Beijo embaixo d'água

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O fato é que, depois daquele dia, Satoru planejou voltar para a praia, em busca de se encontrar com Suguru. Porém, o pai dele, chamado Satoshi, estava irritado mais uma vez. Ele gritou com o filho, estava bêbado e jogou um copo de vidro em direção a Satoru, que por sorte não o atingiu, mas se espatifou contra a parede e cacos de vidro voaram por todos os lados.

Parado no mesmo lugar, Satoru olhou para os fragmentos de vidro no chão. Mesmo com as ameaças de seu pai, Satoru retornou para o quarto e se trancou naquele lugar, mas não demorou para que o homem subisse as escadas e começasse a bater na madeira da porta, pedindo para entrar. No entanto, Satoru continuou deitado na cama, enquanto ouvia os gritos daquele homem.

Tudo se tornou pior quando a mãe de Satoru morreu, depois disso, o pai começou a beber e perder a cabeça. Mas não era como se ele se importasse muito com a esposa naquela época, pois estava sempre no barco em alto mar e demorava para voltar para casa. Na cabeça dele, era cômodo pensar que tinham pessoas esperando por ele quando retornasse para casa, mesmo que nunca tenha se esforçado para cuidar da família que tanto dizia amar. Agora ele cuidava muito menos.

De qualquer forma, Satoru só voltou a sair de casa dois dias depois, quando teve que voltar para a faculdade. É claro que o pai dele disse que iria buscá-lo depois da aula e, quando Satoru entrou no carro, ouviu o homem xingá-lo durante todo o percurso. A voz de Satoshi entrava dentro de sua cabeça, era alta e repleta de agressividade. Satoru não suportava mais essa situação, então aproveitou que o carro estava parado no sinaleiro e abriu a porta, correndo com a mochila em suas costas.

Satoru não sabia para onde estava indo, mas percebeu que parou de se mover quando retornou para a praia onde encontrou Suguru. Por não ter ido encontrá-lo como prometeu, o albino pensou que nunca mais iria ver aquela criatura novamente. Seja como for, Satoru retirou os sapatos e jogou a mochila na areia, como sempre, não tinha ninguém por perto. Em seguida, ele afundou as pernas na água, o cobrindo até a cintura, e caminhou até algumas rochas, onde se sentou.

Olhando para a imensidão do mar, Satoru percebeu que o sol estava oculto por nuvens, mas o clima era agradável. Porém, os seus pensamentos estavam em outro lugar, ele não conseguia deixar de pensar no quanto o seu pai o odiava, ele nunca foi presente em sua vida e agora simplesmente o tratava com violência. Por mais que Satoru se esforçasse em ser um bom filho, era como se isso não tivesse qualquer valor.

Com uma expressão amarga em sua face, Satoru sentiu uma lágrima escorrer na bochecha. Depois da primeira, outra surgiu. Ele mordeu o lábio inferior, ouvindo o som das águas do mar. Foi então que, de forma inesperada, sentiu a presença de mais alguém.

— Você está bem, Satoru? — disse Suguru.

O moreno surgiu entre as águas, seu corpo oculto no mar e o rosto erguido em direção a Satoru. Sentado naquelas rochas, o albino imediatamente sentiu as bochechas enrubescerem por estar chorando, e rapidamente enxugou o rosto com as mãos. Como se Suguru trouxesse vida de volta para ele, Satoru voltou a sorrir.

— Desculpe, eu tive alguns problemas com o meu pai — respondeu. — Pensei que nunca mais iria ver você.

Suguru sorriu e se aproximou um pouco mais. Ele havia percebido que aquele humano estava chorando e que isso significava que ele estava triste. Por isso, Suguru se sentia motivado em deixá-lo melhor.

— Eu tenho um presente para você.

Antes que Satoru pudesse responder, Suguru mergulhou e desapareceu. De forma curiosa, Satoru olhou para as águas, até que o moreno voltasse a surgir.

— Essa concha me lembra a cor dos seus olhos.

Suguru mostrou a palma de sua mão e Satoru aceitou o que foi oferecido. Era uma pequena concha azulada, tão simples, mas o deixou imensamente feliz.

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