura estava fria o bastante para que seus olhos se enchessem de lágrimas. Mas quem dera que aquele fosse um dos motivos.
Ele voou mais alto, então desviou para a esquerda, mirando os picos para longe de qualquer acampamento.
Cassian conseguia se proteger com os Sifões, já fizera isso antes. Mas naquele momento queria, precisava, do frio cortante.
Conheceria o caminho até vendado, apenas ouvindo o vento entre as montanhas, inalando o cheiro dos picos encrustados de pinheiros abaixo, os campos rochosos estéreis.
Era raro que Cassian fizesse aquele caminho. Em geral só a fazia quando seu temperamento estava prestes a explodir... E pela Mãe, como queria explodir.
Já havia se passado quase dez meses depois da guerra. Como ele não havia visto? Como podia ter deixado de ver o que havia acontecido com Arya? Como seu Parceiro... Como não havia lhe protegido daquele horror?
Ao longe, silhuetas escuras disparavam pelo céu. Guerreiros patrulhando.
Ele cortou para o norte, tirando o pensamento da mente. No horizonte, uma forma familiar se tornou nítida, ficando maior a cada batida de asas.
Ramiel.
A montanha sagrada. O coração não apenas de Illyria, mas de toda a Corte Noturna. Ninguém era permitido naquelas encostas estéreis e rochosas — exceto os illyrianos e, ainda assim, apenas uma vez por ano. Durante o Rito de Sangue.
Com tanto poder não sendo contido pelos sete Sifões, se esvaziando como se uma barragem tosca de cipós segurasse o próprio mar, era óbvio que chamaria atenção de Rhys.
Cassian não conseguia pensar sobre todo o ódio que sentia. De um Rei que morrera rápido demais... De si próprio.
Quem inferno chutou suas bolas?
Observou o mundo que passava por instinto, mais que por interesse, pois os olhos estavam voltados para dentro — na direção dos olhos azul-dourado vítreos de Arya ao lhe dizer aquelas duas palavras que confirmavam suas suspeitas: Hybern. O Rei.
Foi impossível que Rhys não visse o que aconteceu. Não entrasse pela porta escancarada que era os escudos mentais de Cassian.
