Quando Ryan ouvira a ideia do elfo Jord, não achou que ele estaria falando sério. Viajar até Fernando de Noronha? Isso levaria séculos. Ainda mais que Ryan não permanecia dragão por todo um dia, então não teriam como viajar quando o sol estivesse disposto. Mas ao que parece, Jord tinha outros planos. Algo que os faria viajar dia e noite sem ter de parar por causa da transformação de Ryan.
- Mas como isso é possível? – perguntou Ryan, ao amanhecer, quando voltou a ser um jovem adolescente.
- Eu lhe explico – afirmou Jord.
Agora, eles estavam na praia, na beira-mar. Jord havia insistido tanto para Ryan o levar até lá antes de voltar ao normal, que Ryan assentiu, e levou o elfo até a praia. Dizia ele que esta era uma parte do plano, apesar de Ryan estar um pouco inseguro com tudo isso.
- E agora, o que vamos fazer? Ficar olhando para o mar? – indagou Ryan, impaciente por não estar acreditando que o elfo havia o trazido até ali para ficar apenas admirando as águas do mar.
- Não, aguarde só mais um momento... - Jord estava olhando para o nada, como se estivesse se comunicando telepaticamente com algum outro ser.
Ryan estava impaciente, com vontade de voltar para casa. A aula daquele dia já estava perdida, então pelo menos gostaria de curtir um pouco com os irmãos – algo que não fazia a tempo.
Subitamente, uma explosão de água em meio ao mar faz a água ser lançada a uns seis metros de altura. E do meio dessa explosão surge o que parecia ser um navio. Ryan ficou de queixo caído. Como aquilo poderia ser possível? Ele olhou para Jord, que estava sorridente com mais um de seus feitos extraordinários.
- Viu? Eu te disse – ele comentou.
- Mas... mas... Isso é um navio? – Ryan parecia perplexo demais para processar a ideia de que um navio surgira do meio do mar.
O navio era de grande porte, marrom-escuro, envelhecido pelo tempo. Havia uma grande quantidade de crustáceos e plâncton preso ao casco do navio. Na proa havia uma imensa cabeça de dragão, que assustou Ryan. E a bordo deste, estava uma pequena garota... Não, uma elfo ou uma náiade. Ryan não saberia diferenciar.
- Vamos? – convidou Jord.
- Hã?
De repente todo o mar parou de se mover, parecendo uma lagoa. As águas formaram o que parecia ser uma ponte. Jord começou a andar sobre ela, sem desmanchá-la embaixo de seus pés. Ryan fez o mesmo, cauteloso, seguindo até o navio, logo subindo por uma escada de corda jogada pela garota. Ele estava estupefato.
- Sejam bem-vindos ao navio Crustáceo – cumprimentou a garota, que Ryan concluiu ser uma elfo. Ela era linda; tinha olhos azuis, e longos cabelos dourados, que brilhavam tanto quanto o sol. Ryan percebeu que a pele clara dela, em certas partes, tinha uma coloração um pouco azulada.
- Ahn... Da onde surgiu este navio? – quis saber Ryan, curioso.
A elfo se aproximou dele.
- Bem, este é um dos últimos navios construídos pelos vikings, conhecido como dracar. Este foi uma das embarcações que foram resgatadas por nós, elfos marinhos. Sendo assim, os deuses permitiram que nós tomássemos conta dele. Podendo fazer algumas viagens a alguns amigos, certo Jord?
- Certo, Vand – concordou o elfo Jord. - Ah, Vand, antes que eu me esqueça, este rapaz é o Ryan, ele está precisando muito da nossa ajuda.
- Prazer em conhecê-lo, Ryan. Eu sou Vand, uma das centenas de elfos habitantes das águas oceânicas.
Ryan assentiu.
- Prazer em conhecê-la, Vand.
Após as apresentações, Jord explicou a Vand qual era a situação de Ryan. Ele disse que era de total importância para o rapaz voltar a se tornar um humano normal. Ryan também relatou como era sua experiência ao se tornar um dragão. Ele contou que muitas vezes tinha medo de si mesmo.
Vand pareceu comovida. Ela foi até a mureta do bombordo e pareceu cantar. Era uma melodia calma e serena, que fez Ryan se sentir calmo. Vand parou com a cantoria e olhou para os novos tripulantes do navio.
- Vocês estão prontos para partir? – ela indagou.
- Quando você disse que nós íamos para Fernando de Noronha, você não estava falando sério, estava Jord? – perguntou Ryan, ignorando a pergunta de Vand.
Jord pareceu meio tímido ao responder.
- Na verdade não, eu não estava brincando. Falei muito sério – respondeu o elfo.
- Mas e como fica minha família? E a escola?
- Desculpe Ryan, mas você me disse que gostaria de voltar ao normal, não disse? Então, eu estou lhe oferecendo uma oportunidade.
Ryan hesitou. Jord estava certo.
- Está bem, Jord, vamos seguir. Eu aceito sua oportunidade.
- Ótimo! – O elfo Jord se voltou para Vand, que ainda estava de pé olhando para os dois. – Vand, pode dar a partida, por que o navio Crustáceo seguirá viagem.
Vand assentiu. Ela bateu palma duas vezes, e de repente a embarcação começou a se mover em direção ao norte. Agora o navio estava seguindo para uma ilha no outro extremo do Brasil. Ryan só esperava que tudo desse certo, caso contrário todo seu tempo seria perdido por nada.
Após uns dois dias de viagem, por águas até então desconhecidas por Ryan, este fez algumas perguntas para Vand, após voltar a ser humano – já que passara como em todas as noites anteriores de sua vida, na forma de um dragão.
- Como este navio se movimenta sozinho? – perguntou ele.
Vand, que estava no convés principal, respondeu:
- É a magia das ondinas, rapaz. As ondinas trabalham em equipe, assim movimentamos a água ao nosso redor, no caso, em volta do navio, fazendo-o se movimentar. É muito simples. Elas adoram viajar ao redor dos navios.
Ondinas são espíritos em forma de mulheres, que vivem no mar e têm o poder de reger as ondas marinhas. Normalmente possuem cabelos loiros e pele clara. E são sempre acompanhadas por animais marinhos, como os golfinhos.
- Mas onde as ondinas estão?
- Na água. Elas não gostam muito de tripulantes humanos – explicou a elfo.
- Hum... Entendi.
Os dias prosseguiram, e em todos os finais de tarde acontecia. Ryan se via como um dragão, tendo de voar por um bom tempo ao lado do navio Crustáceo, já que mal cabia no convés.
Certa vez Vand e as ondinas tiveram que distanciar a embarcação do continente, já que do litoral seria possível avistar o dragão Ryan. Ryan não gostou nada disso, já que por sua causa tiveram de ficar um pouco mais longe das belezas litorâneas que avistavam.
Já fazia alguns dias que estavam navegando, e quando Ryan menos esperou, uma ilha podia ser vista. Era Fernando de Noronha que os esperava.
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Ryan e a Pedra-Dragão (Conto)
FantasiUm conto fantástico, com base em elementos da mitologia nórdica.